19 Agosto 2023
A Sessão de Formação Ecumênica do Secretariado de Atividades Ecumênicas (SAE) é sempre uma experiência intrigante pelas emoções, pensamentos e palavras que, espalhando-se, produzem sentido. Em Assis para a 59ª edição, 180 mulheres e homens de diferentes idades e confissões cristãs, judaica e muçulmana imergiram com entusiasmo na aventura proposta pelo SAE, uma associação inter-religiosa de leigos e leigas presidida pela pregadora valdense Erica Sfredda.
A reportagem é de Laura Caffagnini, publicada por Riforma, revista das igrejas Batista, Metodista e Valdense, 18-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O tempo transcorreu intensamente entre mesas redondas, oficinas, liturgias e descontração; dia após dia formou-se uma comunidade ecumênica unida nas diferenças. Ao centro, o tema “Igrejas inclusivas para novas mulheres e novos homens”, partindo da análise deste tempo de mudança longe de uma justiça de gênero. As mulheres ainda são vítimas de feminicídio, violência econômica e psicológica, sexual, disse Debora Spini cruzando estatísticas e revisitando a história do feminismo que em suas diferentes épocas desmascarou os danos do patriarcado e sugeriu novas formas de viver as diferenças. A filósofa alertou contra a tentativa capitalista de "recrutar" o feminismo igualitário e o "feminacionalismo": “o jogo dos movimentos neoautoritários e do populismo de direita etnocêntrico que racializa a liberdade feminina.
Importante, neste tempo, “ouvir as vozes das vidas que o contam, o sofrem, o criticam”, sugeriu Lucia Vantini, presidente da Coordenação das Teólogas Italianas, que ofereceu uma grande contribuição para a sessão. As vozes das mulheres são ricas de uma sabedoria essencial num momento em que precisamos impulsionar as transformações em curso para a construção de um mundo hospitaleiro para com as diferenças.
Um paradigma interdisciplinar em teologia que cruza os conhecimentos das ciências e uma hermenêutica atenta às vozes plurais no texto bíblico são pontos que emergiram das intervenções do teólogo católico Roberto Massaro e da pastora valdense Ilenya Goss no painel "Humano plural, entre a Escritura e o hoje". Desmascarar o horizonte patriarcal em que se baseia a Bíblia e reencontrar os diferentes fios que a tornam um texto plural é possível para qualquer crente, disse Goss. Atenção também é necessária em relação à linguagem para falar de Deus, tema do painel com Marinella Perroni, Vladimir Zelinski e Lidia Maggi. Segundo a biblista batista, a reflexão sobre a linguagem diz respeito à liturgia, ao anúncio e como ser igreja. O contexto ecumênico questiona as igrejas sobre o seu ser realidades inclusivas que acolhem e reconhecem as diferenças. Será uma ética libertadora, segundo o pastor valdense Gabriele Bertin, aquela que será posta como finalidade última da liberdade vivida como responsabilidade exercida no respeito.
A diferença de gênero também desafia os ministérios. Para a teóloga Serena Noceti é possível pensar na ordenação diaconal das mulheres na Igreja Católica, que responde a uma prática antiga do cristianismo e reconheceria um estado de fato na América Latina. Na Ortodoxia, disse o bispo Atenágoras Fasiolo, as mulheres, apesar de estarem muito empenhadas no serviço, não exigem ministérios femininos.
Na Igreja Adventista, mesmo dirigindo as igrejas locais, as pastoras ainda não são oficialmente reconhecidas, disse Davide Romano.
O tema justiça de gênero foi debatido na mesa inter-religiosa moderada por Brunetto Salvarani. Para Paola Cavallari, fundadora do Observatório Inter-religioso sobre as violências contra as mulheres, o pensamento da diferença superou a meta da igualdade que havia sido interpretada como assimilação. O acesso das mulheres a papéis de poder deveria ser uma refundação dos direitos a partir das diferenças. Segundo a muçulmana Zineb Moujoud, para entender as dinâmicas entre os gêneros na religião é importante distinguir cultura e tradições dos ensinamentos do Alcorão em que homens e mulheres são iguais. Ao apresentar os relatos sobre a criação, a estudiosa judia Sarah Kaminski destacou a importância da divisão entre os gêneros que dá direito a uma existência autônoma e complementar.
Por fim, a teóloga valdense Letizia Tomassone trouxe as instâncias das mulheres para a igreja presente e futura: uma igreja que possa ser inclusiva e que deixe espaço e voz para aqueles que estão na soleira; que não tenha respostas prontas sobre temas éticos; que saiba colocar as interseções entre gênero, identidade, cultura, classe como base para práticas transformadoras da igreja e da sociedade.
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Que tipo de igrejas para novas mulheres e novos homens? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU