12 Setembro 2024
Para o climatologista brasileiro a intensificação do desmatamento e da crise climática colocam os dois biomas em uma rota de destruição, que é potencialmente irreversível.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 12-09-2024.
A intensificação dos incêndios e queimadas na Amazônia e no Pantanal deixou Carlos Nobre, uma das maiores autoridades científicas do Brasil na área climática, bastante assustado. Em entrevista ao Estadão, o climatologista foi franco: se as mudanças climáticas e a destruição ambiental seguirem desenfreadas, o Brasil pode assistir ao desaparecimento do Pantanal e à perda de metade da Amazônia nas próximas décadas.
“Acho que o Pantanal acaba até 2070”, disse Nobre. “O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com 2,5oC acima da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”.
Enquanto o Pantanal periga desaparecer, outros biomas brasileiros também estão sob risco de perdas ecossistêmicas substanciais em meio ao clima extremo. “Todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070”, destacou Nobre.
Para Nobre, a escalada da seca e dos incêndios mostra que a crise climática está se intensificando muito mais rápido do que o esperado. “A crise explodiu. Temos a maior temperatura que o planeta experimentou em 100 mil anos. Desde que existem civilizações, há dez mil anos, nunca chegamos nesse nível, em que todos os eventos climáticos se tornaram tão intensos e muito mais frequentes”, alertou o climatologista.
A seca mais intensa da história do Brasil é efeito direto das mudanças climáticas, intensificada pela perda de vegetação natural na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado. Como O Globo pontuou, o desmatamento degrada uma fonte importante de umidade do ar e do solo, o que resulta na redução das chuvas.
O clima seco é um fator importante por trás da explosão dos incêndios, mas não é o seu “culpado”. A esmagadora maioria dos casos de fogo tem origem criminosa, causados intencionalmente para degradar a vegetação e facilitar o uso da terra para cultivo ou pasto.
“É muito difícil um incêndio começar com um cigarro. A grande maioria, tendendo a 100%, é causada por um isqueiro ou fósforo e alimentada por querosene ou gasolina, alguém que quis atear. E não existe incêndio natural em período seco no Brasil porque não há raios”, explicou Christian Berlinck, especialista em ecologia de fogo do ICMBio.
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