18 Março 2021
O olhar pastoral para o Leste. Aquele diplomático e tradicional para o Oeste. A política externa do Vaticano, após a viagem de Francisco ao Iraque, ganha uma nova identidade. E se desenvolve em dois planos distintos. Porque a atenção ao Oriente e à Ásia tornou-se agora a perspectiva de longo prazo da Igreja. Mas a relação com o Ocidente é a arquitrave sobre a qual o Pontífice ainda pretende apoiar sua ação. Numa trajetória ideal que parte do Oeste e vai para o Leste.
A reportagem é de Claudio Tito, publicada por Repubblica, 17-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nas próximas semanas, suas escolhas, desse ponto de vista, serão ainda mais evidentes. E com toda a probabilidade também representarão o ponto de partida para um novo redesenho da Cúria Romana. Isto é, o verdadeiro centro do poder da Santa Igreja Romana. Para torná-lo ainda mais sintonizado com o pontificado de Bergoglio. Desde novembro passado algo impressionante mudou nos equilíbrios do mundo.
A eleição de Joe Biden obviamente mudou em poucas semanas as relações e as abordagens escolhidas por Donald Trump. Os primeiros efeitos também estão para chegar ao Vaticano. Com um curso realmente novo que Francisco pretende inaugurar nas relações entre a Santa Sé e Washington. O apoio ao novo presidente dos Estados Unidos, portanto, o católico Biden, para o pontífice não pode ser posto em discussão. As polêmicas que a chegada do candidato democrático à Casa Branca causou na comunidade católica estadunidense e, em particular, na Conferência Episcopal dos Estados Unidos, para o trono de Pedro devem ser consideradas superestimadas, se não mesmo arquivadas. O Papa argentino - também por suas origens - não quer romper o diálogo com os Estados Unidos de forma alguma. Aliás, o considera uma oportunidade. Uma espécie de pré-condição para continuar a exercer a missão evangélica no Extremo Oriente e em particular na China. E por isso não quer endossar as críticas que alguns bispos norte-americanos fizeram ao novo presidente a respeito das posições assumidas no passado sobre aborto e gênero.
No passado, as dificuldades nas relações entre os católicos e os democratas norte-americanos se prendiam nos temas éticas e depois se expandiam nas dúvidas da Igreja a respeito de algumas soluções militares escolhidas pelos democratas para resolver conflitos internacionais. Certamente, as perplexidades expressas em 2016 em relação a Hillary Clinton continham essa raiz. Para o Vaticano, porém, desta vez Biden se apresenta de uma maneira completamente diferente. A ponto de diplomatas aguardarem a visita do presidente dos EUA a Roma em junho próximo, por ocasião do G7 que será realizado na Cornualha. Exatamente ao contrário do que aconteceu em outubro passado, quando o então secretário de Estado trumpista, Mike Pompeo, desembarcou na capital italiana e o Pontífice evitou cuidadosamente recebê-lo também pelas críticas expressas por aquele governo à prorrogação do chamado acordo secreto com China com o qual é definida a gestão dos católicos no país liderada por Xi.
Mas há algo mais. Precisamente para restabelecer o diálogo, Bergoglio avalia a possibilidade de trazer a Roma um dos cardeais estadunidenses mais influentes: Joseph Cupich, arcebispo de Chicago. Um dos pontos de referência da "corrente progressista", entre os primeiros a saudar com entusiasmo a derrota de Trump e entre os mais dispostos a desafiar a linha crítica da Conferência Episcopal em relação a Biden.
Não é por acaso que o presidente dos bispos, José Horacio Gomez, não foi promovido a cardeal no último consistório, apesar de ser há anos arcebispo de Los Angeles. Embora Gomez tenha sido muito crítico com a política de migração de Trump, imediatamente se manifestou contra o atual "Comandante em Chefe".
A escolha de Cupich poderia assumir um significado ainda maior. Vinculado à reforma e reestruturação substanciais da Cúria. Porque a hipótese em questão é a de atribuir uma posição central ao cardeal de Chicago: Prefeito da Congregação dos Bispos. Ou seja, o homem que efetivamente instrui as nomeações dos bispos. Ainda não se trata de uma decisão definitiva, mas teria um razoável impacto, visto que no momento o papel é desempenhado por Marc Ouellet, cardeal canadense, que certamente não escondeu suas divergências à linha "progressista" de Francisco.
Considerando que a reforma da Cúria está em andamento, nos corredores do Vaticano muitos estão focando a atenção em outra posição-chave: o Prefeito da Congregação para o Culto Divino. Na verdade, tal posição era ocupada por Robert Sarah, um cardeal guineano, que definitivamente não está alinhado com algumas diretivas do papado de Francisco. Sarah apresentou sua renúncia e o Papa aceitou sem indicar imediatamente o sucessor. Até enviou uma espécie de “enviado especial”, dom Claudio Maniago, para supervisionar o trabalho até agora realizado. Procedimento incomum. Em seu lugar, poderia ser "promovido" o atual secretário da prefeitura, o inglês Arthur Roche.
Resta, de fato, que a reorganização do "grupo de comando" da Santa Sé ainda é um fator decisivo para o Papa.
O primeiro passo, realizado há poucos meses, foi "congelar" de fato o Secretário de Estado Pietro Parolin, a quem foram retiradas as competências econômico-financeiras. Um passo mais avançado poderia ser a antecipação da troca da guarda da cúpula da CEI. Seu presidente, Gualtiero Bassetti, deve terminar seu mandato em 2022. Mas também por motivos pessoais, poderia antecipar sua despedida neste próximo trimestre. E entre os bispos italianos, a figura de Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, nomeado para aquela sede pelo próprio Francisco, é considerada uma das mais agregadoras.
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Novo acordo de Bergoglio com Biden para deslocar o centro de gravidade da Cúria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU