22 Outubro 2025
A Comissão para Ecologia Integral e Mineração da CNBB repudia a decisão do Ibama de autorizar a perfuração em busca de petróleo na Margem Equatorial, nas proximidades da foz do Rio Amazonas, e a pressão do Governo Federal para a abertura de novos poços na região.
A nota é da Comissão para Ecologia Integral e Mineração sobre a licença do Ibama (CEEM), publicada por CNBB, 22-10-2025.
Eis a nota.
Aumentar a extração de petróleo contradiz o compromisso assumido pelas nações na COP de Paris. Com isso, o Brasil perde credibilidade na presidência da COP30, que tem entre uma de suas prioridades a saída progressiva do consumo de combustíveis fósseis.
Há dois anos, o Papa Francisco, na exortação Laudate Deum sobre a crise climática, alertava: “As companhias petrolíferas e do gás têm a ambição de realizar novos projetos para expandir ainda mais a sua produção. (...) Significaria expor toda a humanidade, especialmente os mais pobres, aos piores impactos da mudança climática” (LD 53).
A ciência confirma que não haverá controle do aquecimento global se não for interrompida a expansão de produção e queima de combustíveis fósseis. A decisão do governo brasileiro desrespeita as orientações do Painel da ONU sobre Mudanças Climáticas, o plano de redução da Agência Internacional de Energia e o posicionamento da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Novos empreendimentos de petróleo trazem uma dupla consequência: a primeira é o aumento do aquecimento global, com impactos diretos sobre o clima brasileiro, mais frequentes fenômenos climáticos extremos, custos enormes na gestão de crises ambientais e aumento do preço dos alimentos. A segunda é o perigo de acidentes ambientais, pois a Margem Equatorial é uma região de alta sensibilidade e as fortes correntes marítimas elevam o risco de vazamentos de óleo e desastres ambientais.
Não é esse o futuro do Brasil em que acreditamos. A Comissão para Ecologia Integral e Mineração solidariza-se com os povos e comunidades que defendem outra relação com o território, no campo, na floresta, nas águas e nas cidades, para uma economia que supere, progressivamente, o extrativismo predatório.
É sobre isso que debateremos na COP30, construindo alianças e buscando projetos de transformação, de conversão ecológica e de denúncia das falsas soluções.
Com o Papa Leão, continuaremos a “denunciar a ditadura de uma economia que mata” (Dilexi Te, n. 92) e, tornando-nos voz de todas as criaturas, acreditamos que outra economia é possível, numa urgente transformação sistêmica.
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