Hans Küng. A obra dentro da vida

Foto: Muesse | Wikimedia Commons

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09 Dezembro 2021

 

“Recebi como dom uma vida rica sob todos os pontos de vista. Não estou ‘cansado da vida’ mas ‘satisfeito com a vida’. De acordo com a Bíblia, tanto Abraão quanto o rei Davi e estão "cheios de dias". Esta é a frase-testamento que acompanhou nos últimos momentos de sua longa vida o teólogo suíço e sacerdote católico Hans Küng, falecido em abril de 2021 aos 93 anos. E um livro, editado por seu colaborador mais próximo, Stephan Schlensog, acompanha os traços acadêmicos (mesmo os mais acidentados, como a suspensão da cátedra de Teologia em uma universidade católica por decisão do antigo Santo Ofício), mas também existenciais do teólogo de Tübingen.

 

A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada por Avvenire, 07-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

O volume (Queriniana, páginas 192, euro 22) já muito evocativo no título traz o sentido de seu motivo: Hans Küng. L’opera di uma vita (Hans Küng. A obra de uma vida, em tradução livre). O texto representa uma homenagem póstuma ao grande pensador e especialista do Concílio Vaticano II e reúne contribuições de grandes estudiosos que, com suas chaves hermenêuticas, explicaram em profundidade quem realmente foi Küng. Graças aos ensaios de Claus Dirksmeier, Hermann Häring, Johanna Rahner e Perry Schmidt-Leukel, também emergem traços biográficos menos conhecidos de Küng, da paixão por Karl Barth (a quem dedicou sua tese de doutorado), o amado Mozart, Lutero, à estima de um gigante insuspeito de simpatias kungianas como Hans Urs von Balthasar, por seu ensaio juvenil A Igreja.

 

Hans Küng. L’opera di uma vita

 

Acima de tudo, o livro permite retomar seus textos mais significativos e retornar idealmente também às suas contribuições mais controversas, como o famoso livro de 1970 Infalível? que tentou, à sua maneira, minar a primazia da infalibilidade petrina sancionada pelo Vaticano I (sua tese foi rejeitada por um teólogo certamente não conservador como Karl Rahner).

 

Afloram as palavras de estima de dois colegas e professores como Küng, destinados, no pontificado de João Paulo II, a se tornarem cardeais como Karl Lehmann e Walter Kasper, e como ambos se pronunciaram em defesa do amigo e de sua teologia. Mas também emerge sua visão de 1968, sua contestação à encíclica Humanae vitae de Paulo VI, o diálogo com as religiões não-cristãs, o confronto sobre a figura de Jesus e o "Cristo da fé" que ele manteve com seu colega na Universidade de Tübingen e quase contemporâneo de Joseph Ratzinger.

 

Dos instantâneos deste livro, no entanto, emerge a atenção de Küng para a vida da Igreja Católica, sua atenção para o esporte (ele era um exímio nadador), pela dignidade ("o pudor do testemunho", como diria Paul Ricoeur) com a qual ele levou sua existência até o fim lutando contra o mal de Parkinson.

 

A publicação não esconde a "hermenêutica das diferenças", segundo uma feliz definição de Yves Marie Congar, que caracterizou toda a vida de Küng, mas presta homenagem a um homem que apesar de tudo (incluindo a admiração das Igrejas Evangélicas da Alemanha por seu pensamento) sentiu-se um teólogo em comunhão, a seu modo, com a Igreja de Roma.

 

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