06 Outubro 2018
Durante as congregações gerais do Sínodo sobre os jovens de ontem e de hoje (terceira e quarta), foram discutidos temas como a sexualidade e a castidade pré-matrimonial, gênero e a perda do sentido da paternidade, sobre a pobreza e as migrações. Uma reflexão total por parte dos padres sinodais dos cinco continentes, numerosas intervenções para apresentar as instâncias dos territórios de origem, mas sempre mantendo o tema central do encontro: os jovens, as suas relações e dificuldades e os desafios para a Igreja e para a sociedade.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 05-10-2018. A tradução é de André Langer.
O prefeito da Congregação para a Comunicação, Paolo Ruffini, ofereceu um resumo das discussões na Aula sinodal (que agora prosseguem com os círculos menores) durante a coletiva de imprensa diária na Sala de Imprensa do Vaticano, acompanhado pelos bispos Anthony Colin Fisher, representante da Austrália e organizador da JMJ de 2008, e Manuel Ochogavia Barahona, representante da Conferência Episcopal do Panamá, onde será a próxima Jornada Mundial da Juventude (janeiro de 2019). Esteve presente durante a coletiva de imprensa, moderada pelo porta-voz vaticano Greg Burke, uma jovem “ouvinte” de Madagascar: Tahiry Malala Marion Sophie Rakotoroalahy.
Ao responder às perguntas dos jornalistas, que na conferência de ontem pediam maiores informações sobre quem estava fazendo intervenções no debate sinodal, Ruffini indicou todos os nomes dos bispos e cardeais que tomaram a palavra nas últimas duas congregações, durante as quais, na terceira, também o próprio Papa Francisco fez uma “intervenção livre”.
O sexo antes do casamento, explicou Ruffini, foi um dos temas enfrentados em diversas intervenções. Mas, esclareceu, não se ouviu nenhuma voz para pedir a revogação da norma prevista pelo Magistério da Igreja “em nome de um discernimento obrigatório”, como perguntou uma jornalista presente na sala. Em vez disso, a questão foi enfrentada como um problema que se relaciona com a pastoral pelo fato de haver o perigo de encorajar um determinado casal para que se case sem ter adquirido antes uma maturidade consciente do matrimônio, ou inclusive provocar um afastamento do sacramento ou da Igreja por parte de “casais que sentem, depois de um longo período de frequentação, que não conseguem viver suas vidas sem relações íntimas”. “É um tema sobre o qual vale a pena refletir, que se apresenta a muitos sacerdotes”, disse Paolo Ruffini.
De qualquer maneira, longe de pretender reduzir o processo deste Sínodo a um quadrado preconcebido, a discussão sobre a castidade e a comunidade LGBT (e sobre a inclusão desta sigla em um documento da Igreja como o Instrumentum laboris, polêmica desencadeada pelo arcebispo Chaput) foram marginais na série de intervenções “de muito mais amplo fôlego”, precisou o prefeito. Todos tiveram como denominador comum um raciocínio “global” sobre as novas “pobrezas” vividas pelos jovens de hoje (na Europa, Ásia, África e América Latina), algumas vítimas do passado ou do presente de “guerra, falta de trabalho ou de raízes, pouca ou nenhuma educação”.
Muitos desses rapazes e moças, destacou Ruffini, “saíram de experiências terríveis, cresceram em meio a crises e guerras, caíram na prostituição, drogas, traficantes, contraíram o vírus HIV”. Alguns deles sofrem atualmente o “problema da pertença” com a distância de suas famílias e de suas raízes ou porque estão virtualmente conectados a mundos estranhos aos quais têm acesso “mediante os meios de comunicação globais”.
É justamente a estes jovens que o Sínodo pretende dirigir-se, insistiu o prefeito da comunicação vaticana: “são as ‘pedras rejeitadas’ de que fala o Evangelho, são eles que pedem a Igreja e a Igreja quer dirigir-se a eles como mãe. Os jovens não podem ser vistos como um problema a ser resolvido; eles próprios são Igreja e devem saber que a Igreja é a sua casa”, afirmou citando as palavras de participantes do Sínodo.
Durante as congregações foi proposta a hipótese da criação de um Pontifício Conselho para os Jovens, assim como tem o dos leigos e o da família. Os padres sinodais cunharam as expressões “bulimia da mídia, anorexia dos fins, info-obesidade”, para indicar os desafios da era digital, dentre os quais se destaca também “a perda da cultura da oralidade e a necessidade de encontrar novamente a cultura do falar-se”.
Não faltaram análises sobre a situação das famílias em algumas partes do mundo, algumas das quais vivem uma verdadeira desintegração devido ao questionamento da figura do pai ou devido ao fenômeno das migrações. A esse respeito, muitos bispos indicaram que “jovens que buscam o bem-estar, um futuro melhor, talvez graduados, acabam não vivendo sua vocação original, abandonando inclusive a fé e acabando sem criar uma família”, razão pela qual “nos países em que chegam não encontram o que procuram”.
Houve também algumas alusões à liturgia, na perspectiva de tornar a missa mais “compreensível, participada, não chata”, com homilias longas ou curtas, mas que, independente disso, “interpelem” os jovens que dela participam. Também se falou sobre música, esportes e ecologia, áreas onde muitos jovens estão envolvidos.
“O que me surpreendeu – disse o bispo Fisher – é o forte realismo que anima as discussões do Sínodo. Falou-se com muita abertura sobre os desafios a serem enfrentados, identificados com empatia e sinceridade”. Entre estes desafios estão a espinhosa questão dos abusos sexuais na Igreja: uma praga que feriu e segue ferindo o rosto da Igreja australiana, destacou o bispo.
“Pensemos nos jovens tão profundamente feridos, nos envergonhamos pelo que aconteceu durante esse período da nossa história, nos envergonhamos com o fato de que os líderes da Igreja reagiram tão mal... Deveríamos ter nos assegurado de que a Igreja era um lugar seguro para as crianças”. Após um período de “humilhação e purificação”, acrescentou Fisher, devemos olhar decisivamente para o futuro, e “esperamos que outros possam aprender com as nossas experiências”.
Também surpreendeu ao religioso australiano a atitude que o Papa Francisco demonstrou durante as assembleias: “Tenho observado com muito respeito o Santo Padre: é idoso (eu também, e tenho 20 anos a menos), mas está aí desde o começo do dia para nos dar as boas-vindas pessoalmente, fica conosco o tempo todo, ouve, está atento, toma notas. É uma lição para mim, porque em uma idade em que se poderia inclusive perdoar se dormisse ou se se distraísse, o Papa Francisco participa muito e está profundamente envolvido”.
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Sínodo. Discussões giram em torno do sexo antes do casamento, gênero, pobreza e migrações - Instituto Humanitas Unisinos - IHU