08 Novembro 2022
"O sucesso do Sínodo é relevante para a Igreja e toda a sociedade alemã e um bom presságio para o Sínodo universal", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Domani, 07-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
De 14 a 18 de novembro, os setenta bispos alemães são esperados para a visita ad limina a Roma. O tema mais delicado e discutido é o sínodo alemão. Aberto com sua primeira sessão em 30 de janeiro de 2020, o Synodalen Weg chegou a celebrar a quarta sessão de 8 a 10 de setembro e se encerrará em março de 2023. O processo é acompanhado desde o início pela suspeita de uma deriva cismática.
As esperadas mudanças normativas e teológicas preparariam uma saída do catolicismo alemão da catolicidade da Igreja. Nos círculos tradicionalistas e curiais, já é considerado provável, se não certo.
Por outro lado, eles não percebem os cismas já em curso, como a saída massiva dos crentes da pertença confessional (em trinta anos os católicos caíram de 28,3 milhões para 22,2) e o estranhamento dos crentes em relação às indicações morais que, nas gerações mais jovens, resultam completamente removidas. É muito difícil de explicar hoje a grave condenação moral da masturbação ou da coabitação antes do casamento.
É curioso que só os opositores falem em cisma. Nenhuma voz interna, nem de indivíduos nem de grupos, jamais acenou a ideia. Um dos protagonistas me dizia: “Para fazer um cisma nacional seria preciso um monte de dinheiro, um respaldo forte no poder político e, acima de tudo, uma interpretação original do cristianismo. Não há nenhuma dessas condições. Nossa referência é o Evangelho, o Vaticano II e o Papa Francisco. Ninguém quer um afastamento de Roma”.
Num comunicado conjunto do presidente da Conferência Episcopal, George Bȁtzing, e do presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), Irme Stetter-Karp, após a nota crítica da Secretaria de Estado de 21 de setembro de 2022, explica-se: "Nunca nos cansaremos de enfatizar que a Igreja na Alemanha não visa um 'percurso especial alemão'”.
Um sinal do esforço e da coragem da Igreja alemã é a sofrida condição dos bispos.
Primeiro o Cardeal Reinhard Marx (Munique), depois D. Stefan Hesse (Hamburgo), agora D. Ludwig Schick (Bamberg) apresentaram pedido de demissão, ainda que o papa tenha aceitado apenas o de Schick. A difícil gestão dos abusos se soma ao trabalho pastoral normal e aos exigentes pedidos de reforma.
O detonador que provocou o recurso ao sínodo nacional foram os números dos abusos. No estudo discutido pelos bispos em 2018, foram registradas 3.677 vítimas e 1.670 padres predadores entre 1946 e 2014. Números ainda mais inflados pelos relatórios diocesanos que ainda estão saindo, reabrindo sempre as feridas.
Estima-se que 5,1 por cento dos padres estejam envolvidos (atualmente pouco mais de 12.000). A reação pública foi muito forte com a consequente queda da credibilidade da Igreja.
Mas os abusos expuseram problemas mais amplos e radicais. Incomodam a Igreja há décadas e já encontraram expressão no Sínodo de Würzburg (1971-1975): está em ato uma crescente erosão e decaimento da fé, uma grave crise no clero, uma necessária renovação da pastoral.
Diante da deterioração da credibilidade, algumas reformas estruturais são a condição mínima para poder recomeçar. A tarefa principal, que é a do anúncio e da evangelização, está ligada à credibilidade das estruturas eclesiais.
“Devemos chegar a algumas decisões sobre a estrutura eclesial – ressalta o meu interlocutor – para obter uma credibilidade perdida. Sabemos que a reforma eclesial não nasce de uma assembleia sinodal, mas do testemunho cristão de cada crente e do movimento sinodal global da Igreja. A verdadeira questão é a evangelização em uma sociedade pós-secular, mas sem reformas inclusive estruturais não conseguiremos”.
