21 Setembro 2018
O Padre Klaus Mertes SJ, conhecido escritor e educador, afirmou que a última onda de revelações sobre abusos e seus encobrimentos que aconteceram em várias partes do mundo indicam que o fenômeno não é um evento localizado, mas um problema global que só poderá ser resolvido por meio da reforma da Igreja.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por La Croix International, 19-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Em uma coluna para o sítio da Igreja Católica Alemã (katholisch.de) e em uma longa entrevista para Kathpress no dia 13 de setembro, o jesuíta de 64 anos afirmou que as últimas denúncias vindas dos Estados Unidos, da Irlanda, da Austrália e de outros lugares mostram que a atenção prestada ao problema do encobrimento dos abusos não é nem próxima do suficiente.
Ele disse que o momento de agora é absolutamente essencial para que a Igreja aborde a questão de seus freios e contrapesos (sua separação de poderes), bem como os problemas relacionados com estruturas dominadas pelos homens. E insistiu também que ambas as coisas estariam ligadas aos casos em que houve encobrimento por parte da instituição.
Mertes afirmou que as estruturas atuais da Igreja, na verdade, impedem investigações mais críticas e a verificação dos casos de abuso sexual e seus encobrimentos. Ainda, acrescentou que as lealdades pessoais e distribuição de poder nas estruturas de liderança mostram que a Igreja está “obviamente” fora do caminho para acabar com o abuso de poder no clero.
“É mais do que falhas individuais de membros do clero. Ao evitar debater suas próprias estruturas, a Igreja está alimentando tais falhas.” disse ele.
Mertes criticou a falta de transparência por parte da Congregação para a Doutrina da Fé em relação aos processos envolvendo abuso. “O que é dado como certo por parte do estado deve chegar até a Igreja; isto é, a separação entre autor, advogado de defesa e juiz,” disse o padre.
Ele também comentou que é indispensável examinar com mais cuidado como as carreiras se desenvolvem e como ocorrem as promoções dentro da Igreja. Mertes disse que essas coisas estão tão frequentemente ligadas às amizades no clero e a lealdades que acabam por entrar em conflito com as investigações e com os esclarecimentos dos casos de abusos, deixando ainda mais difícil que se tornem transparentes.
O jesuíta disse que, mesmo que a Igreja não seja capaz de resolver seus problemas de credibilidade por si mesma, ela poderia ainda assim tomar certas atitudes que ajudariam a tornar seus esforços para combater os abusos algo que gerasse mais confiança.
“Por que não podemos ter um ‘poder’ na Igreja que investiga casos de abuso e seus encobrimentos, que demande acesso a documentos e informe ao público por sua própria autoridade e independência da hierarquia?” questionou.
Disse ainda que pessoas (como ele) que enxergam diretamente a necessidade de reformas estruturais na Igreja estão cansados de serem acusados de estarem se aproveitando da crise de abusos e, com isso, cometendo um “abuso do abuso”.
Pelo contrário, Mertes disse que se as partes mais estruturais não forem revisadas, ele se considera pessimista sobre a continuidade da sobrevivência da Igreja como um todo.
“Não consigo imaginar a Igreja sobrevivendo na forma atual e com suas estruturas atuais,” disse ele.
“Está muito claro agora de que os abusos no clero e os encobrimentos tomaram proporções epidêmicas que acabaram despedaçando profundamente a credibilidade da Igreja.”
Não só isso, ele acredita que não haverá uma saída visível para o problema dos abusos por um bom tempo. E está convencido de que, a longo prazo, o problema dos abusos afetará a Igreja universalmente, pois, diz ele, os mesmos problemas estruturais existem em todas as Igrejas locais.
Mertes disse que espera que a Polônia seja o próximo lugar em que revelações de abusos irão aparecer. Por isso, alertou que não é certo “apontar o dedo para cães sujos como a Irlanda, os Estados Unidos, a Austrália e, agora, a Alemanha.”
Ele afirma que ninguém deve ser enganado: “Do ponto de vista da Igreja Global, nós ainda estamos muito no começo para avaliar e esclarecer problemas de abuso sexual clerical.”
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Jesuíta alemão diz que a crise de abusos pede uma grande reforma na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU