A celebração, agora em outubro, da segunda sessão do Sínodo dos Bispos [Sb], coloca-se num contexto de questões totalmente desiguais entre si, mas que ainda assim pairam sobre a atualidade, inclusive católica: os muitos protestos pelo fato de Francisco ter retirado a discussão sobre o diaconato feminino da próxima Assembleia; a viagem do papa à Ásia que, implicitamente, tinha a silenciosa China como pano de fundo; o crescente contraste entre as Igrejas na Ucrânia que, por uma decisão provocativa do parlamento de Kiev, perturba o ecumenismo e, indiretamente, perturba a primazia da primeira Roma.
Questões naturalmente não relacionadas, mas que, no final, se unem para pesar sobre a vida e as escolhas da Igreja Romana.
A reportagem é de Luigi Sandri, publicada por Confronti, outubro-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Neste verão europeu, houve muitas tomadas de posição, propostas e expectativas com relação à segunda sessão do Sínodo, que durará de 2 a 27 deste mês. O clima, podemos dizer, é de expectativa, mas também de desconforto e irritação: sentimentos provocados sobretudo pelo fato de que o Instrumentum laboris - o documento básico, divulgado em 9 de julho, a partir do qual se inicia agora a reflexão sinodal - afirmava no nº 17: “Enquanto algumas Igrejas locais pedem que as mulheres sejam admitidas ao ministério diaconal, outras reiteram sua contrariedade. Sobre esse tema, que não será objeto dos trabalhos da segunda sessão, é positivo que a reflexão teológica continue, com tempo e modalidades adequados. Contribuirão para seu amadurecimento os frutos do Grupo de Estudo [Ge] nº 5, que levará em consideração os resultados das duas Comissões que trataram da questão no passado”. A referência é aos dez Ge que, após o Sínodo, terão que aprofundar vários tópicos; entre eles, o Ge 5 tratará do tema do diaconato feminino. Dessa forma - como explicamos na última edição - um tema escaldante é retirado da Assembleia (aliás, não ficou claro quais Conferências Episcopais se manifestaram pelo “sim” às diáconas e quais pelo “não”).
Esse adiamento provocou firmes protestos. Por exemplo, reportando matéria do The Tablet de 3 de setembro, citamos as palavras contundentes expressas em uma conferência de católicos realizada em Leeds, na Inglaterra. Nela, Mary McAleese, ex-presidente da Irlanda por dois mandatos, em 1997 e 2004, afirmou: ao retirar da agenda a questão da ordenação de mulheres ao diaconato e ao sacerdócio, o papa deixou “capenga” o Sínodo sobre a sinodalidade, que, no entanto, “era e continua sendo um Sínodo de bispos”. E acrescentou: ao excluir temas “quentes” do debate, Francisco “destruiu a ilusão da inclusão e a ilusão da liberdade de expressão em uma agenda aberta”. No mesmo evento, a irmã beneditina Joan Chittister argumentou que a implementação da sinodalidade “está sendo atrasada por poucos bispos que temem perder seu poder na Igreja. Contudo, comunidades passivas amortecem o espírito da Igreja e extinguem o fogo do Pentecostes. Mas o Concílio Vaticano II deu aos leigos a responsabilidade de empurrar a Igreja para viver de novo”.
Juntamente com essas críticas, houve, é claro, muitos elogios ao Instrumentum laboris e ao empenho de Francisco com o Sínodo que está se iniciando. Mas, agora, além das coisas ditas, ou não ditas até o momento, é hora de olhar para o que acontecerá com os/as sinodais: “padres” (315) e “madres” (53). O cancelamento do debate sobre as diáconas será abafado ou abrirá uma questão espinhosa de método que afetará a própria Assembleia? E o que dirão as “madres” presentes? Não vamos fazer previsões; uma coisa parece certa para nós: o caminho para uma Igreja realmente sinodal será muito acidentado. Artimanhas não são admitidas.
O Kremlin e o Patriarcado de Moscou ficaram satisfeitos com as declarações do papa no Angelus de 25 de agosto: “Continuo acompanhando com dor os combates na Ucrânia e na Federação Russa e, pensando nas normas adotadas recentemente na Ucrânia, sinto um temor pela liberdade de quem reza, porque quem reza de verdade sempre reza por todos. Não se comete o mal porque se reza. Se alguém comete o mal contra o seu povo, será culpado por isso, mas não pode ter cometido o mal porque rezou. Então, que se deixe rezar quem quer rezar naquela que considera sua Igreja. Por favor, que nenhuma igreja cristã seja abolida direta ou indiretamente. As igrejas não devem ser tocadas!”
Por que essas palavras? Cinco dias antes, o Verkhovna Rada (parlamento de Kiev) havia aprovado uma lei que corta qualquer colaboração de organizações religiosas ucranianas com entidades da Federação Russa, que invadiu o país em 22 de fevereiro de 2022. Na prática, foi um torpedo contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana (Cou), a mais numerosa no país, mas eclesiasticamente ligada ao Patriarcado de Moscou. Suas estruturas - dioceses, paróquias - agora deveriam se unir à Igreja Autocéfala Ucraniana (Cau), criada em 15 de dezembro de 2018, formalmente aprovada pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, em janeiro de 2019, mas considerada cismática pelo Patriarcado Russo. Moscou (Kremlin e patriarcado) condenou duramente a medida de Kiev: “Seu objetivo é erradicar o verdadeiro cristianismo ortodoxo canônico na Ucrânia e substituí-lo por uma paródia, uma falsa Igreja”, comentou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.
“Uma violação flagrante da liberdade religiosa”, comentaram representantes do patriarcado.
Enquanto o secretário-geral do Conselho Ecumênico de Igrejas, Jerry Pillay, criticou severamente a decisão da Verkhovna Rada, e muitas Igrejas Ortodoxas estão incertas sobre o que fazer diante de uma ruptura que se agrava a cada dia e mina a Ortodoxia em suas raízes, Bartolomeu, sem perder tempo, se alinhou com a Cau. Francisco, no entanto, nesse caso específico, colocou-se, na prática, do lado de Moscou. Uma escolha que talvez não interfira agora no Sínodo romano; mas certamente, sim, no futuro conclave e nas relações catolicismo-ortodoxia. A dança das três Romas (a papal, a ex-bizantina, a moscovita) está se tornando cada vez mais emaranhada.
A viagem que ele fez à Ásia, de 2 a 13 de setembro, foi a mais longa viagem internacional de Francisco. Para resumir, poderíamos dizer que foi um bálsamo de consolação para as comunidades católicas que vivem lá: minoritárias em dois países (Indonésia e Cingapura), minoria robusta em Papua Nova Guiné, presente com 97% dos fiéis no Timor Leste. Na Indonésia (o país mais muçulmano do mundo, pois 86% dos seus 275 milhões de habitantes são seguidores de Maomé), não só as autoridades políticas, mas sobretudo Nasaruddin Umar, o Grande Imã da mesquita Istiqlal de Jacarta - a mais imponente do Sudeste Asiático - acolheram o Hóspede com particular deferência. Em uma declaração conjunta, o pontífice e o líder muçulmano escreveram: “Os valores compartilhados das nossas tradições religiosas deveriam ser promovidos com eficácia para derrotar a cultura da violência e da indiferença que assola o nosso mundo. De fato, os valores religiosos deveriam ser orientados para a promoção de uma cultura de respeito, dignidade, compaixão, reconciliação e solidariedade fraterna”. Com esse texto, Bergoglio fechou o círculo de suas relações oficiais com o Islã, depois do documento sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a convivência comum, assinado em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi com o Grande Imã de Al-Azhar [Egito], Ahamad al-Tayyib, que representava basicamente o Islã árabe sunita; e depois do encontro no Iraque, em fevereiro de 2021, com o líder xiita Al-Sistani.
Cabe ressaltar o que afirma o artigo 29 da Constituição da Indonésia: “O Estado é baseado na fé em Único Deus. Ele garante a liberdade de religião e de praticá-la para cada cidadão”. Assim, são protegidos o Islã, o Catolicismo (3% do total), o Protestantismo, o Hinduísmo, o Budismo e o Confucionismo. O ateísmo não é contemplado; o conceito ocidental de laicidade está ausente. Apesar dessas premissas solenes, na prática a afirmada convivência não é tão idílica: em muitas províncias do país, as autoridades locais favorecem o Islã e põem restrições à construção de igrejas e, às vezes, impõem a todos a Sharia (lei corânica). No início deste século, nas ilhas Molucas, na região sudeste do país, um duro conflito estourou entre a comunidade muçulmana animada pelo grupo islâmico Laskar Jihad (possivelmente ligado à al-Qaeda) e a comunidade cristã: as vítimas, em sua maioria cristãs, foram estimadas entre seis mil e quinze mil.
Em Dili, capital do Timor Leste, a recepção no país foi entusiasmada (97% católico: um recorde, na Ásia, graças à herança colonial portuguesa): Bergoglio elogiou muito a capacidade das pessoas, em sua maioria muito pobres, de sorrir e perdoar. O Timor Leste tornou-se, em teoria, independente em 1975, mas foi ocupado pela Indonésia; com a qual travou um confronto armado que custou 100.000 vidas. Finalmente, tornou-se independente de fato em 2002. Um dos heróis da libertação foi o Monsenhor Carlos Felipe Ximenes Belo, que na época liderava a diocese de Dili: ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1996. Mas, no início do ano 2000, ele foi acusado de ter abusado sexualmente de menores na década anterior. O Vaticano por fim considerou aqueles “crimes” como comprovados e forçou Belo a renunciar, e agora, ao que parece, vive aposentado em Portugal (ainda bispo ou reduzido ao estado laical?). Sobre todo esse caso, o papa, em Dili, não se pronunciou.
Finalmente, Singapura. Aqui Bergoglio admirou o impressionante desenvolvimento técnico e edilício do pequeno mas opulento estado, desejando, no entanto, que ninguém seja deixado para trás. Em seguida, elogiou a harmonia que reina ali entre as várias religiões (budistas 31%; cristãos 19%, muçulmanos 16%, taoístas 9%, hindus 5%, não religiosos ou ateus 20%). Embora em seu discurso tenha considerado as religiões todas caminhos válidos para Deus, o papa, de fato, quase relativizou o cristianismo. Um tema complexo, ao qual teremos que voltar. Dos 4 milhões de habitantes, 74% dos cingapurianos são de origem chinesa.
Formalmente, Bergoglio, em seus discursos, não mencionou esse dado; no entanto - parece-nos - que subliminarmente tenha falado da China, que ele praticamente circunavegou, sem entrar no país. Ele fez isso em um discurso lembrando, sem entrar em detalhes cruciais, que Francisco Xavier não conseguiu realizar seu sonho: o missionário jesuíta, de fato - explicamos nós -, morreu em dezembro de 1552 na pequena ilha chinesa de Sancian, sem poder tocar, como teria desejado ardentemente, o continente chinês. Em filigrana, Bergoglio disse: “Eu gostaria de entrar na China; mas...”. É possível presumir que os qualificadíssimos diplomatas de Pequim tenham entendido o sentido da mensagem papal, críptica para ouvidos profanos. Não sabemos, entretanto, se e como responderão.
Ao encontrar jovens nos quatro países asiáticos, Francisco os convidou calorosamente a “fazer barulho” para ver suas esperanças realizadas. Um desejo que, mutatis mutandis, nos permitimos dirigir aos “padres” (em maioria) e às “madres” (em persistente minoria) do Sínodo dos Bispos de 2024.