Os 230 sinodais, incluindo os 70 bispos, se dividiram em quatro fóruns: poder e responsabilidade na Igreja, o papel das mulheres, os padres e suas vivências, o amor e a sexualidade. Cada fórum elaborou um documento de referência e um segundo texto de indicações práticas. A estes foram adicionados outros.
Alguns já foram aprovados (como o texto sobre poder e responsabilidade e o papel da mulher).
Um foi rejeitado, aquele sobre a sexualidade, mas será reproposto como material para o sínodo universal. Os demais devem chegar a amadurecer com a última assembleia.
A aprovação ocorre com dois terços dos sinodais e dois terços dos votos dos bispos. Por isso, exige uma ampla convergência. E, em todo caso, os textos não são vinculantes e são confiados aos bispos individualmente no que diz respeito à sua execução prática.
Em sua elaboração posterior, as posições mais radicais desapareceram, como o pedido de ordenação presbiteral para as mulheres ou a abolição do celibato eclesiástico. Mas não faltam pedidos exigentes como a formação de um "conselho sinodal permanente", o envolvimento das mulheres nos serviços eclesiais (do ensinamento às funções curiais), uma renovação radical na formação dos padres, o espaço para os "viri probati " e por um serviço de presidência não litúrgica para leigos com formação teológica e para crentes de reconhecida autoridade, uma abordagem positiva e menos normativa sobre a sexualidade, incluindo a homossexualidade, a continuação da pesquisa sobre ministérios ordenados para as mulheres.
Temas que se refletem nos relatórios das conferências nacionais para o sínodo universal e no documento, recentemente publicado, para sua etapa continental.
A amplitude e o número de textos dificultaram a comunicação externa e, em particular, com Roma, onde as vozes mais críticas chegaram com mais facilidade.
Só recentemente houve um esforço para um diálogo direto de alguns bispos com as instâncias romanas.
As traduções para outras línguas dos textos foram escassas e as relações com episcopados vizinhos pouco cultivadas.
Como confirmação do trabalho sinodal, mas também como crítica, dever-se-ia reler a carta do Papa Francisco ao "povo de Deus que está em caminho da Alemanha", sobretudo quando enfatiza a dimensão horizontal e vertical do processo, a centralidade da evangelização, a relação entre Igrejas locais e Igreja universal, o perigo da burocratização e da redução elitista do povo de Deus (29 de junho de 2019).
Pungentes, mesmo que não numerosas, as críticas internas: do Card. Rainer Maria Wölki (Colônia) aos bispos Stephan Oster (Passau), Rudolf Voderholzer (Regensburg), Dominukus Schwaderlapp (auxiliar Colônia), Gregor Maria Hanke (Eichstȁtt) etc.
De maior repercussão pública as posições contrárias do card. Gerhard Ludwig Müller e de dois outros cardeais certamente não classificáveis como conservadores como Walter Kasper e Kurt Koch. Três grupos episcopais interviram: polonês (fevereiro de 2022), alguns países do norte da Europa (março de 2022) e cerca de setenta bispos entre Estados Unidos e África (abril de 2022).
As respostas de D. Bȁtzing podem ser resumidas da seguinte forma: as observações muitas vezes não correspondem ao que foi realmente discutido e aos textos aprovados; o sínodo está bem ciente do que é possível implementar em nível local e do que envolve toda a Igreja; continuar como sempre foi feito produz sérios danos para as comunidades do futuro; o problema dos abusos envolve praticamente todas as Igrejas e é preciso enfrentá-lo com vigor; tudo o que se sedimentou na história não pode ser atribuído ao depositum fidei; o espírito dos tempos e suas derivas culturais são algo muito diferente dos "sinais dos tempos" que o Concílio indicou como necessários para compreender a ação de Deus na história humana.
O sucesso do Sínodo é relevante para a Igreja e toda a sociedade alemã e um bom presságio para o Sínodo universal (2023-2024).
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A Igreja teme o cisma da Alemanha, mas não vê aqueles que já estão em curso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU