17 Dezembro 2020
De acordo com dois estudos recém-publicados no British Medical Journal, os países de alta renda garantiram suprimentos futuros, mas a distribuição no resto do mundo ainda é incerta.
A reportagem é de Priscilla Di Thiene, publicada por La Repubblica, 16-12-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
A primeira na Europa foi a Grã-Bretanha, em 8 de dezembro. Mas a vacinação já começou em outros países, como os Estados Unidos. Em janeiro de 2021 será a vez do resto da Europa. Mas há quem dê o alarme nestes últimos dias: a distribuição das vacinas será tão exigente quanto foi o seu desenvolvimento e, a curto prazo, não será para todos. Um estudo recém-publicado no British Medical Journal (Reserving coronavirus disease 2019 vaccines for global access:cross sectional analysis) alerta para o risco de que quase um quarto da população mundial poderia não ter acesso à vacina Covid-19 até pelo menos 2022. Um segundo estudo, "Global, regional, and national estimates of target population sizes for covid-19 vaccination: descriptive study", também publicado no reconhecido periódico, estima que são cerca de 3,7 bilhões de pessoas em todo o mundo que estão esperando ansiosamente a chegada da vacina. E isso reforça ainda mais a importância de planejar estratégias para garantir um equilíbrio correto entre oferta e demanda, especialmente em países de baixa e média renda.
Pesquisadores da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, autores do primeiro estudo, analisaram a demanda por vacinas antes mesmo de sua aprovação. Em 15 de novembro de 2020, vários países haviam reservado um total de 7,48 bilhões de doses dos 13 fabricantes das 48 candidatas a vacina contra Covid-19 em fase de avaliação clínica.
Pouco mais da metade (51%) dessas doses (cerca de 3,85 bilhões de doses), segundo os autores, irá para países de alta renda, que representam 13,7% da população mundial.
Dos treze produtores, apenas seis venderam para países de baixa e média renda, apesar de mais de 85% da população mundial pertencer a estes últimos. A eles caberia, de acordo com o estudo, até 40% dos ciclos de tratamento, mas isso depende de como os países de alta renda compartilharem o que reservaram e se os Estados Unidos e a Rússia estão dispostos a cooperar a nível global.
Os autores da pesquisa afirmam que mesmo se todas as empresas conseguissem atingir sua capacidade máxima de produção, pelo menos um quinto da população mundial não teria acesso às vacinas até 2022. Os países de alta renda garantiram os futuros suprimentos de vacinas anti-Covid, mas o acesso para o resto do mundo é incerto. “Governos e fabricantes poderiam fornecer garantias indispensáveis para a distribuição justa de vacinas anti-covid por meio de uma maior transparência e responsabilidade sobre esses acordos”, concluem os pesquisadores.
Do mesmo teor é o segundo estudo, que focou a atenção sobre a tipologia das pessoas que primeiro terão que receber a vacina. Os pesquisadores, com sede na China e nos Estados Unidos, estimaram as populações-alvo para as quais as vacinas seriam necessárias, para ajudar no desenvolvimento de estratégias de distribuição equitativa em todo o mundo.
Os tamanhos da população-alvo variam significativamente dependendo da região geográfica, objetivos da vacina (como a manutenção de serviços essenciais básicos, redução de casos graves e interrupção da transmissão do vírus) e o impacto generalizado do “ceticismo sobre a vacina” (a falta de confiança na vacina por diversas motivações) na redução da demanda. Os grupos examinados incluem trabalhadores da saúde, forças policiais e militares, pessoas com mais de 60 e 80 anos, mulheres grávidas e assim por diante.
Cerca de 68% da população global está disposta a ser vacinada, e esse percentual é útil para identificar um plano estratégico focalizando as prioridades de vacinação em nível global, nacional e regional. As variações na dimensão das populações-alvo dentro e entre as regiões ressaltam o tênue equilíbrio entre a oferta e a demanda de vacinas, especialmente em países de baixa e média renda, sem capacidade suficiente para atender à demanda interna. Por isso, cada país deveria avaliar diferentes estratégias com base na epidemiologia local, no estado de saúde da população e fazer projeções das doses disponíveis.
Ambos os estudos são observacionais, com análises que contêm certo grau de incerteza e incompletude nas informações. Ao mesmo tempo, eles lançam luz sobre a complexidade do processo de produção, compra, distribuição e administração da vacina contra o Covid-19, convidando a desenvolver caminhos para enfrentar às exigências globais.
Jason Schwartz, professor da Escola de Saúde Pública de Yale, aponta em um editorial ligado aos dois estudos que muitos países já demonstraram um empenho com um acesso global às vacinas contra o Covid-19, adquirindo-as por meio da Covax Facility, uma iniciativa dentro da Covax que apoia o desenvolvimento e a distribuição equitativa de vacinas contra o vírus. O projeto é dirigido pela OMS, CEPI e GAVI Alliance, parceria público-privada fundada em 2000 com o objetivo de garantir um melhor nível de saúde para as crianças e para a população, por meio da realização de campanhas de vacinação em países em desenvolvimento.
A Itália doou 100 milhões de contribuições diretas entre 2016 e 2020 e anunciou uma renovação plurianual de 120 milhões de euros para o próximo ciclo financeiro (2021-2025), incluindo a contribuição para a distribuição da vacina.
Segundo o professor Schwarz, a participação dos Estados Unidos será de qualquer forma decisiva para garantir o acesso às vacinas anti-Covid para todas as populações do mundo e para pôr um fim a esta devastadora epidemia global.
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Covid-19, um quarto da população mundial sem vacina até 2022 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU