01 Outubro 2022
O livro “Metamorfosi del credere. Accogliere nei giovani un futuro inatteso” [Metamorfose do crer. Acolher nos jovens um futuro inesperado], de Paola Bignardi, explora o universo humano, espiritual e religioso dos jovens, com suas projeções no plano eclesial.
Paola Bignardi foi presidente da Ação Católica na Itália e atualmente coordena o Observatório dos Jovens no Instituto Giuseppe Toniolo de Estudos Superiores, em Milão.
A entrevista foi publicada em Teologi@Internet, 15-09-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em seu último livro, você fala da metamorfose do crer, ou seja, da necessidade de uma reinterpretação criativa da experiência da fé. Agora, nesta nova compreensão da vida cristã, de suas formas, de suas categorias, de suas linguagens, quão determinante é a dimensão pessoal-espiritual do indivíduo? E até que ponto está em jogo uma efetiva renovação da Igreja como comunidade dos fiéis (a tão proclamada “reforma”)?
Acho que a convicção pessoal-espiritual do indivíduo é determinante, mas não suficiente. Por outro lado, acredito que uma reforma não é suficiente para as mudanças profundas de que a Igreja precisa hoje. Parece-me que a instituição eclesial tem modos de vida e de funcionamento tão enraizados que a sua reforma é impossível. Pelo contrário, é preciso percorrer um caminho intermediário entre a dimensão subjetiva e a institucional. É o caminho de pequenas experiências comunitárias em que os indivíduos possam trazer suas intuições e contribuir para realizá-las em contextos que, pelas suas dimensões, veem a novidade como possível. A sabedoria da Igreja institucional será a de realizar sobre elas um discernimento atento ao essencial, capaz de interpretar as mudanças em curso nas culturas de hoje, aberto à ação do Espírito, na confiança de que Ele continua agindo. Afinal, o Papa Francisco na Evangelii gaudium diz que a realidade precede a ideia. Este me parece ser um dos casos...
Você poderia listar as três más notícias que o seu livro traz, expondo impiedosamente os problemas da Igreja de hoje?
A primeira má notícia é que os jovens estão abandonando a Igreja. A segunda é que o mesmo está ocorrendo com as mulheres jovens, com o agravante de que se trata de um afastamento irritado. A terceira é que as comunidades cristãs enrijeceram o seu modo de crer em formas que pertencem a uma época já passada, não conseguindo imaginar formas culturais e pastorais diferentes para viver o essencial da vida cristã.
Seguindo por contraposições, com o risco de simplificar: na sua opinião, os jovens pressionam por mais coração, menos doutrinalismos; mais espiritualidade, menos moralismos; mais pluralidade, menos rigidez identitária. Uma Igreja assim, que repensa sua própria embalagem, uma vez situada no mercado da oferta religiosa, consegue superar a concorrência e ser escolhida por uma clientela jovem? Seria realmente o fim não da religião de Cristo ou apenas de um certo cristianismo historicamente datado?
Eu olho para o Evangelho: o Senhor Jesus não fez publicidade da sua mensagem, para convencer multidões que, depois de louvá-lo, viraram as costas para ele. Ele disse que o Reino é como um fermento ou uma semente de mostarda... É a autenticidade da vida que “é”, simplesmente, sem tentar convencer ninguém, que pode interpretar a demande de autenticidade do mundo juvenil.
Uma parte substancial das esperanças que você identifica para o futuro reside no modelo monástico (especialmente em algumas de suas encarnações contemporâneas específicas). Quanto e como esse modelo, talvez um pouco elitista, lhe parece “exportável” e “universalizável” no nível das paróquias comuns?
Não acho que o modelo monástico possa ser exportado para a paróquia. Penso antes que o testemunho de uma vida cristã mais espiritual do que ativista, a busca pela autenticidade mesmo a um alto preço e uma vida eclesial mais fraterna podem beneficiar também as paróquias, que precisariam repensar seu modelo pastoral, não para imitar o monástico, mas para se deixar contaminar pela sua riqueza. Por outro lado, acredito que o modelo monástico também deve verificar se o que está vivendo é uma fuga do mundo ou outra forma de estar no mundo.
Então, se você tivesse que resumir a mensagem de seu livro em uma frase, o que diria?
Nas críticas que os jovens fazem à Igreja e ao modelo de cristianismo que ela propõe, há provocações sobre as quais seria necessário refletir com atenção. Em algumas de suas intuições, há indícios para uma reinterpretação da vida cristã em prol de todos. Uma Igreja melhor para todos, uma fé mais autêntica e contemporânea para todos.
Uma pergunta mais pessoal: o que lhe assusta, voltando o olhar para o amanhã eclesial, e o que lhe faz feliz, enchendo-lhe de consolação?
Assustam-me aquelas atitudes que, no nosso tempo, veem as dificuldades como empecilhos ao Evangelho, ao invés de desafios para torná-lo atual; o estado de espírito dos cristãos que se sentem derrotados; a tendência de ver neste tempo de crise apenas os obstáculos e não as oportunidades para uma regeneração das formas do crer. Há experiências autênticas – quase sempre marginais – que parecem dar nova evidência à beleza do Evangelho. Isso, mais do que me encher de consolação, me enche de esperança e de alegria.
Uma pergunta mais “profissional”: em quais temas você está trabalhando neste período? Sobre qual assunto você gostaria de escrever ou acha necessário escrever em um futuro próximo?
São diversos os temas nos quais estou trabalhando. O que eu prezo mais diz respeito aos jovens doentes, especialmente aqueles que estão lutando contra o câncer. Eu gostaria de entender como eles vivem sua doença, como dão sentido à sua vida, como olham para o futuro. Eles também são jovens! Além disso, acho que escutar as experiências-limite nos dá elementos para compreender melhor a “normalidade”. A comunidade cristã tende a ver o mundo do sofrimento e da doença apenas em uma perspectiva consolatória. Acho que a dor deve ser vivida como vida, que é preciso aceitar o desafio de lhe dar um sentido e compartilhar esse sentido. Acredito que, no modo como os jovens vivem o sofrimento, existe a possibilidade de recuperar a dor como experiência de vida, a ser humanizada também por meio da fé.
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Metamorfose do crer. Entrevista com Paola Bignardi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU