27 Julho 2021
Nas missões o espanto pelo negacionismo no vax do Ocidente.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 25-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Na África, menos de 2% da população foi coberta pela vacinação. Não sabemos como está a situação na savana, nos campos – afirma ao Stampa.it o missionário comboniano padre Giulio Albanese -. A saúde é um dom de Deus e a vacina é saúde, salvação. Rejeitá-lo como acontece no Ocidente é uma forma incompreensível de obscurantismo. Significa retornar às lógicas medievais, ao pior obscurantismo. Ninguém pode se dar ao luxo de ser negacionista diante de uma tragédia coletiva desse porte”.
Padre Giulio Albanese faz parte da congregação dos missionários combonianos. Dirigiu o "New People Media Center" em Nairóbi no Quênia, fundou a agência missionária internacional Misna e foi responsável pelas revistas das Pontifícias Obras Missionárias (Missio, Popoli e missioni, Il Ponte d'Oro), desde 2018 é diretor da revista "Amici di Follereau" e é membro do Comitê para as intervenções caritativas em favor dos países do Terceiro Mundo da Conferência Episcopal italiana.
“O negacionismo e a irracionalidade no vax no Ocidente demonstram a necessidade de uma catequese dos adultos que mostre quão profundamente o pontificado de Francisco esteja enraizado nas Escrituras e na tradição.
Hoje comemoramos o Dia dos Avós. Por que eles não levantaram esses problemas absurdos com a vacina da poliomielite e da varíola?” O padre Aldo Buonaiuto, sacerdote de fronteira da Comunidade Papa João XXIII, está há anos envolvido com os corredores humanitários no canal da Sicília. “Na África ainda hoje acontecem massacres terríveis devido a uma indisposição banal que um antibiótico poderia curar em poucos minutos. Enquanto isso, o homem ocidental não encontra nada melhor do que trazer à tona marcianos, 5G, nanochips, linhas celulares inexistentes na tentativa de jogar fora o que está protegendo milhões de pessoas frágeis e permitindo que a saúde pública com dificuldade se recupere após o primeiro tsunami pandêmico - afirma dom Buonaiuto-. As imagens chocantes de vítimas de Covid abandonadas nas ruas em países pobres desafiam a nossa consciência e tornam ainda mais gritante a subestimação generalizada da tragédia em andamento. Quanto mais se estende a mancha negra de morte do ‘vírus assassino’, mais incompreensível é a negação de uma situação globalmente devastadora”.
Dom Buonaiuto acrescenta: "No mesmo momento em que perdem a vida na Amazônia ou na Indonésia milhares de pessoas inocentes devido à falta de instrumentos sanitários mínimos, como um cilindro de oxigênio ou a possibilidade de suporte médico, colossais teorias conspiracionistas estão sendo construída no Ocidente para rejeitar o dom do Espírito Santo que consiste em remédios seguros e eficazes, como a vacinação em massa”. Tudo isso, segundo Dom Buonaiuto, é “fruto de uma mentalidade supersticiosa e visionária que vê o mal onde está o bem e o bem onde está o mal. Sem as descobertas científicas, surgidas da graça de uma inteligência individual e coletiva orientada para o bem comum, ainda morreríamos de patologias hoje classificadas como mal-estares banais. Antes da penicilina, um simples corte era suficiente para causar gangrena. Sem antitetânica, qualquer acidente doméstico podia ser letal.
“A nota mais discordante é a de quem não encontra nada melhor do que crucificar o Vigário de Cristo pelo bom senso e pela humanidade com que o Papa Francisco definiu como um dever moral vacinar-se e uma obrigação internacional garantir as doses também para as nações mais pobres. Em suma, a bioética, os princípios não negociáveis, a fidelidade à auctoritas papal são válidos de forma intermitente, apenas quando servem para sustentar algumas posições em detrimento de outras. É totalmente oportuna a amável advertência do inesquecível Cardeal Giacomo Biffi para que sejam crentes e não crédulos. Afinal, o Magistério fala claramente sobre a complementaridade total entre fé e ciência - ressalta dom Buonaiuto -.
Portanto, só pode nos deixar abismados o renascimento de um cavalo de batalha da era das trevas: o cabo de guerra entre fé e razão. As divisões dilacerantes na luta contra a pandemia fizeram ressurgir instrumentalmente uma antinomia entre "fides" e "ratio", que havia sido reduzida a uma ultrapassada parafernália ideológica para os extremismos opostos dos laicistas militantes e dos ultratradicionalistas que se opõem a todo aspecto da modernidade. É escandaloso ver como são usadas barricadas opostas de um sentimento muito humano como o medo, traiçoeiramente instado para arrastar para as próprias posições segmentos de populações transtornadas e confusas. Quase como se uma mente apavorada se tornasse mais facilmente manipulável para o uso e consumo do ‘Dom Rodrigo’ da vez”.
“O erro de entrar em confronto sobre as vacinas também em nome de alegadas razões identitárias já havia sido refutado na encíclica de 1998 de São João Paulo II. O cristianismo não pressupõe de forma alguma um conflito inevitável entre a fé sobrenatural e o progresso científico. O próprio ponto de partida da revelação bíblica é a afirmação de que Deus criou os seres humanos, dotados de razão - destaca dom Buonaiuto-. A ciência, respeitando os valores invioláveis da dignidade humana, tem contribuído para a proteção do meio ambiente, para o progresso dos países em desenvolvimento, para o combate às epidemias e para o aumento da esperança de vida. Portanto, representa um dom providencial e faz parte do plano do Criador. Fé e ciência aliadas para o bem comum. A menos que se queira voltar ao tempo em que Jesus era condenado por fazer milagres também no sábado”.
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“Vocês têm a vacina para se salvar do Covid e não querem usá-la?” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU