19 Junho 2018
A viagem será em 21 de junho para promover a unidade ecumênica e inclui missa histórica;
Retratada em abril de 2015, a Catedral de São Pedro, em Genebra, na Suíça, foi construída entre 1160 e 1252. Depois de sofrer uma pequena destruição em 1535 e a passar pela Reforma Protestante, agora faz parte da Igreja Protestante reformada de Genebra. (Foto: Wikimedia Commons/Yair Haklai)
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 18-06-18. A tradução é de Victor D. Thiesen.
A próxima visita do Papa Francisco a Genebra para comemorar o 70º aniversário do Conselho Mundial de Igrejas tem um significado especial em função da natureza cada vez mais divisiva da política global, dizem ex-participantes do evento do diálogo ecumênico.
A viagem de somente um em dia 21 de junho — a terceira visita de um Papa à sede do Conselho, a última tendo sido realizada por João Paulo II em 1984 — pode enfatizar a possibilidade de viver em harmonia mesmo em meio aos desacordos de longa-data.
"O que vemos ao redor do mundo com o surgimento de movimentos nacionalistas e populistas é uma fragmentação cada vez maior", disse bispo auxiliar do Brooklyn, James Massa, que dirigiu o secretariado ecumênico e inter-religioso dos bispos dos Estados Unidos entre 2005-2011.
"Quando o bispo de Roma se reúne com líderes de outras comunhões cristãs, se está fazendo uma afirmação sobre a unidade à qual Deus nos chama, não só como membros da família cristã, mas como membros da família humana", disse Massa.
A visita do Papa ao Conselho Mundial de Igrejas, que está sendo formatado como uma "peregrinação Ecumênica" e leva o tema "Waking, Praying and Working Together" (Acordar, Rezar e Trabalhar juntos, em português) consistirá principalmente em três breves encontros: uma reunião ecumênica, uma oração ecumênica e um almoço com a liderança da organização.
Papa João Paulo II ouve ao rev. Philip Potter, secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, falar durante o CMI em Genebra em 12 de junho de 1984. (Foto: Peter Williams, cortesia do Conselho Mundial de Igrejas)
O padre Ron Roberson, diretor-Associado do secretariado americano, definiu a visita do Papa como "uma expressão de apoio da Igreja Católica para o Conselho Mundial e ao trabalho que ele tem feito."
O Conselho Mundial de Igrejas foi uma consequência natural do movimento ecumênico do final do século 19 que reuniu muitas denominações protestantes e igrejas ortodoxas. Mais de 100 igrejas votaram para fundar a organização no final da década de 1930, mas sua primeira Assembleia foi adiada até 1948 em consequência da Segunda Guerra Mundial.
O grupo se reúne em assembleia de seis em seis anos. A última foi realizada na Coreia do Sul em 2013.
A irmã maryknoll Joan Delaney, que trabalhou para o Pontifício Conselho para Promoção da Unidade Cristã na década de 1980, observou que essa é a primeira viagem de um Pontífice cuja finalidade seja especificamente visitar o Conselho Mundial.
Quando o Papa Paulo VI visitou a organização em 1969, havia ido a Genebra para o 50º aniversário da Organização Internacional do Trabalho - OIT. Em 1984, João Paulo II passou cinco dias na Suíça e visitou um total de 14 cidades.
"É muito significativo celebrarmos este aniversário com eles", disse Delaney.
Massa, que Francisco nomeou para o Brooklyn em 2015, disse que o Papa "quer honrar o legado" do Conselho, que ele também chamou de "um catalisador para a relação católica com o movimento ecumênico moderno."
Massa também comentou sobre a influência que os documentos do Conselho Mundial tiveram sobre o renomado teólogo, pe. Yves Congar. O dominicano evidenciou a influência em seu livro de 1966 “Tradition and Traditions” (Tradição e tradições, em português) e em rascunhos do padre, que levam para o documento do Concílio Vaticano II Dei Verbum.
"Você pode ver os caminhos que são percorridos pela doutrina católica oficial articulados pelo Conselho. Eles partem dessas discussões ecumênicas que foram patrocinadas pelo CMI", disse Massa. "Este é um grande legado."
Algumas questões específicas são esperadas para serem discutidas pela liderança do Conselho e o Papa Francisco. Entre elas estão as que mais têm definido o papado Francisco: imigração, mudança climática e a gama de conflitos globais.
Papa Paulo VI cumprimenta membros da comunidade protestante de Genebra durante a sua visita ao Conselho Mundial de Igrejas, em 10 de junho de 1969. (Foto: Cortesia do Conselho Mundial de Igrejas)
Monsenhor John Radano, que foi membro da equipe Christian Unity (Unidade Cristã, em português) entre 1984-2008, disse que o cuidado para com a criação deve ser um ponto de discussão, já que o Conselho, assim como Francisco, manifestou sua "profunda preocupação" em relação a destruição ambiental.
Delaney, no entanto, queria saber essa não é a hora para líderes cristãos terem uma conversa franca sobre um tema difícil: a primazia do Papa, Bispo de Roma, entre as igrejas. Ela disse que depois da visita de João Paulo II em 1984 foi pedido ao Conselho para que ponderarasse sobre o assunto.
"Acho que seria um momento apropriado para avaliar em que patamar anda essa discussão", disse ela.
"Se você apenas discutir [outras] coisas, pode tornar a reunião numa espécie de encontro de ONGs", disse Delaney, adotando linguagem que Francisco tem usado para advertir a Igreja Católica, que age muitas vezes como se fosse uma organização não-governamental.
"Essas coisas devem ser discutidas numa perspectiva de unidade cristã", disse ela. "Até onde estes esforços vão promover ou prejudicar a unidade cristã? Isso tende às vezes ser esquecido."
Delaney observou que a conversa em torno da primazia papal é "muito difícil", mas disse que encontrar a unidade é "o objetivo fundamental do Conselho Mundial. É também o nosso objetivo fundamental em cooperação com eles."
"Existe o problema de que quando os problemas são difíceis, você tende a se mover na direção de coisas que são mais práticas e mais satisfatórias, e menos controversas", acrescentou. "Então você tem que ser chamado de volta para o propósito original."
Radano, que agora é professor adjunto de teologia na Seton Hall University, disse que o Conselho Mundial trouxe recentemente a questão da primazia papal em um documento escrito da Comissão da Fé e Ordem de 2013, intitulado "The Church: Towards a Common Vision” (A Igreja: Rumo a uma Visão Comum, em português).
Embora esse documento não entre em profundidade sobre o assunto, Radano disse que apenas a menção a questão era um fato "muito importante".
A Comissão disse que há "significativa discussão ecumênica" sobre um "Ministério da primazia universal", mas que "ainda existe muito trabalho a ser feito para chegar a uma convergência" sobre a questão.
Radano disse que o estudo de 2013 apontou para um dos benefícios do diálogo em curso entre a Igreja Católica com o Conselho Mundial, que se realiza através de um grupo de trabalho conjunto. Ele disse que o grupo faz um "serviço particular para todo o movimento ecumênico".
"O grupo ajuda a manter as pessoas informadas em relação aos desenvolvimentos ecumênicos", disse ele. "De certa forma, fornece uma fonte para a reflexão sobre o que está acontecendo no movimento ecumênico".
Delaney disse que o diálogo entre a Igreja Católica e o Conselho Mundial é de valor único entre os diversos diálogos ecumênicos.
A viagem de Francisco à Genebra será no seu 23º dia fora da Itália. A Suíça será o 34º país que ele visita.
Entre as viagens, o Papa terá quatro outras visitas de um dia: Tirana, na Albânia; Estrasburgo, na França para discursar na União Europeia e no Parlamento; Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina; e, para a ilha grega de Lesbos, para visitar migrantes que entram na Europa.
A próxima visita agendada de Francisco é à Irlanda, nos dias 25 e 26 de agosto, para participar do Encontro Mundial das Famílias.
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Visita de Papa ao Conselho Mundial de Igrejas tem importância significativa na era das divisões - Instituto Humanitas Unisinos - IHU