Por: Lara Ely | 19 Agosto 2017
Desde que o presidente americano Donald Trump assumiu o poder, a polêmica sobre a construção de um muro na fronteira com o México vem dando o que falar. O que pouco se comenta é sobre o outro muro, que fica ao Sul, e impede a entrada de imigrantes da Guatemala, última fronteira antes do cobiçado destino dos migrantes latinos, os Estados Unidos.
A estratégia de Trump de sobretaxar em 20% os produtos mexicanos gerou reação no presidente do México Henrique Peña Nieto, que se negou a financiar o fechamento da fronteira. Além do desgaste na relação diplomática entre os dois países, o assunto reverberou no posicionamento de outros países latinos sobre o tema das migrações e fez o México redobrar as ações ao vizinho pobre.
Atuando como anteparo dos deslocamentos rumo ao norte, o lado guatemalteco da fronteira é uma faixa de terra de 1 mil quilômetros de extensão. Por ali, vivem comerciantes que vão de uma margem a outra, coiotes, prostitutas, cambistas, muitos dos quais tiveram tentativas frustradas de deixar o país e contentarem-se de viver às margens da linha de trem conhecido como "La Bestia”.
Há cerca de três anos, o México embarcou em uma campanha chamada "Plan Frontera Sur", para fortalecer a vigilância e dar mais segurança aos migrantes que tentam embarcar neste trem, que percorre todo o México desde o limite com a Guatemala até os Estados Unidos.
Culmina ali um movimento migratório decorrente de diversos países latinos e motivado pela busca de melhores condições de vida. É gente que foge da violência sofrida em seus países de origem e busca oportunidades. A exemplo desses movimentos, pode-se citar os deslocamentos entre Venezuela e Colômbia ou Brasil, além de Peru, Paraguai e Bolívia para a Argentina.
Segundo publicou o site Infobae, a organização de direitos humanos Washington para Assuntos Latinoamericanos - Wola já identificou 16 novas rotas para ir da América Central até a fronteira do México com o Texas: duas são marítimas e vão de embarcações de El Salvador e Guatemala até o litoral de Huatulco e Puerto Ángel, em Oaxaca (Sudeste), onde depois os migrantes iniciam rotas por terra que os levam até Veracruz e outros estados para pegar os trens.
Recentemente, a Rede de Organizações Defensoras de Migrantes - Redodem entrevistou mais de 30 mil migrantes acolhidos em seus albergues e identificou que quase metade dos crimes contra os imigrantes em 2015 foi cometida por policiais (41%). O restante foi pelo crime organizado e a delinquência comum.
Foi identificado também que um dos problemas gerados pela violência é a gravidez de meninas, abusadas sexualmente. A Guatemala registou, entre janeiro e junho, mais de 36 mil grávidas com menos de 17 anos de idade, segundo dados do Observatório de Saúde Reprodutiva - Osar.
Assim como na Guatemala, moradores da Venezuela também tem buscado alternativas para deixar o país em busca de melhores condições de vida. A crise humanitária instaurada no país de Nicolás Maduro envolve escassez de medicamentos e alimentos, o que tem feito com que centenas de venezuelanos deixem o país e busquem refúgio no Brasil, entrando pela fronteira de Roraima. A informação é do observatório de Direitos Humanos Humans Rights Watch.
Em solo brasileiro, alguns solicitam proteção como refugiados, outros procuram por trabalhos temporários e outros buscam desesperadamente por cuidados médicos. O fluxo sem precedentes de venezuelanos está pressionando ainda mais o já sobrecarregado sistema público de saúde de Roraima.
Segundo a organização, mais de 12 mil venezuelanos ingressaram e permaneceram no Brasil desde 2014. Muitos deles estão vivendo em condições precárias nas ruas e em um abrigo em Boa Vista. Apesar das condições difíceis, todos os mais de 60 venezuelanos entrevistados em fevereiro pela Human Rights Watch afirmaram estar melhor no Brasil do que na Venezuela.
A política de Trump respingou também na estratégia argentina, onde o cerco à imigração foi uma forma de combate à criminalidade. Um decreto em janeiro deste ano permite deportar estrangeiros sem condenação definitiva. A mensagem do governo de Mauricio Macri é que os imigrantes estão por trás da alta da violência no país.
O presidente já chegou a declarar que “os recém-chegados de países mais pobres da América Latina trazem o crime”. Lá, imigrantes representam 5% da população, sendo a maioria deles vindo de Paraguai, Peru e Bolívia.
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Os muros da discórdia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU