A “alternativa católica” à pílula do dia seguinte

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: André | 05 Fevereiro 2013

De acordo com o cardeal de Colônia, Joachim Meisner, os novos conhecimentos científicos permitem distinguir entre evitar a fecundação e impedir a implantação do ovócito fecundado no útero.

A reportagem é de Andrea Tornielli e está publicada no sítio Vatican Insider, 03-02-2013. A tradução é do Cepat.

Depois das polêmicas em torno do caso da jovem que foi vítima de uma violação a quem dois hospitais de Colônia negaram o fornecimento da pílula do dia seguinte, o cardeal Joachim Meisner, arcebispo da cidade, disse essas palavras que abriram a possibilidade de oferecer a pílula e que foram recebidas com satisfação pelos agentes de saúde da Alemanha.

O delegado da Associação dos Hospitais Católicos, Thomas Vortkamp, disse, em uma entrevista ao sítio www.domradio.de, que as declarações do cardeal contêm “muitos esclarecimentos sobre como deverão comportar-se os hospitais católicos no futuro em relação às vítimas de violência. Para nós é importante que os colaboradores nos hospitais tenham as coisas claras: que seja um dever oferecer ajuda às mulheres em dificuldades, desde a acolhida até a ajuda posterior”.

Vortkamp também explicou que “muitas incertezas foram eliminadas” e que sob o nome de “pílula do dia seguinte” encontram-se muitos produtos com diferentes princípios ativos: “No passado, a pílula do dia seguinte sempre era considerada como uma pílula abortiva e condenada apenas deste ponto de vista. Sempre seremos contra a pílula abortiva. Mas nos casos de mulheres violadas, é útil esclarecer as coisas para poder oferecer-lhes uma pílula do dia seguinte como prevenção. Se a mulher, com a pílula do dia seguinte recebe ajuda no sentido da prevenção, ótimo. Mas se, por exemplo, já houve uma implantação, é preciso discutir como se deve proceder. E se a mulher opta pelo aborto, então é preciso explicar que deve ser realizado em outro hospital”.

Das palavras do delegado da Associação dos Hospitais Católicos se deduz que a pílula do dia seguinte não é considerada abortiva, porque não age após a implantação, mas antes, para impedir a fecundação ou a implantação do ovócito fecundado. Mas o cardeal, para dizer a verdade, fez a respeito uma distinção muito clara e precisa, pois explicou que se a pílula “for usada com a intenção de impedir a fecundação, então, do meu ponto de vista, é aceitável”.

Ao contrário, seu uso “não é aceitável” quando é usada para impedir que um óvulo já fecundado se implante no útero. Meisner, o cardeal alemão mais em sintonia com Bento XVI, de quem é amigo pessoal, indicou que com as novas tecnologias científicas é possível distinguir entre uma e outra situação.

Em 2005, a Pontifícia Academia para a Vida expressou-se a respeito da pílula com uma declaração que diz: “A pílula do dia seguinte é um preparado a base de hormônios que, dentro de e não mais do que 72 horas após um ato sexual presumivelmente fértil, tem uma função predominantemente ‘anti-implantação’, isto é, impede que um possível ovo fertilizado (que é um embrião humano), agora no estágio de blástula de seu desenvolvimento (cinco a seis dias depois da fertilização) seja implantado na parede uterina por um processo de alteração da própria parede. O resultado final será assim a expulsão e a perda desse embrião. Somente se a pílula fosse tomada vários dias antes do momento da ovulação poderia às vezes agir impedindo a mesma (neste caso ela funcionaria como um típico ‘contraceptivo’)”.

O mesmo documento indicava que o uso da pílula do dia seguinte, “é realmente nada mais do que um aborto quimicamente induzido. Não é intelectualmente consistente nem cientificamente justificável dizer que não estamos tratando da mesma coisa. Além disso, parece suficientemente claro que aqueles que pedem ou oferecem essa pílula estão buscando a interrupção direta de uma possível gravidez já em progresso, da mesma forma que no caso do aborto. A gravidez, de fato, começa com a fertilização e não com a implantação do blastocisto na parede uterina, que é o que tem sido implicitamente sugerido”.

É preciso recordar que, normalmente, as legislações estatais e nos protocolos de saúde o efeito de impedir a implantação do óvulo fecundado não é considerado abortivo, posto que muitos casos acontecem naturalmente, ao passo que se define aborto a destruição de um óvulo já implantado no útero (efeito que não se obtém com a pílula do dia seguinte, mas com a pílula RU486). Para a Igreja, ao contrário, a ação de evitar a implantação deve ser considerada abortiva.