10 Setembro 2025
Uma multidão se reuniu para apoiar os militantes, que não se intimidaram com o que acreditaram ser um ataque de drone, provavelmente israelense.
A informação é de por Leonardo Martinelli, publicada por La Repubblica, 09-09-2025
Ontem, era uma noite abafada e estrelada no porto de Sidi Bou Said, a vila azul e branca com um toque grego, na periferia norte de Túnis. Miguel Duarte, um português de 33 anos, estava no cais imediatamente atrás do navio, onde viaja com outros cinco militantes, com destino a Gaza. O barco, batizado de "Family Boat", faz parte da Flotilha Global Sumud. À meia-noite, porém, disse ele ao La Repubblica, "o inferno se instalou".
O herói do dia
Aqui está Miguel na manhã seguinte, nos degraus do Teatro Municipal, no centro de Túnis, na Avenida Bourguiba, que por aqui é o ponto de saída para toda a raiva e protesto. Ele está cercado por uma multidão mista de ativistas de todas as nacionalidades, participantes da expedição, e tunisianos de todas as classes sociais (muitos deles pessoas comuns, envoltos em keffiyehs esvoaçantes). Miguel, agora o herói do dia, está atordoado, um pouco perdido. Ele conta ao nosso jornal: “Eu estava no cais do pequeno porto, atrás do barco. Primeiro ouvi o drone, depois o vi com meus próprios olhos. Estava três ou quatro metros acima da minha cabeça. Nesse momento, gritei e chamei os outros tripulantes. Ficamos ali por alguns instantes observando o drone, que lançou um dispositivo. Ele atingiu o barco e houve uma grande explosão: um incêndio começou. Felizmente, conseguimos apagá-lo imediatamente com extintores de incêndio; os danos foram mínimos no geral.” Agora, eles empurram Miguel para o centro da multidão: ele conta o que aconteceu em um microfone. Os transeuntes o aplaudem. Ele é o herói do dia. Miguel já viajou no Sea Watch, resgatando migrantes em perigo enquanto cruzavam o mar entre a Tunísia e Lampedusa. Defender os "direitos dos migrantes" é a sua vida.
La FLOTILLA con ayuda a GAZA recibe un nuevo ataque con DRON contra uno ... https://t.co/9VFKQkUbiK via @YouTube
— IHU (@_ihu) September 10, 2025
Todos aqui estão convencidos de que o drone era israelense. E ninguém parece intimidado, pelo contrário. Jassen Henchiri, engenheiro natural de Gaza e residente na Tunísia, é outro ativista: "Ninguém pode nos impedir de mudar de destino. Nossa vontade é ainda mais forte e estamos ainda mais determinados a romper o bloqueio em torno de Gaza." Saif Abukeshek, ativista palestino radicado em Barcelona: "Eles mostraram sua verdadeira face. Ninguém nos impedirá." E Nader Naouri, um dos principais organizadores da Flotilha, confirma: "Partiremos de Túnis amanhã, como planejado." Sim, quarta-feira, normalmente às 16h, horário local. Ainda não está claro quantos barcos partirão de Sidi Bou Said, talvez cerca de vinte, incluindo os que chegam de Barcelona, como o "Family Boat", que chegou aqui na noite de domingo. Outros partiram nos últimos dias de Gênova e Catânia. Vale ressaltar: a ativista Greta Thunberg não estava hospedada no Family Boat, como mencionado anteriormente. De qualquer forma, ela está em Sidi Bou Said, pronta para zarpar também.
A versão da Guarda Nacional da Tunísia
Enquanto isso, as autoridades tunisinas iniciaram uma investigação sobre o incidente. No entanto, o resultado imediato do suposto ataque teve como objetivo claro acalmar a situação. A Guarda Nacional Tunisiana anunciou que "nenhum drone foi detectado" e que "o incêndio parece ter começado com uma bituca de cigarro". No entanto, além das declarações de Miguel, a principal testemunha ocular, muitos vídeos postados nas redes sociais (inclusive de câmeras de segurança portuária) mostram o impacto de um objeto voador luminoso que se chocou contra o navio. "Se for confirmado que foi um ataque de drone", disse Francesca Albanese, Relatora Especial da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, que correu para o local durante a noite, "então seria um ataque contra a Tunísia e a soberania tunisiana".
La Flotilla promete continuar con su misión tras el ataque: “El pueblo palestino - https://t.co/aiiTHxlGJ5 via @eldiarioes
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O embaraço do presidente Saied
O presidente Kais Saied pareceu constrangido com o caso desde o início. Ele, um homem de ideologia pan-árabe que se manifestou repetidamente em defesa da causa palestina, não pronunciou uma palavra a favor desses militantes, que se reúnem há vários dias no porto de Sidi Bou Said, a poucas centenas de metros em linha reta de seu palácio, com vista para os penhascos de Cartago. Usado pelo presidente para desviar a atenção da população, de outra forma absorvida por uma grave crise econômica e social, e como uma válvula de escape para a frustração (também devido à incompetência de seu regime, tomado por uma deriva autoritária), espera-se agora que Saied se manifeste de forma contundente e explícita contra Israel. Veremos se ele terá a coragem de fazê-lo, em um país onde o apoio a Gaza, talvez apenas visceral e carente de raciocínio político e racional, mas ainda assim altamente emocional, atinge todos os segmentos da população: não há casamento ou celebração de qualquer tipo em que a bandeira palestina não seja agitada implacavelmente.
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