08 Junho 2022
Juan José Tamayo, secretário-geral da Associação de Teólogos João XXIII, não tem muitas expectativas sobre a assembleia sinodal, promovida pela Conferência Episcopal Espanhola, que ocorre neste sábado. O objetivo do encontro é examinar e analisar as propostas apresentadas pelas dioceses. As de Andaluzia e da Catalunha receberam pedidos para que seja abolido o celibato sacerdotal e aprovado o acesso da mulher aos ministérios. Tamayo, muito crítico à hierarquia católica espanhola, argumenta que a presidência do cardeal Juan José Omella é um simples reboco de fachada.
A entrevista é de Antonio Paniagua, publicada por La Verdad, 07-06-2022. A tradução é do Cepat.
Que análise você faz da assembleia sinodal dos bispos espanhóis que ocorre neste sábado?
É uma tentativa de ruptura com a rigidez do funcionamento das estruturas da Igreja católica. A lógica democrática aconselha que essas petições cheguem às instâncias vaticanas. Mas é aí que eu acredito que haverá um corte. Temo muito que essa consulta acabe em nada, em uma miragem.
Por quê?
Primeiro, não sei se a Conferência Episcopal irá transmitir essas demandas ao Vaticano e se serão enviadas ao sínodo. E em segundo lugar, considero praticamente impossível que o Papa as referende no documento sinodal.
Não estou dizendo tudo isso sem pensar, mas simplesmente porque nos casos do sacerdócio feminino ou do celibato opcional, seria necessário dizer o que Dante Alighieri escreveu em A Divina Comédia, referindo-se às portas do inferno: “Deixai na entrada toda esperança”.
O que significa essa rejeição?
A confirmação da estrutura hierárquica, piramidal e patriarcal da Igreja católica, que certamente não levará em conta as legítimas reivindicações da comunidade cristã. Tomara que eu esteja equivocado.
Há argumentos teológicos contra o celibato?
Não, é uma prática eclesiástica tardia que pode ser revisada sem nenhum problema. E o mesmo pode ser dito do acesso das mulheres ao ministério ordenado. Todos os crentes católicos são iguais pelo batismo, por isso não faz nenhum sentido que haja discriminações étnicas, de gênero, cultural ou de identidade sexual.
Neste momento, domina na Conferência Episcopal uma sensibilidade aberturista ou conservadora?
A Igreja espanhola se move em um ambiente adaptacionista. Não vejo que tenha havido uma mudança importante com a presidência do cardeal Juan José Omella à frente da Conferência Episcopal.
É verdade que há um clima mais dialógico e respeitoso, mas no fundo a rigidez das estruturas eclesiais continua em pé. Prova disso é que nas fotos publicadas pela imprensa, por ocasião da inauguração das assembleias plenárias da Conferência Episcopal Espanhola, não se vê, no lugar da presidência, nenhuma mulher, nenhum leigo.
Com base em que você atribui à Igreja católica um empenho constante em dizer “não” a tudo?
Fiz um estudo recente de documentos episcopais, desde 1977, e observei que a hierarquia é contra a interrupção voluntária da gravidez, a eutanásia, as relações pré-matrimoniais... Diz não aos preservativos, à masturbação, à homossexualidade, ao matrimônio igualitário. Não ao sacerdócio das mulheres, à pílula do dia seguinte, à opção celibatária livre, ao feminismo, que consideram coisa do diabo, aos direitos sexuais e reprodutivos, à teoria de gênero, que desqualifica e despreza chamando-a de ideologia... e assim sucessivamente.
Ao que diz “sim”? Para a castidade. Essa aparente moderação da atual hierarquia é um simples reboco de fachada, de forma alguma acredito que a hierarquia atual tenha o caráter profético do período de Francisco, um papa que se mostrou contra o neoliberalismo.
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“O celibato e o sacerdócio masculino são práticas tardias na Igreja”. Entrevista com Juan José Tamayo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU