22 Janeiro 2025
Veterano de negociações ambientais, embaixador comandará a COP de Belém com o desafio de superar impasses políticos e ampliar a ambição climática dos países.
A informação é publicada por ClimaInfo, 22-01-2025.
Depois de uma novela desnecessariamente longa, o Palácio do Planalto confirmou nesta 3ª feira (21/1) a indicação do embaixador André Corrêa do Lago para a presidência da COP30. O diplomata ficará responsável por liderar as negociações climáticas da ONU na próxima conferência, programada para acontecer em Belém (PA) em novembro.
Corrêa do Lago é um veterano das negociações internacionais sobre meio ambiente, tendo sido negociador-chefe do Brasil na Rio+20 em 2012. Foi embaixador na Índia (2019-2023) e no Japão (2013-2018) e serviu na missão brasileira junto à União Europeia em Bruxelas (2005-2008) e nas embaixadas de Buenos Aires (1999-2001), Washington (1996-1999), Praga (1988-1991) e Madri (1986-1988). Desde 2023, ele é secretário de clima, energia e meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores.
A indicação de Corrêa do Lago já era esperada desde o final de 2024, mas o martelo demorou a ser batido. A expectativa inicial era de que essa definição acontecesse antes da última COP29, que ocorreu em novembro passado em Baku (Azerbaijão), mas impasses dentro do próprio governo atrasaram a decisão. Agora, caberá ao novo presidente da COP30 correr atrás do tempo perdido e avançar na definição da agenda de negociação de Belém.
Além da presidência da COP, o governo confirmou que Ana Toni, secretária nacional de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, atuará como diretora-executiva (CEO) da Conferência de Belém. No cargo, ela será responsável pela coordenação das atividades da presidência da COP e pela gestão dos processos de negociação.
“[A indicação] é uma honra imensa, e acredito que o Brasil pode ter um papel incrível nessa COP”, comentou Corrêa do Lago durante coletiva de imprensa ao lado da ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima). “Com a ajuda [de todos], vamos fazer uma COP que será lembrada com entusiasmo”.
Em nota, o Observatório do Clima (OC) celebrou a indicação de André Corrêa do Lago e Ana Toni para o comando da COP30, destacando suas credenciais técnicas e políticas e os desafios que precisarão ser enfrentados pela dupla nos próximos meses. “Caberá [a eles], em simbiose com a ‘dona’ da agenda, a ministra Marina Silva, navegar a tormenta geopolítica e ao mesmo tempo desviar dos icebergs domésticos”, assinalou.
O atraso na definição da presidência da COP30 também foi lembrado pelo OC. “A própria demora de Lula em fechar o nome sinaliza menos consenso no Planalto sobre a relevância do evento do que pareceu em 2022, quando o presidente mostrou disposição de preencher o vácuo de liderança climática global no clima. E cria uma pressão adicional de tempo para a montagem da agenda e a costura entre os países”.
A definição do comando da COP30 teve grande repercussão na imprensa, com matérias em CNN Brasil, Estadão, Folha, g1, Metrópoles, O Globo, Pará Terra Boa, Poder360, Reuters, FT, Climate Home, UOL, Valor e VEJA, entre outros.
Vale a pena ler o artigo de Daniela Chiaretti no Valor sobre os pepinos que a dupla André Corrêa do Lago e Ana Toni precisarão descascar na COP30. Além dos desafios logísticos de Belém, a próxima Conferência carece de um “tema principal” para sua agenda de negociação. No discurso, o governo federal tenta vender a COP30 como a “COP da Ação”, como um contraste com as COPs anteriores, focadas em promessas. Mas, na prática, esse rótulo é mais frágil do que se imagina, especialmente pelos problemas políticos que Belém herdará das últimas COPs.