05 Abril 2024
“Em Francisco há, sem dúvida, uma grande inovação comunicativa, ainda que, em alguns aspectos, se possa dizer que ele mostra uma liberdade de outros tempos...”. Giovanni Maria Vian, 72 anos, historiador e docente de Filologia Patrística na Universidade La Sapienza, foi diretor durante onze anos do Osservatore Romano.
A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 25-03-2024. A tradução Luisa Rabolini.
Professor, Bergoglio fala com liberdade de tudo, até dos conclaves. Na sua opinião, depende da sua natureza ou responde a algum tipo de estratégia de comunicação?
Ambas as coisas. Francisco tem a capacidade de falar com simplicidade, sem véus, e faz isso para chegar a todos. Por outro lado, é muito diferente de seus antecessores, que estavam mais acostumados à escrita. Montini escrevia seus discursos do início ao fim, existem os manuscritos. Como Ratzinger, o grande estudioso que se preparava como nas aulas universitárias e era assim mesmo quando falava de improviso, consultando apenas algumas notas. Wojtyla era mais "teatral", mas também mais monitorado e não improvisava, escreveu o primeiro livro-entrevistas em polonês em Castel Gandolfo. Bergoglio prefere a improvisação e a entrevistas, é o seu estilo.
Não há risco de confusão?
Diria que primeiro existe o risco de saturação. As primeiras entrevistas foram extraordinárias, uma mina de novidades, depois é inevitável que tenha começado a repetir-se. É claro que nos livros as respostas são mais ponderadas, mas às vezes fica o risco de dizer as mesmas coisas ou talvez se contradizer. Receio que não lhe assinalem isso por medo de irritá-lo. No Vaticano existe uma enorme estrutura de comunicação muito rígida, mas Francisco tende a ignorá-la na maior parte do tempo. Mas não se trata apenas disso...
Outros riscos?
As entrevistas são um risco em si, podem ou não dar certo. Também depende das perguntas que lhe fazem. Mas é claro que são sempre perigosos. As primeiras de Leão XIII, em 1892, uma sobre os católicos na França e outra sobre o antissemitismo, suscitaram fortíssimas polêmicas e obrigaram o Vaticano a prestar esclarecimentos...
E o Papa que fala das manobras nos conclaves? Assim não se dessacraliza um momento solene como a escolha do Vigário de Cristo?
A pessoa que mais dessacralizou o conclave, se for o caso, foi Ratzinger em 1997, falando a uma televisão bávara. Perguntaram-lhe como era possível que houvesse tantos papas indignos na história, e ele respondeu que o papel do Espírito Santo é de não permitir que tudo caia em ruínas, não de indicar em quem votar. Na história do conclave de 2005, pelo contrário, o problema não é a dessacralização, mas a continuidade com o antecessor.
Em que sentido?
A continuidade entre os papas nunca é dada como certa nem evidente, é um problema que tem ocupado muitos. O fato mais surpreendente no relato de Francisco é a ausência total do nome do cardeal Carlo Maria Martini, cujo papel é confirmado por todas as reconstruções anteriores. Bergoglio acrescenta a sua. E fica claro que ele admira Ratzinger, mas se sente um pouco sobrecarregado, psicologicamente, pela sua envergadura. Não é fácil lidar com uma figura intelectual desse calibre. Nos primeiros anos se referia a ele como ‘o avô da casa’ e era paradoxal, tinha apenas nove anos a mais que ele. Como se o embaraçasse e tivesse que acertar as contas consigo mesmo, antes que com o antecessor.
Por que falou sobre uma liberdade de outros tempos?
Às vezes aparecem juízos muito duros sobre os "cortesãos", pessoas que não podem replicar ao Papa. Era o que acontecia com os Papas do Renascimento.
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“Francisco improvisa, é o seu estilo de comunicação. Mas há riscos”. Entrevista com Giovanni Maria Vian - Instituto Humanitas Unisinos - IHU