26 Outubro 2018
"Culpar ou vitimar inadequadamente os homens homossexuais, dentro ou fora da Igreja, não mantém as crianças seguras nem soluciona os problemas de abuso sexual clerical. Independentemente da orientação sexual ou dos votos de celibato sacerdotal, ou mesmo de votos matrimoniais, apenas uma pequena porcentagem de pessoas procura atividade sexual com crianças e adolescentes, e a grande maioria são leigos heterossexuais casados não-celibatários que tendem a explorar os membros de sua própria família", escreve Thomas G. Plante, professor de psicologia Universidade de Santa Clara, confiada à Companhia de Jesus, e professor clínico adjunto de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade de Stanford, em artigo publicado por America, revista dos jesuítas dos EUA, 22-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Além de professor, Thomas G. Plante, trabalhou clinica e academicamente na área de abuso sexual clerical por 30 anos. Ele escreveu para a America a respeito do estudo de 2004 da Faculdade John Jay de Justiça Criminal sobre o abuso sexual por membros do clero católico.
Muitas pessoas acreditam que a homossexualidade é a causa básica do abuso sexual por parte do clero na Igreja Católica, já que cerca de 80% das vítimas conhecidas são do sexo masculino. Isso levou alguns líderes da Igreja a sugerirem que a proibição de homens homossexuais no sacerdócio poderia impedir que crianças fossem abusadas futuramente na Igreja. Embora possa ser compreensível que alguns acreditem nisso, simplesmente não é verdade. Realmente é preciso saber algo sobre a psicopatologia de criminosos sexuais e pedófilos para entender essa questão mais claramente.
Ninguém sugeriria proibir os homens heterossexuais no sacerdócio se a maioria das vítimas de abuso clerical fosse de meninas jovens. Pareceria absurdo. Isso porque muitos veem a heterossexualidade como normal e controlável, enquanto acreditam que a homossexualidade é anormal, disfuncional e uma doença psiquiátrica. Como tal, muitas vezes acredita-se falsamente que homens com orientações homossexuais não podem ser confiados em torno de crianças do sexo masculino e que seu controle de impulsos sexuais é fraco. Mas os dados da pesquisa sobre esse tópico deixam claro que a orientação sexual por si só não é um fator de risco para a pedofilia ou para cometer crimes sexuais contra crianças, adolescentes ou qualquer um. A orientação sexual por si só é irrelevante para o comportamento ou riscos de abuso sexual infantil.
Então, por que tantas vítimas do abuso sexual clerical são do sexo masculino? Um estudo da Faculdade John Jay de Justiça Criminal, de 2011, nos informa que a maioria dos agressores sexuais do clero eram “generalistas situacionais”, ou homens que simplesmente abusavam de vítimas às quais tinham acesso e com quem tiveram a oportunidade de desenvolver confiança. Na Igreja Católica, esses indivíduos tendiam a ser meninos. Se o padre quisesse passar um tempo em particular com um coroinha, ou talvez levar um menino para um acampamento, ou para um jogo de beisebol, no século XX, ninguém teria pensado muito nisso. Garotos eram confiados aos padres. Mas a maioria dos agressores sexuais do clero durante a última metade do século XX, de acordo com o Relatório da John Jay, viam a si mesmos como mais propensos a serem heterossexuais do que homossexuais.
A psicopatologia dos pedófilos sugere que os fatores de risco para esse transtorno psiquiátrico incluem problemas de controle de impulsos, danos cerebrais, ausência de relacionamento entre colegas, personalidade antissocial, falta de conexões íntimas não-sexuais com outros, abuso de álcool e drogas e um histórico de vitimização sexual. A orientação sexual não é mesmo um fator de risco. Além disso, existem muitos tipos diferentes de agressores sexuais, que muitas vezes têm múltiplos caminhos para a vitimização e diferentes alvos de seus desejos predatórios. Por exemplo, alguns preferem ter como alvo crianças pequenas, enquanto outros preferem adolescentes. Alguns idealmente preferem ter parceiros sexuais adultos, mas devido à sua incapacidade de negociar relações íntimas adultas maduras, escolhem os menores como substitutos, especialmente quando sob estresse significativo. E alguns, como a maioria dos agressores sexuais clericais da Igreja, escolhem aqueles aos quais têm acesso e confiança.
O comportamento e a psicopatologia dos agressores sexuais são complexos, mas há uma grande quantidade de pesquisas de qualidade para nos ajudar a entender melhor seu comportamento, com as melhores práticas estabelecidas para avaliá-los e tratá-los de sua disfunção. As melhores práticas também estão disponíveis para a proteção infantil, gerenciando melhor o ambiente onde as crianças estão envolvidas com adultos - dentro das atividades da Igreja, bem como nas escolas, em esportes juvenis, em programas de música e teatro, e em outras atividades extracurriculares para jovens. Estar ciente e atento a essa pesquisa bem estabelecida e a essas melhores práticas recomendadas para a proteção à criança ajudará a manter as crianças seguras.
Culpar ou vitimar inadequadamente os homens homossexuais, dentro ou fora da Igreja, não mantém as crianças seguras nem soluciona os problemas de abuso sexual clerical. Independentemente da orientação sexual ou dos votos de celibato sacerdotal, ou mesmo de votos matrimoniais, apenas uma pequena porcentagem de pessoas procura atividade sexual com crianças e adolescentes, e a grande maioria são leigos heterossexuais casados não-celibatários que tendem a explorar os membros de sua própria família. O foco falso e distrativo na homossexualidade não é relevante para manter as crianças seguras dentro da Igreja Católica.
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Não, a homossexualidade não é um fator de risco para o abuso sexual de crianças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU