08 Dezembro 2018
Ligeiramente encurvado, apoiado na sua bengala – que normalmente esquece -, passo a passo, mas seguro (se vai para trás, pensa que vai cair ou tropeçar), Jean Pierre Schumacher, 94 anos, caminha pelo corredor para a capela do Mosteiro de Notre-Dame de l'Atlas, junto à cidade de Midelt (50 mil habitantes), ao sul de Fez, no Marrocos.
A reportagem é de Carlos Lanuza, publicada por Religión Digital, 07-12-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Localização do Mosteiro de Notre-Dame de l'Atlas, em Tibhirine, na Argélia, antes do ataque os monges (1996)
Localização atual do Mosteiro de Notre-Dame de l'Atlas, no Marrocos. Os monges se deslocaram primeiramente à Fez, ao norte do Marrocos, e desde o ano 2000 estão na cidade de Midelt.
Vão ser 4 da manhã, os monges cistercienses (gostam mais que “trapistas”) vão começar a cantar o Ofício de Vigílias (já não se diz “Maitines”). Quase na mesma hora, os imãs das mesquitas da cidade e dos bairros periféricos ao longo desse fértil vale regado com águas frias do rio Outat, começaram também a cantar as louvações ao Deus Grande e Misericordioso.
O mosteiro cisterciense de Atlas. Foto: Religión Digital
Os olhos azuis, alegres e um pouco pequeninos (só se vê um realmente) de Jean Pierre dizem sem palavras o que pensa: Sou como a vedete. Quantas pessoas e grupos, sobretudo europeus, vêm ao Mosteiro para vê-lo e escutá-lo... Ele leva com simplicidade e dignidade. Ficaram dois. Um já morreu: era Amedée, nascido na Argélia. Jean Pierre é agora a memória viva. Ficou muito doente no ano passado. Mas se levantou de novo. Ainda se alegra quando preside a Eucaristia e lê a sua breve homilia, escrita com letras miúdas, emocionadas e ungidas.
Às 10 da manhã param os trabalhos. Baha, a cozinheira, nos chama para caso tenhamos esquecido. Trabalhadores da casa, monges, hóspedes... tomam o chá, saem para fora caso o tempo esteja bom. Com uma baguete e uma lata de sardinhas para todos (a multiplicação dos pães?).
Irmão Jean Pierre Schumacher tomando seu chá. Foto: Religión Digital
Jean Pierre vai devagar, sempre sorrindo. Momento de comunicação, de cumprimentos, de amizade. Omar, um empregado, faz um bom chá, parece uma infusão só de menta. Falam em francês, inglês, espanhol, talvez alguém em alemão... e português. Cinco nacionalidades, sete monges. Sempre sorrindo...
Assista ao trailer do filme Homens e Deuses, que retrata o martírio dos monges trapistas:
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Jean Pierre Schumacher, o único sobrevivente da matança dos monges de Tibherine - Instituto Humanitas Unisinos - IHU