14 Mai 2024
O encontro de Francisco com os participantes da iniciativa da Fundação Fratelli Tutti: “Não aprendemos a simples arte de viver juntos como irmãos".
A reportagem é de Carlo Marroni, publicada por Il Sole 24 Ore, 12-05-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa lança o apelo: “Num planeta em chamas, vocês se reuniram com a intenção de reafirmar o seu ‘não’ à guerra e ‘sim’ à paz, testemunhando a humanidade que nos une e nos faz reconhecer como irmãos, no dom recíproco das respectivas diferenças culturais”. Ontem Bergoglio recebeu em audiência os participantes do Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana organizado pela Fundação Fratelli tutti, um evento que aborda a dramaticidade dos tempos atuais, abalados por guerras: “Lembro-me – disse Francisco - das palavras de um famoso discurso de Martin Luther King, quando disse: ‘Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos a simples arte de viver juntos como irmãos’ (Discurso por ocasião da entrega do Prêmio Nobel da Paz, 11 de dezembro de 1964, ndr). Sim, é exatamente isso. E então nos perguntamos: como podemos, concretamente, voltar a fazer crescer a arte de uma convivência que seja realente humana?”. E acrescenta: “Gostaria de retomar a atitude-chave proposta em Fratelli tutti: a compaixão.
No Evangelho de Lucas, Jesus conta a história de um samaritano que, movido pela compaixão, se aproxima de um judeu que os assaltantes deixaram meio morto na beira da estrada. Vejamos esses dois homens. Suas culturas eram inimigas, suas histórias diferentes e conflitantes, mas um se torna irmão do outro quando se deixa guiar pela compaixão que sente por ele - poderíamos dizer: se deixa atrair por Jesus presente naquele estranho ferido. Como diz um poeta, em uma de suas obras, a São Francisco de Assis: “O Senhor está onde estão os teus irmãos” (É. LECLERC, Sabedoria dum pobre)".
Na base do Encontro Mundial sobre a fraternidade humana estão – através da Fundação Fratelli tutti, presidida pelo Cardeal Mauro Gambetti - os princípios enunciados na Encíclica, “para despertar em torno da Basílica de São Pedro e no abraço da sua colunata, iniciativas ligadas à espiritualidade, à arte, à formação e ao diálogo com o mundo."
O Papa acrescenta: “A guerra é um engano, assim como a ideia de uma segurança internacional baseada na dissuasão do medo. Para garantir uma paz duradoura, precisamos de voltar a reconhecer-nos na humanidade comum e colocar a fraternidade no centro da vida dos povos. Só assim conseguiremos desenvolver um modelo de convivência capaz de dar um futuro à família humana. A paz política precisa da paz dos corações, para que as pessoas se encontrem na confiança de que a vida sempre vence todas as formas de morte."
O Papa encoraja a fundação Fratelli tutti a continuar no diálogo entre as diferentes culturas para aprimorar e apresentar “algumas propostas, centradas na dignidade da pessoa humana, para construir boas políticas, baseadas no princípio da fraternidade”. Desse trabalho “pode nascer uma ‘Carta do ser humano’, que inclua, juntamente com os direitos, também os comportamentos e as razões práticas daquilo que nos torna mais humanos na vida", completa Francisco. "E convido vocês a não desanimar, porque o diálogo perseverante e corajoso não gera notícia como os confrontos e os conflitos, mas mesmo assim ajuda discretamente o mundo a viver melhor, muito mais do que podemos crer", especifica, citando a sua encíclica Fratelli tutti, que o inspira justamente a fundação. Na audiência, agradece especialmente aos vencedores do Prêmio Nobel presentes: “Exorto vocês a seguir em frente, a fazer crescer essa espiritualidade da fraternidade e a promover com a sua ação diplomática, o papel dos organismos multilaterais".
Uma delegação do World Meeting on Human Fraternity #BeHuman foi recebida no Palácio do Governo pelo Presidente da República, Sergio Mattarella: “É conhecido como o lema da revolução francesa alinhava a palavra fraternidade ao lado da liberdade e igualdade, que rapidamente caiu em desuso. No entanto, aquela palavra representa o complemento, ou melhor, a completude das outras duas. Constitui o ponto de chegada do princípio de solidariedade frequentemente invocado. Aqueles três princípios, juntos, definem a condição universal da cidadania", afirmou o Chefe de Estado.
E acrescentou: “Como repete muitas vezes o Papa Francisco, ninguém se salva sozinho. E na realidade para cada um a liberdade e os direitos se realizam não em detrimento daqueles dos outros, nem mesmo simplesmente limitando-se a respeitar aqueles dos outros, porque na verdade se realizam realmente plenamente junto com aqueles dos outros. Porque liberdade e direitos não são bens divisíveis”.
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Papa Francisco: no planeta em chamas, o nosso não à guerra e o sim à paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU