28 Março 2025
"A República Democrática do Congo é um país rico em recursos minerais raros e estratégicos na era da transição energética. Todos sabem disso. E alguns não hesitam em acreditar que as guerras repetidas na região – especialmente nas áreas ricas desses minerais – são antes de tudo motivadas por interesses econômicos. Segundo eles, o Congo se tornou como um queijo do qual todos os corvos, esses abutres, gostariam de se apoderar. O que a RDC deve fazer, presa entre o martelo e a bigorna?", escreve Yanick Nzanzu Maliro, teólogo congolês, em artigo publicado por Settimana News, 27-03-2025.
Eis o artigo.
República Democrática do Congo (RDC) é um país rico em minerais raros e estratégicos na era da transição energética. Todos sabem disso. E alguns não hesitam em acreditar que os repetidos conflitos na região, especialmente nas áreas ricas desses minerais, são motivados principalmente por interesses econômicos. Na visão deles, o Congo se tornou como um queijo que todos os corvos, ou melhor, todos os abutres, gostariam de se apoderar. O que a RDC deve fazer, apertada entre a espada e a parede?
Segundo uma fonte próxima às autoridades do país, em fevereiro passado, o governo congolês propôs conceder direitos de exploração mineral em troca de apoio militar ao presidente Félix Tshisekedi, que enfrenta a rebelião armada do M23 e seus aliados ruandeses no leste do país.
Um jornal britânico explicou até como essas negociações fazem parte de uma estratégia mais ampla dos Estados Unidos para garantir o acesso a recursos essenciais globalmente, ao mesmo tempo em que reduz a dependência de alguns países da China, que atualmente domina a extração mineral na RDC.
Os Estados Unidos estariam dispostos a discutir parcerias sobre minerais raros com a RDC, afirmou no último dia 9 de março o Departamento de Estado dos EUA, após um senador congolês ter contatado Washington propondo um acordo que incluiria apoio em matéria de segurança. Os Estados Unidos estão abertos à discussão sobre parcerias no setor que estejam alinhadas com a política "America First" do governo de Donald Trump, disse um representante do Departamento de Estado à Reuters, destacando que a RDC detém uma participação significativa dos minerais essenciais para as tecnologias avançadas.
Vale lembrar que, com grandes reservas de cobalto, coltan, cobre, lítio, cassiterita, etc., a RDC possui um enorme potencial. O país responde por mais de 70% da oferta mundial de cobalto. Este metal é um componente essencial na produção de baterias e é considerado um elemento chave na transição para energias renováveis. Graças a esses acordos, os Estados Unidos poderão, então, acessar as minas congolesas em troca de apoio militar, talvez como estão fazendo com a Ucrânia. Tudo isso seria óbvio, se não fosse o fato de que já existem acordos de exploração assinados, especialmente com a China. Estamos talvez no amanhecer de outra guerra por interesses? E, no final, tudo isso levará a uma paz duradoura na região? Vamos esperar e ver!
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