20 Junho 2023
"O exemplo de Gänswein é muito claro e é por isso que o menciono, precisamente porque poderá ser um dos que menos se escondeu, em parte porque se sentiu protegido por alguns dos inimigos da linha profética de Francisco, em parte pela sua própria falta de jeito em administrar suas aparições públicas, pessoais e escritas, evidenciando seu pulso ao Papa Francisco", escreve Gabriel María Otalora, escritor, em artigo publicado por Religión Digital, 17-06-2023.
Refiro-me a dom George Gänswein, que foi prefeito da Casa Pontifícia e depois desempenhou o papel de secretário particular do papa emérito Bento XVI. Uma pessoa que aponta para um desejo excessivo de "carreirismo" religioso, um desejo de poder, neste caso eclesiástico, que tanto dano faz à Igreja que diz amar e representar.
O exemplo de Gänswein é muito claro, entre muitos, e é por isso que o menciono, precisamente porque poderá ser um dos que menos se escondeu, em parte porque se sentiu protegido por alguns dos inimigos da linha profética de Francisco, em parte pela sua própria falta de jeito em administrar suas aparições públicas, pessoais e escritos.
Li que Francisco recebeu Gänswein até três vezes nas quais lhe ofereceu vários destinos como arcebispo tanto na Alemanha quanto na Itália. Longe de aceitar a oferta do Papa, ele persistiu em permanecer no Vaticano. Foi até publicado que ele se candidatou a um cargo na Cúria do Vaticano. Diante de tal ultimato, o Papa o enviou à diocese de Freiburg, na Alemanha, a partir de 1º de julho deste ano.
Minha impressão por muito tempo é que o clericalismo é um abuso que teve muita margem de manobra na Igreja. O caminho sinodal, o Sínodo pelo qual o Cardeal Burke reza todos os dias para que não se concretize, é o caminho oposto que todos os católicos devem percorrer. Não há uma denúncia profética clara nem suficiente que aponte para aqueles que continuam a tramar para manter a instituição eclesial como um poder paralelo ao do Evangelho, à maneira dos líderes religiosos do tempo de Jesus.
Por que dom George Gänswein foi autorizado a se instalar após a morte de Bento XVI em um apartamento de 300 metros quadrados muito próximo à Casa Santa Marta, onde o Papa mora em um quarto? E digo mais, tem conseguido envergonhar Francisco em público depois de ter desistido de viver no Paço Apostólico.
Este arcebispo não aprendeu nada com aquele que ele mesmo considera ter sido seu mestre, Bento XVI, que, recém-nomeado Papa, já se perguntava publicamente "se a carreira e o poder são uma tentação da qual não estão isentos aqueles que têm um papel de governo na Igreja", ou seja, aqueles que ocupam cargos de responsabilidade. Ele não parece ter seguido seu conselho. Sua superexposição mal calculada para subir ao cardinalato acabou com sua carreira eclesiástica e agora ele deve tirar o pó de sua vocação de serviço se não quiser que os alemães lhe permitam os excessos de vaidade e poder conspiratório como os que exibiu até agora.
O compromisso sinodal é a melhor resposta ao clericalismo: "É impossível pensar numa conversão da nossa atividade como Igreja que não inclua a participação ativa de todos os membros do Povo de Deus", adverte Francisco, que sublinha sempre que pode a importância essencial da reforma de atitude ou mentalidade, algo que não está sendo transmitido por muitos dos bispados que preferem se colocar de perfil diante de tal tarefa de conversão pessoal e coletiva. E o Papa ressalta isso: “As reformas estruturais e organizacionais são secundárias, ou seja, vêm depois”, disse em 2013 em sua primeira grande entrevista.
Porque o clericalismo tende a diminuir a importância daquilo que a graça batismal implica em todos os batizados. E muitos clérigos e leigos mantêm a ideia “teológica” de que o sacramento da Ordem coloca a pessoa que o recebe em um status privilegiado, em vez de vê-lo como um carisma. Talvez por isso haja tão poucos santos entre os leigos de pais e mães, cujo radicalismo na sua exemplar dedicação amorosa está ausente nos santos reconhecidos. Uma mulher à frente da organização que valoriza essas coisas também seria útil aqui...
A crise da Igreja é uma crise de saúde espiritual, de humildade e de serviço onde o clericalismo continua a reinar dia após dia, destruindo a imagem da instituição eclesial; e até o Evangelho, quando tudo acaba se confundindo.
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Gänswein como sintoma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU