23 Outubro 2019
"Aplicação de Laudato si' e novos caminhos" serão os temas no centro do Documento Final do Sínodo sobre a Amazônia. Também "o diaconato permanente", que é "significativo e útil para a vida da Igreja, não apenas na Amazônia". Assim se manifestou o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena e presidente da Conferência Episcopal da Áustria. O cardeal que faz parte da Comissão para a elaboração do Documento Final fala com "Avvenire" à margem do briefing de ontem, dia em que foi apresentado aos padres sinodais um primeiro rascunho do texto que em sua forma final será votado no próximo sábado.
A entrevista é de Stefania Falasca, publicada por Avvenire, 22-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eminência, por que era importante para toda a Igreja fazer um Sínodo especial sobre a Amazônia?
O Papa Francisco nos disse uma palavra significativa: "Eu tive essa intuição". Para mim, significa o seguinte: o Senhor quer nos dizer algo através da Amazônia, através desses povos ameaçados que são os mais vulneráveis naquele continente e esquecidos pela política do mundo. Meu pensamento pessoal é que o Papa quis colocar no centro os mais fracos e os mais pobres, porque eles são os que nos dão o Evangelho.
O que o senhor aprendeu nessas duas semanas ouvindo tantas instâncias?
Nunca estive na Amazônia. E minha primeira reação ouvindo foi: não temos que ensinar a Amazônia, mas devemos dar nossa contribuição para dar voz aos povos que são ameaçadas, como o Papa Francisco nos exorta, mas também nos perguntar qual é a nossa contribuição para o perigo ambiental contingente desta imensa região devido à extração brutal prejudicial à natureza e às pessoas. Aprendi muito principalmente sobre esses povos indígenas que vivem ameaçados há 500 anos e o que significa estar sob pressão há séculos. Portanto, é vital despertar a consciência de todos para o destino dessas populações, prestar atenção e dar voz a esses povos. A Igreja está nesta região diante de numerosos desafios pastorais.
Que propostas apareceram, por exemplo, a respeito dos ministérios?
Acredito que sobre isso se deve considerar o que o Vaticano II nos diz: que é todo o povo de Deus que precisa de ministérios, mas, antes de tudo, diz que é um povo santo e sacerdotal, como afirma a Bíblia. Um povo que caminha junto pelo caminho do Evangelho e antes de focar sobre os ministérios o acento deve ser posto no sacerdócio único dos batizados, no chamado universal à santidade, no testemunho de fé. Nós nos perguntamos por que os pentecostais em toda a Amazônia estão sendo tão bem-sucedidos. O que Deus nos diz através disso? Primeiro, devemos nos perguntar o que devemos aprender para nossa pastoral, porque se trata de um desafio missionário não apenas para a Amazônia, mas para toda a Igreja. No Sínodo, falou-se muito sobre a falta de sacerdotes na Amazônia, também se falou de solidariedade vocacional para ajudar nessa situação.
Qual sua opinião?
A partir das estatísticas que recebi, aprendi que apenas da Colômbia 1.200 padres estão atualmente trabalhando nos Estados Unidos, Canadá e Espanha. Destes, pelo menos uma parte poderia estar disposta a ir para a Amazônia. Nós todos conhecemos a situação da distribuição dos sacerdotes: a Europa tem, por exemplo, uma superabundância de clero vindo de fora do continente, e isso, sejamos honestos, também se deve ao fato de haver mais bem-estar e um salário melhor do que nas áreas pobres do mundo. Somos gratos pela ajuda que também recebemos na diocese de Viena por parte de presbíteros provenientes de outros países, mas a justiça deveria tratar sobre isso.
Segundo ponto: a solidariedade vocacional. Toda a Igreja, não apenas na América Latina, é corresponsável pela Amazônia. Se, portanto, há urgência, a Igreja universal deve fazer esforços, como fez, por exemplo, a Itália no passado. Depois, há também a questão do chamado vocacional. No Sínodo, está presente o primeiro indígena a se tornar presbítero. Ouvimos o seu testemunho. E aqui também, creio, temos que fazer um pouco de autocrítica, não tivemos confiança e agora temos dificuldades pastorais.
Sobre os "viri probati", que propostas considera possíveis?
Penso que o diaconato permanente é muito significativo e útil para a vida da Igreja. É uma possibilidade que o Vaticano II abriu, embora tenha sempre existido na Igreja. O meu antecessor em Viena, o cardeal König, contribuiu grandemente para a abertura dessa possibilidade. Então eu sou a favor. Em Viena, temos 180 diáconos permanentes, a maioria é casada e presta seu serviço nas paróquias e comunidades, no âmbito social. Portanto, o diaconato permanente pode ser uma das propostas para essa região do mundo, para ajudar a pastoral nesse imenso território.
Qual será o coração do Documento final?
O coração são os "novos caminhos". Porque todos nós precisamos de novos caminhos para a ecologia por tudo o que a ameaça. Novos caminhos de desenvolvimento, novos caminhos para a economia, porque sempre - e esta é a chave da doutrina social da Igreja - a economia está sempre intimamente ligada com a pessoa humana. Portanto, novos caminhos para uma ecologia sustentável que não pode acontecer sem uma maior atenção à realidade das pessoas, porque devemos pensar em salvar a floresta amazônica e claramente também as pessoas que vivem na floresta. E este é um ponto central. Bento XVI já havia acenado isso: a ecologia é sempre uma ecologia sustentável humana e ambiental.
Uma espécie de documento de trabalho com base na Laudato si '...
Um trabalho para sua aplicação. O Papa Francisco disse o essencial na Laudato Si'. O principal ponto de referência é, portanto, a Laudato si' e sua aplicação concreta à situação da Amazônia.
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Schönborn: os viri probati? Valorizemos o diaconato - Instituto Humanitas Unisinos - IHU