11 Dezembro 2020
Nove em cada dez pessoas em pelo menos 70 países de baixa renda correm o risco de não poder se vacinar contra o Covid-19 no ano que vem, porque a maioria das vacinas recebidas foi comprada pelo Ocidente. Isso apesar da Oxford-AstraZeneca tenha se comprometido a fornecer 64% de suas doses a pessoas em países em desenvolvimento.
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada por La Repubblica, 09-12-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
A denúncia foi feita pela People's Vaccine Alliance, organização formada pela Anistia Internacional, Frontline Aids, Global Justice Now e Oxfam. Enquanto as primeiras pessoas são vacinadas no Reino Unido, a People’s Alliance adverte que os acordos feitos pelos governos dos países ricos deixarão os pobres à mercê da pandemia. Os países ricos com apenas 14% da população mundial garantiram 53% das vacinas prontas. O Canadá comprou mais doses do que qualquer outra população, o suficiente para vacinar cada canadense cinco vezes.
"Ninguém deve ser impedido de receber uma vacina que salva vidas por causa do país em que vive ou da quantidade de dinheiro que tem no bolso", afirma Anna Marriott, responsável pelas políticas sanitárias da Oxfam, relata o Guardian - Mas a menos que algo mude radicalmente, bilhões de pessoas em todo o mundo não receberão uma vacina segura e eficaz contra o Covid-19 nos próximos anos."
Os suprimentos da vacina Pfizer-BioNTech, aprovada no Reino Unido na semana passada, irão quase todos para os países ricos: 96% das doses, de fato, foram compradas do Ocidente. A vacina da Moderna, com 95% de eficácia, também irá exclusivamente para países ricos. Os preços de ambas as vacinas são altos e o acesso para países de baixa renda será complicado pelas temperaturas ultrabaixas em que devem ser armazenadas, denuncia ainda a People's Vaccine.
O grupo de ONGs utilizou os dados recolhidos pela empresa de análise e informação científica Airfinity para analisar os acordos fechados entre os países e as oito principais vacinas candidatas. Como resultado, 67 países de renda e média-baixa ficarão para trás. Cinco dos 67 - Quênia, Mianmar, Nigéria, Paquistão e Ucrânia - relataram quase 1,5 milhão de casos entre eles.
A People's Vaccine apela a todas as empresas farmacêuticas que trabalham com vacinas que compartilhem abertamente sua tecnologia e propriedade intelectual por meio do pool da Organização Mundial da Saúde para que bilhões de doses a mais possam ser produzidas e vacinas seguras e eficazes possam estar disponíveis para todos aqueles que delas necessitem.
A Alliance também apela aos governos para que façam tudo ao seu alcance para garantir que as vacinas se tornem um bem público global, gratuito e igualmente distribuído conforme as necessidades. Um primeiro passo seria apoiar a proposta da África do Sul e da Índia ao Conselho da Organização Mundial do Comércio nesta semana de abrir mão dos direitos de propriedade intelectual para as vacinas, os testes e os tratamentos, até que todos estejam protegidos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Coronavírus, a vacina dos ricos: 14% da população mundial recebe 53% das doses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU