06 Setembro 2022
A Irmã Katharina pede o fim do celibato obrigatório. No livro “Wir kônnen auch anders” (“Também podemos fazer diferente”), religiosos e religiosas expressam suas ideias sobre a Igreja, levando em conta também a vida conventual. As limitações dos encargos e o envolvimento das mulheres nas comunidades religiosas podem ser um exemplo, explica a Irmã Katharina Kluitmann (ex-presidente da Conferência Alemã das Superioras Maiores).
A entrevista com Katharina Kluitmann é editada por Heike Sicconi, publicada por Dom Radio, 04-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Um monge deve fugir absolutamente das mulheres e dos bispos”. O prior cisterciense Bruno Robeck inseriu a citação de Cassiano no livro que você publicou junto com o teólogo Marcus C. Leitschuh. O tema a que se refere o padre Robeck é o papel das pessoas à frente dos mosteiros que são eleitas pro tempore, ou seja, temporariamente. Que impulso importante para a Igreja Robeck expressa nessa questão?
Padre Bruno procurou esclarecer com algumas expressões típicas de seu humor seco qual o papel que as ordens religiosas podem desempenhar em relação aos cargos de liderança na Igreja. Por exemplo, em quase todos os mosteiros, os cargos são dados por tempo. Ele escreve isso de forma muito elegante.
Durante séculos, entre os beneditinos, havia apenas uma possibilidade de pôr fim ao cargo recebido por eleição, ou seja, a morte do abade, que em alguns casos, por falta de alternativas, era ativamente provocada. Naturalmente, esta não é uma boa maneira de resolver o problema a longo prazo.
Em quase todas as comunidades temos eleições, em quase todos os lugares temos cargos por tempo. Temos a obrigação de prestar contas aos líderes. Os líderes não estão entre nós pela graça de Deus, mas são eleitos pela comunidade e devem prestar contas à própria comunidade. Somos simplesmente Igreja um pouco diferente. Não melhor, mas diferente.
Você está muito envolvida no Caminho Sinodal cujo próximo encontro se aproxima. Você acha que os bispos podem aprender alguma coisa com isso?
Com certeza é o que pensamos. Nós, autores e autoras desse livro, religiosas e religiosos, também estamos de acordo sobre o fato de que algumas coisas que são católicas já estão presentes na Igreja, e talvez possam ser adotadas.
Um dos principais temas do Caminho Sinodal é o papel da mulher na Igreja. Que contribuição as experiências das religiosas nessas múltiplas comunidades monásticas podem dar a esse respeito?
Pois bem, cerca de três quartos das congregações na Alemanha e também no mundo são femininas. Isso significa que vivemos justamente dessa forma. Vivemos o fato de que as mulheres têm papéis de liderança. Nós vivemos isso de forma relativamente ampla. Claro que pertencemos à Igreja, mas vivemos de forma relativamente autônoma. Exercemos o papel de liderança e não necessariamente o fazemos mal.
Nesse livro, a Irmã Scholastica Jurt reflete em uma oração o que significa que as mulheres sejam excluídas de tantas coisas. A irmã Katharina Ganz estima que 21% dos socorristas são mulheres, e que essa já é uma grande parcela. Mas isso pode melhorar. Damos maior importância ao batismo, que confessamos publicamente em nossa profissão de fé. Damos mais importância ao batismo do que à ordenação, mas achamos que também as mulheres poderiam receber a ordenação, e isso seria bom para a Igreja. E é interessante que nesse livro, sem ter acertado previamente, expressamos opiniões semelhantes sobre esse ponto.
E como está a situação em relação à obrigação do celibato? A tendência é a favor ou contra?
A tendência é mais contra a obrigação. Pode-se dizer que isso é muito surpreendente porque também vivemos uma vida como celibatárias e solteiras. Mas precisamente porque vivemos como celibatárias e solteiras e que este é um carisma importante para nós, não queremos que seja desacreditado pelo fato de ser obrigatório. Pelo fato de alguns tomarem isso como garantido. Que pode haver a suspeita de que simplesmente é tido como garantido. É algo que deve ser feito livremente, voluntariamente. Fazemos isso por amor. E se for feito por amor, então tudo bem. Viver com solteiras ou solteiros não é pior do que o casamento ou outras formas de vida. Mas deve ser feito livremente. Estamos bastante de acordo quanto a isso.
Neste período aqui na Alemanha discute-se muito acaloradamente sobre os temas do Caminho Sinodal. Em Roma, tudo isso é contido, visto com um olhar crítico. Porque tal processo, dizem eles, só pode ser feito em nível da Igreja universal. O que a freira indiana Daisy Panikulam diz sobre isso em seu livro?
Bem, estamos muito felizes por ter a Irmã Daisy entre nós. Ela também é uma sinodal, como todas as autoras e os autores do livro. E fala muito claramente que para ela não é plausível frear as reformas com o argumento da Igreja universal. E que vê que os problemas enfrentados na Igreja alemã também existem na Índia.
E também descreve como é difícil enfrentar abertamente esses problemas na Índia, incluindo a questão dos abusos, que foi o gatilho do Caminho Sinodal, não devemos esquecer isso. Ela tem exatamente esse duplo ponto de vista cultural: quase 32 anos na Alemanha, mas vinda de uma comunidade indiana e criada na Índia. Isso é muito interessante. Caros irmãos e irmãs, acredito que posso dizer que para mim o destaque é esse pequeno, mas realmente bom, artigo da irmã Daisy.
A quarta assembleia geral do Caminho Sinodal começa na próxima semana. Você vai participar. Qual é a sua principal preocupação? Mesmo levando em conta as vozes que você coletou e inseriu em seu livro?
Pessoalmente, volto à batalha relativa ao celibato obrigatório. Nós, religiosas e religiosos, estamos em posições muito diferentes. Acredito que o que podemos oferecer, justamente nós como religiosos e religiosas, é que nas questões individuais (o que fazemos com as mulheres? O que fazemos com o celibato obrigatório? Como está a situação sobre o poder dos bispos?) podemos ir mais além e dizer: gente, podemos aprender a comunicar? Como enfrentamos o medo? Como abordamos as discussões? Como gerenciamos a comunicação? E acredito que nós, religiosas e religiosos, temos uma vantagem, porque estamos em comunidades menores, porque somos mais flexíveis.
Talvez também porque entre nós a crise já está mais avançada. E não se trata dos impostos eclesiásticos, dos quais nada recebemos. Tivemos que enfrentar a crise já há algum tempo e acho que isso nos fez bem. Isso nos ajuda a pensar além, a pensar de modo novo. E sempre temos muitos contatos com as pessoas. E isso nos ajuda a acompanhar os tempos e não ficar séculos para trás.
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“O celibato deve ser voluntário”. Entrevista com Katharina Kluitmann - Instituto Humanitas Unisinos - IHU