07 Fevereiro 2025
A tomada de Goma, no leste do país, é um episódio a mais de uma guerra que já dura 30 anos, recorda Apollinaire Cibaka Cikongo, padre e reitor da Universidade Oficial de Mbujimayi, no centro do país. Ele faz um apelo à consciência internacional.
A entrevista é de Alix Champlon, publicada por La Vie, 30-01-2025. A tradução é do Cepat.
Segunda-feira, 27 de janeiro de 2025, Goma, a principal cidade do leste da República Democrática do Congo (RDC), na fronteira com Ruanda, caiu nas mãos do grupo rebelde M23, apoiado pelas tropas ruandesas. Desde o início dos confrontos, os hospitais registraram cerca de cem mortes e quase mil feridos. A Igreja Católica, principal proprietária das redes hospitalares e dos centros médicos da RDC, está na linha de frente da emergência humanitária.
Num comunicado, publicado na segunda-feira, 27 de janeiro, o bispo de Goma, Willy Ngumbi Ngengele, condenou os saques e atentados “à ala de neonatologia do hospital geral Charité Maternelle, entre outros”, e exorta “o clero e as pessoas consagradas, bem como os fiéis (…) a gentilmente prestarem a ajuda necessária a quem precisa”.
Do centro da RDC, Apollinaire Cibaka Cikongo, reitor da Universidade Oficial de Mbujimayi, reafirma o papel da Igreja na guerra.
A Igreja Católica da RDC controla a maior parte da infraestrutura médica do país. Como ela está lidando com a crise em Goma?
Os confrontos em Goma levaram ao deslocamento de centenas de milhares de pessoas. Na segunda-feira, falávamos de cerca de 400 mil pessoas. As paróquias, os centros e os hospitais estão abertos para acolhê-las, mas também estão completamente dominados pela pobreza, pelo medo e pelos contínuos sons de tiros...
Estamos desamparados: os agricultores abandonaram o campo para se refugiarem na cidade, já não há quem trabalhe nos campos e escoe a produção agrícola. Apesar das dificuldades, padres e freiras permanecem ali. Nossa missão nesta região é estar presente. É uma presença de evangelização, mas também de serviço.
Os confrontos nos arredores de Goma envolvem as forças armadas do governo congolês, o grupo armado M23 e as tropas ruandesas. Como podemos explicar esse retorno da violência?
A tomada de Goma é um episódio a mais de uma guerra que já dura 30 anos e que já deixou mais de 15 milhões de mortos. Para compreendê-la, temos de recuar a 1994. No rescaldo do genocídio em Ruanda, os genocidas – e as populações Hutu de forma mais ampla – vieram refugiar-se do outro lado da fronteira, no leste da RDC, a pedido da comunidade internacional.
O conflito ruandês deslocou-se então para o território congolês, e o novo regime ruandês não gostou de ter os seus adversários armados agrupados na sua fronteira. As potências ocidentais, por sua vez, ainda se sentem culpadas perante o governo ruandês e não intervêm.
A isto se soma um fator de política interna na RDC: quando o regime anterior, o do presidente Mobutu Sese Seko, começou a ser contestado na década de 1990, as grandes potências, e os Estados Unidos em particular, favoreceram o retorno de um opositor exilado, Laurent-Désiré Kabila. A rebelião armada e a desestabilização foram assim favorecidas em detrimento de uma transição política não violenta…
A situação política atual continua a favorecer o desenvolvimento de milícias armadas, que exercem a repressão para monopolizar as riquezas minerais desta região. Esta economia de vandalismo em torno dos minerais é o terceiro fator explicativo desta guerra. Isto diz respeito a todos: trata-se de recursos explorados e vendidos fora da RDC a grandes empresas ocidentais para fabricarem os nossos equipamentos informáticos, os nossos aparelhos de comunicação e os nossos meios de transporte.
Que lugar a Igreja na RDC tem ocupado desde o início do conflito?
A Igreja é uma instituição herdada da colonização. Com suas igrejas, centros médicos e escolas, abrange todo o país. Ela está, na realidade, mais presente que o Estado. Mas esta figura de autoridade, de instituição bem estabelecida, incomoda os agressores e mercenários ruandeses, bem como as diversas milícias. Desde o início do conflito, em 1996, a Igreja Católica tem visto bispos e padres, mas também freiras e fiéis estarem na mira de assassinos.
Apesar das atrocidades, os consagrados permanecem e continuam a operar as infraestruturas necessárias à vida social. Ao manterem a sua presença no leste da RDC, estas pessoas consagradas são os guardiões das fronteiras geográficas, políticas e culturais, mas também os guardiões da esperança.
Onde você coloca sua esperança de acabar com o conflito?
Hoje, o conflito tem uma verdadeira cobertura mediática, porque atravessa um episódio de certa intensidade. Mas há 30 anos que as mulheres são violentadas, pessoas inocentes são mutiladas e mortas, que se colocam armas nas mãos de crianças. Estamos aqui falando de 15 milhões de mortes, essa cultura de violência tem que acabar! Estamos acabrunhados pela indiferença internacional que reina, enquanto as grandes empresas que se abastecem de minerais congoleses lucram com o nosso sangue.
Em termos globais, é hora de a humanidade tomar consciência de que não pode construir a sua felicidade sobre a vida dos outros. A este respeito, gostaria que as Igrejas irmãs, especialmente no Ocidente, assumissem um apoio público mais forte e mobilizassem todos os canais que possuem para que a barbárie que vivemos diariamente não fosse banalizada. Que façam do sofrimento dos outros o locus da sua luta!