27 Fevereiro 2025
O professor da Universidade de Exeter, no Reino Unido, publica Breve história do conflito entre Israel e Palestina, livro que resume os séculos de confrontos para entender a situação atual em Gaza.
A informação é de Sandra Vicente, publicada por El Salto, 25-02-2025.
O historiador Ilan Pappé (Haifa, 1954) dedicou metade de sua vida a "desmontar as mentiras e falsas crenças sobre a criação de Israel", como ele mesmo afirma. Filho de judeus alemães que se estabeleceram na Palestina fugindo do nazismo, Pappé é profunda e convictamente antissionista.
Seu apoio às campanhas de boicote e desinvestimento a Israel, inclusive no âmbito acadêmico, lhe provocou a expulsão da Universidade de Haifa. Após ter recebido ameaças de morte, exilou-se no Reino Unido e agora ensina na Universidade de Exeter.
Pappé esteve em Barcelona nesta terça-feira para apresentar seu último ensaio, Breve história do conflito entre Israel e Palestina (Capitán Swing, 2025). A apresentação ocorreu no âmbito de um ciclo de palestras organizadas pelo Instituto Europeu do Mediterrâneo de Barcelona (IEMed).
Este livro se soma à obra de Pappé, quando se completam 16 meses dos acontecimentos de 7 de outubro, e chega também no terceiro aniversário da invasão russa da Ucrânia, em um momento em que diversos líderes europeus viajaram a Kiev para demonstrar seu apoio político e econômico a Zelensky. "Esta é a grande hipocrisia europeia: apoiar a resistência da Ucrânia enquanto se rotula sem complexos de terrorismo a resistência da Palestina", denunciou o professor.
Pappé defende o direito de qualquer pessoa de ser nacionalista, mas sustenta que ninguém – "nem a Rússia nem Israel" – pode impor essa decisão a outro. E acrescenta que o fato de ambos os conflitos estarem coexistindo e a reação da comunidade internacional ser tão distinta é essencial para entender que "não se apoia ninguém por ideologia, mas por interesses geopolíticos e econômicos".
No entanto, ele alerta que a inação da União Europeia em relação à Palestina trará graves consequências. "Os planos de Israel são muito claros: vai replicar na Cisjordânia o que fez em Gaza e não vai parar até chegar ao leste da Síria e ao Líbano", prevê o historiador.
"Milhões de pessoas pagarão um preço alto", acrescentou, formando uma lista de retaliados que não inclui apenas palestinos, mas também os próprios israelenses, os habitantes do Oriente Médio e, até mesmo, cidadãos europeus. Uma situação que, em sua opinião, tem responsáveis: "Seremos condenados pelos nossos próprios líderes".
Pappé faz parte dos conhecidos como "Novos historiadores". A partir da desclassificação de documentos oficiais pelos governos de Israel, Reino Unido e Estados Unidos, tentaram desmitificar a formação de Israel e sustentam que o genocídio e a expulsão do povo palestino vêm ocorrendo há anos.
Fruto dessa pesquisa nasceram conhecidos ensaios como Limpeza étnica da Palestina ou Dez mitos sobre Israel. Agora, Breve história do conflito entre Israel e Palestina vem se somar à obra de Pappé, seguindo as mesmas teorias, mas com uma diferença: este manuscrito não busca ser completo, mas ilustrativo.
"Quando o genocídio rompeu, muita gente era nova e parecia perdida, porque para entendê-lo é preciso muito contexto. E meus editores me pediram um texto curto, menos pesado e menos acadêmico do que os que eu havia feito até então", apontou o historiador.
Efetivamente, Breve história do conflito entre Israel e Palestina é um texto curto, que em menos de 150 páginas desmantela anos de história, guerras e diásporas. Pappé navega pelos últimos séculos, até chegar a 1882, a data do início da ocupação, quando os primeiros colonos chegaram à Palestina otomana.
Para Pappé, tudo o que aconteceu após a criação do Estado de Israel em 1948, tanto a ocupação da Cisjordânia em 1967 como a proliferação de assentamentos, foi consequência das estratégias – realizadas com mais ou menos sucesso – das elites sionistas, em consonância com líderes políticos e religiosos dos EUA e da Europa.
Dessa forma, foi se consolidando a ideia de Israel como um projeto colonial que, ao contrário do que países como Espanha ou França desenvolveram, não buscava expandir um império, mas criar um novo estado fundado por pessoas "perseguidas".
Esse tipo de colonialismo, que Pappé define como colonialismo de assentamento, já havia sido executado antes na Austrália, na África do Sul e nos Estados Unidos. "Esses colonos ativaram o plano para eliminar os nativos por meio do apartheid e do genocídio, para se tornarem eles mesmos a população local porque, evidentemente, precisavam de um novo lar que acreditavam merecer".
Pappé recorre ao exemplo dos Estados Unidos para especular sobre como pode terminar a Palestina: "Ninguém os impediu, e eles acabaram com todos os nativos com tanta impunidade que até nomearam suas armas [os mísseis Tomahawk ou Apaches] em referência ao povo que queriam eliminar".
Por tudo isso, Pappé pede à comunidade internacional que reconheça "finalmente" o colonialismo de assentamento como um crime contra a humanidade. "O problema é que temos a oposição de quem já fez isso antes: Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos, África do Sul... E um longo etcétera de países que não darão as costas a Israel porque isso significaria reconhecer seus próprios pecados", afirma o historiador.
O professor não se considera particularmente otimista e considera que o conflito entre Israel e a Palestina é irresolúvel. Em especial hoje, quando "se confundiu religião com política e vemos imagens tão surrealistas como neonazistas brandindo uma bandeira israelense", diz Pappé. O futuro também não parece promissor: "Vêm tempos difíceis que exigem uma responsabilidade que não tenho certeza se nossos líderes têm".