25 Abril 2025
"Assim como para seus predecessores, para Francisco também o feminino é digno de exaltação, mas o masculino permanece ligado ao exercício do poder", escreve Marinella Perroni, biblista e professora emérita do Pontifício Ateneu Sant'Anselmo de Roma, em artigo publicado por La Repubblica, 23-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Desde os primeiros anos de seu pontificado, uma das queixas feitas contra o Papa Francisco por seus detratores foi da falta de competência teológica. Depois daquela do “teólogo” Ratzinger, a abordagem de Francisco às questões parecia muito imediata, pouco teórica e nada acadêmica.
Certamente, uma marca registrada desse pontificado foi o pragmatismo e, como o próprio Francisco também declarou em várias ocasiões, foi sua vontade explícita ir além de abstracionismos conceituais que agora tem pouco a dizer aos homens e mulheres de uma época em que - como também pode ser percebido no debate teológico das últimas semanas - há uma forte necessidade de uma teologia “rápida” e “saborosa”.
Este não é o lugar para se aprofundar nos termos da discussão, que também são importantes para todo o horizonte cultural italiano, mas certamente pode-se afirmar que Francisco procurou combater uma teologia residual, que insiste em formulações rebuscadas que têm pouco a ver com a realidade e que, acima de tudo, correm o risco de prender a Igreja Católica em uma gaiola onde praticamente se tornou impossível se mover. Ele declarou isso explicitamente em sua primeira exortação apostólica, a Magna Charta de seu pontificado, quando indicou, entre os quatro princípios essenciais para a construção do bem comum, aquele segundo o qual “a realidade é mais importante do que a ideia” (n. 231-233).
É por isso que a teologia e, em particular, a eclesiologia de Francisco pode ser rastreada em suas escolhas de governo mais do que em afirmações teóricas. Certamente será o futuro que confirmará se e em que medida essa opção imprimiu traços suficientemente profundos para orientar o caminho da Igreja Católica nas próximas décadas. Uma coisa, porém, é bem possível: é mais difícil mudar práxis adquiridas do que abandonar declarações, e o magistério eclesiológico de Francisco também se baseou na necessidade de dar o devido destaque à presença das mulheres na comunidade eclesial. Esse, aliás, foi um dos pontos sobre os quais se desenrolou o carrossel de críticas dirigidas a ele, e também foi visível no recente Sínodo, onde o único tema que fez com que se agitassem as águas, de outra forma muito calmas, fosse aquele do acesso das mulheres aos ministérios.
O único artigo do documento final que foi objeto de uma votação atribulada, para dizer o mínimo, foi, de fato, aquele sobre os papéis das mulheres: cauteloso demais para aqueles que pressionam por uma reforma sistêmica do ordenamento eclesial que contemple a concessão do ministério ordenado também às mulheres; perigosamente ousado para aqueles que, protegendo-se por trás do perigo de um descarrilamento interno, na verdade veem em tal reforma uma traição à tradição. Confirmando que a discussão sobre os papéis eclesiais das mulheres chegou a um ponto sem retorno, e é também com base nisso que o pontificado de Francisco será julgado pela história.
Uma das primeiras declarações que lançaram luz sobre sua orientação eclesiológica foi a que o Papa Francisco proferiu em uma de suas primeiras entrevistas, a que ele concedeu a Eugenio Scalfari, e que depois continuou a repetir sempre que surgia a oportunidade: “A Igreja é feminina”, “a Igreja é uma mulher”. Um papa feminista? Muito pelo contrário: com ou sem razão, Francisco sempre considerou o feminismo uma ideologia que, como todas as outras, é apenas perniciosa.
Igualmente clara, portanto, é a sua rejeição ao pensamento de gênero. De onde, então, foi buscar essa definição em que a Igreja é qualificada como feminina? O próprio Francisco nunca escondeu sua total dependência do duplo princípio, mariano e petrino, que representou um ponto fixo na visão da Igreja também de seus predecessores imediatos. Ele nunca abandonou, portanto, uma visão mística do feminino e uma visão funcional do masculino, atribuindo superioridade ideal à primeira em relação à segunda: Maria é superior a Pedro, porque ela é a depositária do carisma do amor, enquanto Pedro desempenha um papel de governo que permanece secundário, porque o manto protetor de Maria sempre será mais importante para a Igreja do que a ação funcional de Pedro. Assim como para seus predecessores, para Francisco também o feminino é digno de exaltação, mas o masculino permanece ligado ao exercício do poder.
Felizmente, a primazia da realidade para Francisco sempre significou não ter medo nem mesmo de possíveis contradições. Embora ele nunca tenha abandonado a visão eclesiológica do duplo princípio, aceitou levar a sério as críticas feitas a ele, especialmente pelas teólogas. É por isso que pediu ao gripo de seus colaboradores mais próximos que participassem de quatro sessões de discussão com um teólogo e onze teólogas intitulando-as com um neologismo muito sugestivo: “Desmasculinizar a Igreja”. Com toda a probabilidade, isso não serviu a fazê-lo renunciar ao fascínio do princípio mariano-petrino, mas certamente ajudou a confirmá-lo em uma dupla convicção: por um lado, para prosseguir com o seu programa de desclericalização da Igreja, é necessário não clericalizar as mulheres e, portanto, continuar a negar-lhes o acesso ao sacerdócio; isso, porém, não implica, por outro lado, a exclusão das mulheres das funções de governo da Igreja em todos os níveis, desde os paroquiais e diocesanos, como também sugerido pelo recente Sínodo, até o vaticano, como ele mesmo demonstrou com uma série de nomeações que, embora lentamente, começaram a mudar as características do rosto “petrino” da Igreja Católica.