05 Fevereiro 2025
Como nas guerras anteriores no leste do Congo, as empresas de mineração em busca de terras raras são as protagonistas da nova ofensiva lançada pela Casa Branca.
A reportagem é de Ilaria De Bonis, publicada por Avvenire, 29-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A impunidade substancial de Ruanda no “grande jogo” dos minerais “de sangue” do Kivu do Norte; as responsabilidades da Europa em um conflito interminável e complicado. E a longa manus dos EUA sobre o futuro da mineração no Congo. Esses são os elementos que acompanham o drama que está se desenrolando nessas horas em Goma, na República Democrática do Congo. Com a tomada da cidade pelo movimento armado M23, a guerra que já dura uma década está em um ponto sem volta. Os missionários italianos na África vêm denunciando isso sem serem ouvidos há pelo menos 15 anos: as imensas riquezas do solo e do subsolo são a razão que favoreceu a “balcanização” do Congo. “É certamente como se nossos irmãos e irmãs na África não existissem para nós: tudo isso está acontecendo enquanto usamos tranquilamente seus recursos para nosso bem-estar cotidiano, como nos tempos do rei Leopoldo da Bélgica”, comenta Dom Giovanni Piumatti, missionário em Kivu há anos, ao Avvenire. O certo é que todos nós nos aproveitamos do conflito predatório em curso no Oriente para ter acesso ao ouro, cobalto, coltan, cobre congolês, passando pelas triangulações de Ruanda.
Ontem, as embaixadas de Ruanda, França e Estados Unidos (mas não a italiana) em Kinshasa foram invadidas por grupos de protesto locais, acusados de apoiar os rebeldes do M23. Mas qual será o papel dos Estados Unidos de Trump nessa última “corrida do ouro”, dominada até agora pela presença chinesa? “Em primeiro lugar, tanto os Estados Unidos quanto a França e a Bélgica, embora condenem o M23 e, em consequência, Ruanda por seu apoio ao movimento armado, nunca impuseram sanções comerciais a Kigali ou ao líder incontestável Paul Kagame. A única arma que realmente funcionaria”, ressalta Luca Jourdan, professor universitário de antropologia política em Bolonha e pesquisador de campo em Kivu do Norte. Por outro lado, é certo que o recém-eleito presidente Donald Trump seguirá em frente com a construção do Corredor de Lobito, uma artéria ferroviária crucial no sul da África. Com aproximadamente 1.300 quilômetros de extensão, conectará o Norte da Zâmbia e Angola, passando pelo Sul da República Democrática do Congo e por cidades como Kolwezi, até aqui no centro do negócio ilegal de cobalto. Do porto de Lobito, por toda a costa do Atlântico, uma rede “faraônica” financiada pelos EUA transportará matérias-primas cruciais e terras raras, preciosas para o futuro da economia ocidental.
“É uma liquidação total dos recursos naturais da região”, dominada não mais pela China, mas pelos EUA, argumenta o analista econômico congolês Dady Saleh. Sob essa perspectiva, é possível entender melhor o apoio dado a diversos “aliados” africanos do Ocidente, como o presidente Kagame em Ruanda. Kagame, além disso, soube “capitalizar” muito bem a tragédia do genocídio de 1994, salienta Luca Jourdan. A milícia armada M23, sem o apoio militar de Ruanda e sem o silêncio do Ocidente, “nunca teria chegado até Goma”, é a convicção de quase todos quem operam no Congo, incluindo missionários, cooperadores e testemunhas locais. “Ruanda sempre foi exaltada pelas diplomacias internacionais e desfrutou de liberdade de ação ilimitada no leste do Congo”, denuncia Jourdan. Tanto que, em fevereiro de 2024, a União Europeia assinou um memorando de entendimento com Ruanda, que não tem minas, para promover o desenvolvimento “sustentável” de matérias-primas “críticas”, ou seja, para ajudar Ruanda a refinar ouro e tântalo. Além disso, a empresa britânica Power Resources International, por exemplo, está em processo de construção de uma refinaria de coltan no parque industrial de Kigali. Nesse interim, é o povo inteiro do leste do Congo que paga o preço mais alto pela instabilidade e predação congolesas.
Nas últimas horas, em Goma, as pessoas estão vivendo no caos e no terror, os milicianos do M23 assumiram o controle do aeroporto e as vítimas da ONU aumentaram para 17.
Todos estão fugindo da cidade em chamas, deixando casas vazias e vidas em risco. Aqueles que podem, incluindo vários italianos, cruzam a fronteira de Ruanda: entre eles estão Marco Rigoldi, um missionário leigo do Centro Casa Goma, e sua esposa Arielle Maweja, grávida de seu primeiro filho. Eles haviam levado para Goma sua missão entre as crianças e os jovens em condições de rua. “Quinze italianos permaneceram em Goma, em sua maioria religiosos, cooperadores e residentes regulares”, diz uma nota do Ministério do Exterior.