25 Mai 2011
A característica mais admirável do filme Homens e Deuses, vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes do ano passado e que estreia hoje nos cinemas, é sua capacidade de mimetizar o clima monástico. Ao contar a história do pequeno mosteiro trapista em Tibhirine, Argélia, e de seus monges, assassinados pelo Grupo Islâmico Armado (GIA), em 1996, o diretor Xavier Beauvois transportou o silêncio e a contemplatividade que permeiam a vida trapista para sua direção, com cenas lentas e esteticamente bonitas.
A reportagem é de Yuri Al’Hanati e está publicada no jornal Gazeta do Povo, 20-05-2011.
O mosteiro Nossa Senhora de Atlas foi fundado em 1938 e, em sua última fase, era regido pelo prior Irmão Christian Chergé, francês como todos os outros monges, em um país com poucos franceses e ainda mais escassos católicos. Com carisma e boa vontade, Dom Christian e seus monges desenvolveram uma boa relação com a população local: faziam doação de roupas e um deles, Irmão Luc, realizava atendimentos médicos. Christian era um estudioso também do islamismo, e frequentemente participava de cerimônias islâmicas por acreditar que o mistério de Deus também poderia ser experimentado pela espiritualidade muçulmana.
O drama do filme começa quando um grupo de trabalhadores iugoslavos cristãos é degolado por muçulmanos, e os monges precisam decidir se deixam o país ou permanecem no mosteiro, aceitando o risco de um possível martírio. A partir da decisão tomada por eles, começa o drama individual de cada um: Luc (Michael Lonsdale) está velho e doente, não pode viver ali; Christian (Lambert Wilson) precisa liderar sem fraquejar ou demonstrar medo; Christophe (Olivier Rabourdin) tem medo da morte e sente vacilar na sua fé, e assim por diante. Mostra-se os homens por trás do uniforme, com boas índoles mas, enfim, seres humanos.
A direção de Beauvois é eficiente e primorosa. Com ritmo lento, consegue prender a atenção do espectador pela plástica das cenas, que não perdem a beleza por mais que os personagens se desloquem pelo enquadramento. A grande intensidade dramática da trama também é valorizada por essa direção, e as atuações de Lambert Wilson e Olivier Rabourdin estão impecáveis. Homens e Deuses deixa no coração do espectador um enorme peso de quem assiste ao sofrimento desnecessário de pessoas necessariamente boas.
Nota da IHU On-Line: o filme continua em cartaz, em Porto Alegre, nos cinemas Guion Center, Arteplex e GNC Moinhos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"Homens e Deuses" narra massacre de monges na Argélia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU