Washington descartou durante 10 anos que as suas armas fossem atribuídas a esta unidade porque era considerada de extrema-direita.
A reportagem é de Cristian Segura, publicada por El País, 12-06-2024.
Azov é o nome mais conhecido da extrema-direita ucraniana que surgiu em 2014, começando com a Revolução Maidan. É um movimento político e militar fundado por elementos extremistas e ultranacionalistas que ajudaram a derrubar o presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych. Eles rapidamente formaram um batalhão paramilitar para combater o levante separatista pró-Rússia em Donbass. Desde a guerra no Donbass, os Estados Unidos proibiram que as suas armas transferidas para a Ucrânia acabassem nas mãos de Azov. Foi assim até esta terça-feira, quando o Departamento de Estado anunciou que a Brigada Azov poderá finalmente receber o seu material bélico.
Esta brigada é hoje uma força de ataque que faz parte da Guarda Nacional e do Ministério do Interior. É um dos regimentos mais bem preparados que a Ucrânia possui para a sua defesa contra a invasão russa. Durante anos foi acusado por organizações internacionais de violar os direitos fundamentais. O Departamento de Estado americano, segundo o The Washington Post, considera que Azov agora cumpre a lei Leahy. Esta norma, que entrou em vigor em 1961, estipula que o governo não pode fornecer ajuda externa a organizações que cometam crimes contra a humanidade. A reviravolta dos EUA surge depois de dois meses de pressão ucraniana para suspender o veto. O acordo entre democratas e republicanos no Congresso, em abril passado, para desbloquear mais de 50 bilhões de euros em assistência militar à Ucrânia, incluía uma cláusula contra Azov. O comandante da brigada, Denis Prokopenko, publicou um comunicado no qual sublinha que a aplicação da lei Leahy a Azov “baseia-se sobretudo nas características que Azov é dada pelos grandes meios de comunicação ocidentais, que parecem ter assumido uma atitude sob a influência da propaganda de Moscou”. O Kremlin menciona frequentemente Azov como paradigma de um alegado neonazismo que governa a Ucrânia. Nenhuma força de extrema-direita tem representação no parlamento hoje.
“Não há provas que confirmem as acusações da propaganda russa de que têm impedido Azov durante 10 anos”, escreveu Prokopenko, “se existissem, as delegações de Azov não teriam sido recebidas nos EUA, nos países europeus ou em Israel”.
Da Ucrânia, pede-se à comunidade internacional que assuma que a Azov se tornou uma organização “patriótica” e longe das suas origens ultranacionalistas, segundo analistas de renome como Iván Gomza, chefe do Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Economia de Kiev. O próprio presidente, Volodymyr Zelensky, prestou homenagem aos seus combatentes em diversas ocasiões, apesar de o movimento Azov ter sido, até a invasão, um dos seus adversários mais furiosos, porque o consideravam conciliatório com a Rússia. Num ensaio publicado em abril de 2022 – três meses após o início da invasão – Gomza sublinhou que a simbologia nazista e outros elementos neofascistas distintivos em Azov perderam o seu significado original e servem essencialmente para manter o espírito comunitário interno. “Outra questão importante é que o mundo acadêmico deve analisar seriamente a utilização que têm como arma para Estados com más intenções e propósitos bélicos”, disse Gomza: “A comunidade acadêmica deve estar consciente da atenção desproporcional que o seu limitado interesse profissional pode ter se for abusado e mal compreendido na era das redes sociais”.
Gomza afirmou que apenas 15% dos membros do Azov se consideram neonazistas. O enviado especial do EL PAÍS falou nos mais de dois anos de guerra com combatentes desta brigada, e todos concordam em destacar que não são neonazistas, mas são nacionalistas. Questionados sobre a sua posição política, as suas ideias sobre direitos sociais e de identidade, são claramente nacionalistas e conservadores radicais.
São numerosos os estudos que definem o movimento Azov como extrema-direita fora da Ucrânia, como o livro publicado em 2022 por Michael Colborne, renomado pesquisador canadense dos movimentos de extrema-direita nos países da antiga União Soviética: “O Regimento Azov é provavelmente a única unidade militar do mundo que nasceu de um grupo de extrema-direita e que continua ligada a um amplo movimento de extrema-direita”. Este especialista acrescentou: “Um regimento como o Azov não tem lugar nas forças armadas de um país democrático e deve ser desmantelado”.
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