Igreja e homossexualidade: é necessário um novo paradigma

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17 Fevereiro 2022

 

"A homossexualidade permanece substancialmente condenada. Pelo menos até que se tiver a coragem de colocar a mão no catecismo da Igreja Católica. Dizer a uma pessoa "eu te aceito, mas carregue a cruz abstendo-se de viver quem você é" não significa aceitá-la, mas hipocritamente estigmatizá-la em sua dimensão mais íntima, aquela inerente à sexualidade e à orientação afetiva", escreve Gennaro Pagano, presbítero diocesano de Pozzuoli, psicólogo e psicoterapeuta e diretor da Fundação Centro Educacional Diocesano "Regina Pacis" de Pozzuoli (NA), em artigo publicado por Fine Settimana, 16-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

“É também necessário que os padres possam falar sobre a sua sexualidade e que possam ser ouvidos se têm dificuldades em viver seu celibato. Devem poder falar livremente, sem medo de serem repreendidos por seu bispo. Quanto aos padres homossexuais, e são muitos, seria bom se pudessem falar com seu bispo sem que ele os condenasse. No que diz respeito ao celibato, na vida presbiteral, perguntemo-nos com franqueza se um padre deve necessariamente ser celibatário.

Tenho uma opinião muito elevada sobre o celibato, mas é essencial?”.

Essas afirmações do card. Jean-Claude Hollerich, divulgadas há poucos dias em uma entrevista, destacam uma questão que diz respeito não só ao clero, mas a toda a pregação católica em matéria de sexualidade.

Apesar dos pequenos passos – informais, note-se, ainda que substanciais em nível comunicativo – de Francisco, a sexualidade continua a ser um terreno de difícil relação entre a Igreja e o mundo contemporâneo. E a situação do clero é sintomática dessa relação e deve ser lida à luz da mais ampla consideração eclesial da sexualidade.

A homossexualidade permanece substancialmente condenada. Pelo menos até que se tiver a coragem de colocar a mão no catecismo da Igreja Católica. Dizer a uma pessoa "eu te aceito, mas carregue a cruz abstendo-se de viver quem você é" não significa aceitá-la, mas hipocritamente estigmatizá-la em sua dimensão mais íntima, aquela inerente à sexualidade e à orientação afetiva.

O celibato, além disso - que deveria ser preservado quando escolhido com maturidade e idade idôneas, como acontece com os presbíteros de outros ritos que não o latino - nos últimos anos é escolhido livremente de um ponto de vista formal, mas muitas vezes se escondem abaixo desse nível inconsistências, imaturidades, graves lacunas afetivas que anulam nos fatos a consciente liberdade de quem assume a promessa.

Tornando-se assim um caldeirão em que fervem até explodir os ingredientes da infelicidade pessoal (na melhor das hipóteses) e aqueles do desastre causado aos mais frágeis ou a comunidades inteiras (na pior das hipóteses).

O denominador comum que mantém a Igreja travada, tornando-a incapaz de modificar seus paradigmas em matéria de sexualidade e afetividade é justamente a consideração antropológica de ambas, elaborada ao longo dos séculos por pessoas certamente fortes e santas, mas ainda assim filhos de seu tempo e homens distantes de vivê-las, ou pelo menos vivê-las com serenidade. E, se nesses séculos foi justamente a igreja que criou o paradigma, hoje o controle saiu do seu controle. Pela graça de Deus.

Mas, como o problema é que a sexualidade continua a ser um dos fatores psíquicos, biológicos e sociais determinantes na vida do indivíduo e da comunidade, seria necessário alguém que pudesse testemunhar seu prazer saudável, a autêntica beleza e a relacionalidade necessária para fazê-la florescer.

Mas, empoleirada em posições já não mais compartilhadas pela comunidade social e não raramente levadas adiante por homens que a sublimaram ou reprimiram com resultados às vezes intoleráveis, às vezes perigosos, a Igreja não consegue permanecer fiel à bênção originária de Deus sobre o homem e sobre a tudo o que de amoroso, belo e alegre pertence a ele.

 

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