29 Abril 2025
“O programa dos conservadores já está escrito: cancelar as mudanças de Francisco.
A informação é de Giacomo Galeazzi, publicado por “La Stampa”, 28-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Da comunhão aos divorciados recasados à sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja. Da bênção dos casais homossexuais às tentativas fracassadas de reforma financeira. Do acordo com Pequim sobre a nomeação de bispos à arbitrariedade na aplicação das normas”, observa Gian Franco Svidercoschi, ex-vice-diretor do L'Osservatore Romano.
O amigo e colaborador próximo de João Paulo II cita “a aposta numa comissão-doações para sanar o orçamento, a nomeação de uma freira como presidente da comissão para a Cidade do Vaticano, apesar do fato de que, por lei, caberia a um cardeal, o Sínodo prorrogado há um mês até 2028”. Dos 135 conclavistas, 108 foram nomeados por Bergoglio, 22 por Ratzinger e 5 por Wojtyla. “Mas isso não significa que os conservadores tenham poucos votos”, ressalta Svidercoschi. “Francisco desestruturou regras e costumes da instituição eclesiástica. Atribuiu título de cardeal a representações de terras distantes, mas na Capela Sistina o jogo começa do zero a zero. A Fiducia supplicans, abrindo as portas das bênçãos para todos, inclusive para os casais homossexuais, provocou a reação de cardeais e episcopados inteiros”. Portanto, “Péter Erdő não é um reacionário isolado. O campo conservador é coeso. O progressista é numericamente mais consistente, mas dividido”.
As congregações gerais serão retomadas nesta manhã. Enquanto isso, nos bastidores, o Opus Dei, que não tem conclavistas, mas leigos na máquina administrativa, realiza uma discreta “persuasão moral” para pressionar pela recuperação financeira: na mira estão a Spe, a Apsa, o governo da Cidade do Vaticano.
Aos problemas materiais se somam os problemas doutrinários. Os conservadores contestam a gestão de Bergoglio por “confusão teológica e pastoral”, começando pela distinção entre bênçãos rituais e litúrgicas, como é o caso do matrimônio, e as bênçãos “espontâneas”, mais parecidas a gestos da devoção popular e, portanto, “aplicáveis” também a casais irregulares, ou seja, àqueles que não vivem de acordo com as normas da moral cristã, mas pedem para ser abençoados.
Os conservadores (em primeiro lugar Müller, Burke, Sarah, Erdő, Besungu), com o ativismo extraconclave de Becciu, denunciam a relativização da doutrina. E seu estrategista, Camillo Ruini (braço direito de Wojtyla e grande eleitor de Ratzinger) delineia a estratégia para uma Igreja “doutrinariamente segura, governada pelo estado de direito, unida internamente”. Para os conclavistas, o ex-presidente da Conferência Episcopal Italiana escreve: “A fé é uma chama que ameaça se extinguir. O que é necessário é a capacidade de responder de maneira cristã aos desafios intelectuais, a certeza da verdade e a segurança da doutrina. Se eles enfraquecerem, todos nós acabamos sendo penalizados”.
Ruini lembra “o estilo de governo e o recurso ao direito” com a consciência de que “a Igreja tem suas próprias regras, que ninguém pode ignorar impunemente”. Um perfil que se encaixa perfeitamente a um conservador atento à dimensão social como Giuseppe Betori, carta secreta da frente conservadora. O ex-secretário-geral da CEI e arcebispo de Florença entrou publicamente em conflito com Francisco e agrega consensos entre aqueles que defendem a descontinuidade com o pontificado recém-terminado. Bergoglio abandonou a Conferência Eclesial de Florença porque Minniti também havia sido convidado, enquanto sobre a questão dos campos de detenção na Líbia a linha papal era diametralmente oposta.
Betori repreendeu o papa por sua ausência na reunião episcopal, e Francisco respondeu com irritação que a questão estava encerrada. Para a facção conservadora, o rompimento com a temporada bergogliana é uma bandeira sob a qual convergir e medir sua força no conclave. Betori considera Bento XVI “uma testemunha da verdade, um mestre da fé, um pastor humilde de temperamento manso e gentil, atencioso com todos, um servidor da Igreja no exercício fiel do ministério petrino até o gesto inovador da renúncia”.
Enquanto aguardamos conhecer hoje a data de início do conclave, manobras estão em andamento em todos os níveis. “Teremos que esclarecer pouco a pouco nossas ideias à medida que avançamos”, explica o Cardeal Angelo De Donatis. “Se Parolin não obtiver imediatamente um grande número de votos, entrarão em jogo 'figuras-ponte' como Semeraro, que, como prefeito das Causas dos Santos, tem relações com cardeais de todo o mundo”, explica um prelado do serviço diplomático da Santa Sé. “Um conclave tão diversificado é uma riqueza para a Igreja. Deus não é para um grupo, é para todos. A divisão entre conservadores e progressistas? Estamos sempre em movimento, os homens não se classificam. O homem é capaz de mudar, o mundo inteiro está se movendo, e a Igreja deve interpretar essa transição”, observa o cardeal africano Jean Zerbo.
Para seu coirmão de Bagdá, Raphael Luis Sako, “a diversidade entre nós é uma riqueza, escolheremos o Papa certo para este tempo: pai, pastor e catequista. Não há mais valores. Os cristãos do Oriente correm o risco de êxodo, a indiferença na Europa é terrível. A fé deve ser ensinada”.