28 Abril 2023
"É bem-vinda a reforma dos componentes do Sínodo, uma decisão cujo significado vai muito além do seu peso material. No final destas considerações, um desejo: que a mudança num nível tão significativo da vida eclesial se espalhe a outros níveis, chegue a dioceses e paróquias, fazendo com que todos os leigos, todas as mulheres e todos os jovens se sintam plenamente pertencentes ao povo de Deus", escreve Paola Bignardi, pedagoga, ex-presidente da Ação Católica, em artigo publicado por Avvenire, 27-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A ex-presidente da Ação Católica: sinal de uma nova mentalidade que parece surgir na vida eclesial.
Participei do Sínodo da Europa em 1999 e foi uma grande, belíssima experiência de Igreja: um observatório sobre a Igreja universal realizado através do testemunho direto de bispos que das várias partes do mundo contaram o que significasse ser bispos em Sarajevo, na Hungria ou em Paris. Alguns leigos estavam presentes, eu entre eles: realmente poucos em comparação com a consistência do povo de Deus que estávamos representando, mas pareceu-nos uma experiência extraordinária, um privilégio poder participar no pensamento e na orientação de uma Igreja que reconhecia a necessidade de atualizar o seu conhecimento do tempo e seu enraizamento numa geografia que também estava mudando.
Participamos das discussões, dos grupos de trabalho cuja contribuição devia dar forma ao documento final. Mas na hora de votar aquelas mesmas proposições que havíamos ajudado a elaborar, fomos excluídos. O que pudemos vivenciar já nos parecia muito, mas não poder tomar parte daquele último ato, o mais significativo, pareceu-nos uma nota dissonante. A escolha do Papa Francisco de admitir ao Sínodo um número significativo de não bispos, que poderão contribuir com seu pensamento e sua experiência, mas também com o seu voto, constitui uma novidade importante, um verdadeiro passo em frente naquela renovação da Igreja e de suas práticas que agora é urgente e inadiável.
Claro, é importante que todas as componentes do povo de Deus contribuam para a elaboração das linhas da Igreja do futuro, mas até que a participação venha a incidir também nas estruturas, nas decisões, na orientação básica, não poderá ser concretizada aquela unidade eclesial que os leigos – e entre eles as mulheres, e sobretudo os jovens – estão esperando.
Quem se colocou à escuta precisamente dessas duas componentes do povo de Deus - mulheres e jovens - sabe que sua marginalidade em relação às práticas decisórias da Igreja constitui um sério e decisivo obstáculo à sua pertença. As mulheres, especialmente as mulheres jovens, muitas vezes decidem se afastar da Igreja, percebendo-a como uma comunidade não disponível a integrá-las plenamente em sua vida; aquela integração nas dinâmicas sociais que as mulheres quase sempre vivenciam na sociedade. Por que na Igreja não podem ser acolhidas no seu pensamento original, na sua experiência de vida e de Igreja, na sabedoria que possuem não menos que seus irmãos? Essa é a pergunta que muitas mulheres se fazem e que até agora não foi respondida. A decisão de ontem é um sinal: pequeno certamente, mas sinal de uma nova mentalidade que parece surgir na vida eclesial.
Da mesma forma, os jovens sentem que têm recursos para colocar à disposição da Igreja e da sua renovação; sua exclusão das responsabilidades faz com que se sintam vítimas de um paternalismo que percebem como uma mortificação de sua juventude e de sua sensibilidade. À Igreja muitos os jovens censuram estar fora do tempo, ter linguagens e culturas antigas, enquanto eles se sentem e querem ser pessoas de hoje: também como cristãos querem ser contemporâneos dos colegas de estudo e de trabalho, e expressar a fé com categorias atuais. Se muitos deles abandonam a Igreja é também porque se sentem excluídos da própria Igreja.
Portanto, é bem-vinda a reforma dos componentes do Sínodo, uma decisão cujo significado vai muito além do seu peso material. No final destas considerações, um desejo: que a mudança num nível tão significativo da vida eclesial se espalhe a outros níveis, chegue a dioceses e paróquias, fazendo com que todos os leigos, todas as mulheres e todos os jovens se sintam plenamente pertencentes ao povo de Deus.
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Mulheres e jovens no Sínodo. 'Não revolução, mas...', avalia líder da Ação Católica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU