18 Março 2024
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 16-03-2024.
Para os rigoristas e os seus terminais mediáticos, vale tudo para amordaçar o Papa Francisco, para que ele não faça nada até o fim do seu pontificado. Por esta razão, quiseram vender a rejeição dos coptas à Fiducia supplicans como mais uma vitória sobre o Cardeal Víctor Fernández e, portanto, mais uma derrota do ecumenismo multifacetado que Francisco tanto procura.
A verdade é que, como quase sempre, mentem ou não contam toda a verdade, o que é a pior das mentiras. Porque devemos saber que a Igreja Copta Ortodoxa, que rejeita o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, assinado pelo Papa, é a mesma que não aceita o Concílio Vaticano II nem o batismo católico. Portanto, se negam o maior (Vaticano e o batismo), é lógico que o façam também com o menor (Fiducia).
A Igreja Copta é uma das poucas igrejas ortodoxas que não reconhece o batismo católico e os convertidos são batizados novamente. E não o reconhecerão enquanto a Igreja Católica continuar a aceitar o Concílio. Enquanto o Vaticano II permanecer em vigor, os coptas nunca aceitarão o batismo católico nem darão passos reais em direção à unidade.
E o fato é que, no Concílio, os Coptas veem a causa de todos os males, entre outras coisas porque a Fiducia supplicans e as outras medidas adotadas pelo Dicastério para a Doutrina da Fé são uma consequência do Vaticano II, que eles querem que Igreja renuncie. Caso contrário, ameaçam romper o diálogo ecumênico.
No ano passado o diálogo parecia ter progredido a tal ponto que o Vaticano permitiu que os coptas ortodoxos celebrassem a sua própria Divina Liturgia na Arquibasílica de São João de Latrão, em Roma. No mês seguinte, num movimento inusitado, o Papa Francisco incluiu 21 fiéis coptas ortodoxos assassinados em 2015 pelo Estado Islâmico, na Líbia, no Martirológio Romano.
Portanto, não é que os coptas neguem a Fiducia suplicans (isso também), mas que a usam como desculpa para romper o diálogo, porque, no fundo, o que eles não aceitam é o batismo católico e nem o Vaticano II. Na verdade, estas são algumas pérolas dos coptas sobre o Concílio em seus documentos oficiais:
“Consideramos que o Concílio Vaticano II introduziu mudanças doutrinárias e litúrgicas que estão em desacordo com a nossa tradição copta ortodoxa, e devemos preservar a nossa fé sem comprometer os nossos valores fundamentais.”
“Vemos com preocupação como algumas decisões do Concílio Vaticano II minaram a autoridade e a coesão doutrinária dentro da Igreja Católica, o que pode ter implicações negativas para a unidade cristã em geral.”
“Acreditamos que o Concílio Vaticano II levou a uma diluição da identidade católica romana e gerou confusão entre os fiéis, em vez de fortalecer a fé e o ensino da Igreja.”
“Não concordamos com a adoção de práticas litúrgicas modernizadas e com a secularização da Igreja que observamos como resultado do Concílio Vaticano II, pois acreditamos que isso compromete a sacralidade e a tradição da nossa fé.”
A maior comunidade cristã do Oriente Médio, os cristãos coptas constituem a maioria dos cerca de 9 milhões de cristãos egípcios. Há cerca de mais 1 milhão de cristãos coptas na África, na Europa e nos Estados Unidos, segundo o Conselho Mundial de Igrejas.
Os cristãos coptas baseiam sua teologia nos ensinamentos do apóstolo Marcos, que introduziu o cristianismo no Egito, segundo a Igreja de Santa Takla, em Alexandria, capital do cristianismo copta.
A língua copta descende dos antigos hieróglifos egípcios, segundo o Conselho Mundial de Igrejas. A palavra "copta" é uma versão ocidentalizada do árabe qibt, que deriva da antiga palavra grega para Egito, Aigyptos.
Centenas de mosteiros coptas já floresceram nos desertos do Egito, mas hoje restam apenas cerca de 20, bem como sete conventos, operados por mais de 1.000 monges coptas e quase 600 freiras.
O chefe da Igreja Copta é o Papa de Alexandria, com sede no Cairo. O atual Patriarca Copta Ortodoxo é Tawadros II.
A Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria é independente e não está em comunhão nem com a Igreja Ortodoxa nem com a Igreja Católica. A separação ocorreu após o Concílio de Calcedônia, em 451, devido a divergências doutrinárias na compreensão da pessoa e das naturezas humana e divina de Cristo.
A liturgia copta tem origens alexandrinas, com aspectos emprestados das liturgias bizantina e síria. Tem uma função catequética muito importante na educação dos jovens. Os bispos são nomeados pelo patriarca, após consulta à comunidade. O bispo consulta a comunidade quando tem de escolher os seus sacerdotes seculares. Os padres coptas casam-se antes da ordenação, mas não podem casar novamente em caso de viuvez.
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Coptas que rejeitam “Fiducia supplicans” também não aceitam o Concílio Vaticano II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU