03 Junho 2025
"A beleza do local e o charme da cerimônia nos fazem esquecer a história nada nobre de muitos eventos nas eleições papais ao longo dos últimos séculos: assembleias eleitorais intermináveis, votações contestadas, papas e antipapas, grandes poderes e riquezas em jogo".
O artigo é de Severino Dianich, teólogo italiano publicado por Settimana News, 03-06-2025.
O mundo está cheio de assembleias eleitorais de todos os tipos. Há uma, porém, que se destaca pelo espetáculo singular que oferece a espectadores das mais diversas regiões do planeta, confortavelmente sentados em suas poltronas diante da televisão.
Espetacular, como poucas, é a cena daqueles cavalheiros vestidos de vermelho vivo que, cantando uma pungente ladainha de invocações a todos os santos do céu, entram em procissão em uma das igrejas mais extraordinárias do mundo, a Capela Sistina, no Vaticano. Eles tomarão seus lugares às mesas onde, sob o olhar severo de Cristo Juiz, que Michelangelo, da parede do fundo, continuará a fazer irromper sobre eles com todo o seu poder, preencherão sua cédula para eleger o Papa da Igreja Católica.
A cena da multidão também é surpreendente em outros aspectos: dezenas de milhares de homens e mulheres que ficam horas na Praça São Pedro olhando para uma chaminé de lata que se projeta entre os telhados e marquises dos edifícios atrás do palácio papal, aglomerados à direita da basílica.
É realmente estranho que, em plena era digital, dezenas de milhares de pessoas estejam esperando notícias importantes de uma chaminé: se saírem nuvens de fumaça acinzentada ou decididamente preta daquela chaminé, isso significará que o papa ainda não foi eleito; se sair fumaça esbranquiçada, significará que o papa foi eleito.
Observando as expressões faciais, parece que essa técnica de comunicação tão improvisada é recebida com total naturalidade pelos presentes. Até a mídia mais despreocupada conta ao mundo com naturalidade, hora após hora, como foi a última "fumaça" saindo dos telhados do Vaticano.
O apelo emocional de uma tradição secular é, em última análise, muito mais poderoso do que as ferramentas de comunicação mais modernas e eficientes. Para descobrir se os cardeais elegeram o papa, veja como fazer. Ponto final.
A beleza do local e o charme da cerimônia nos fazem esquecer a história nada nobre de muitos eventos nas eleições papais ao longo dos últimos séculos: assembleias eleitorais intermináveis, votações contestadas, papas e antipapas, grandes poderes e riquezas em jogo.
Além disso, foi justamente para obrigar os eleitores a procederem de forma decisiva, o mais rapidamente possível, para eleger o novo papa, que nasceu o conclave, isto é, a prática de isolar rigorosamente os eleitores dentro de um espaço bem controlado.
Foi em 1271 que os cardeais, em Viterbo, foram encerrados pelas autoridades da cidade no palácio papal, com alimentos racionados, até chegarem a um acordo, já que depois de 2 anos e 9 meses ainda não tinham conseguido dar à Igreja um novo papa.
Assim, a partir de então, todo o procedimento jurídico para a escolha do novo papa foi colocado sob o controle do mestre de cerimônias que, uma vez que os cardeais entraram na Capela Sistina, proclamou "Extra omnes!"
Na era digital, desde a tarde do dia anterior até o fim do conclave, a rede sem fio em toda a área, desde a Casa Santa Marta, onde residem os cardeais, até a Capela Sistina, onde ocorre a votação e a contagem dos votos, foi silenciada.
Além dos aspectos pitorescos, quando o papado representava um centro de poder político, militar e econômico, bem como cultural e religioso, não é de se surpreender que a eleição do papa tenha lançado todas as chancelarias do mundo em fibrilação e que pressões e interferências indevidas estivessem na ordem do dia.
Há pouco mais de cem anos (1903), no conclave em que Pio X foi eleito, o arcebispo de Cracóvia, Cardeal Jan Maurycy Pawel Puzyna de Kosielsko, teve a audácia de tirar do bolso uma nota, na qual leu que Sua Majestade Real e Imperial, o Imperador da Áustria Francisco José, valendo-se do antigo ius exclusivae, vetava a eleição do Cardeal Rampolla como papa. Foi a última vez na história, mas o veto funcionou.
As coisas mudaram profundamente desde que Stalin perguntou quantas divisões o Papa tinha, mas eu não ficaria surpreso em saber, em nosso tempo, quais contatos foram cultivados na Casa Branca ou no Eliseu com o ambiente eclesiástico, durante os dias da Sede Vacante.
Dentro da casa da Igreja, porém, por toda parte, da Praça São Pedro à Catedral de São Pedro e São Paulo em Ulaanbaatar, na Mongólia, as Ave-Marias do Rosário eram recitadas incessantemente para que o Espírito Santo inspirasse os cardeais a fazerem uma boa escolha. O clima generalizado de fé e oração podia ser sentido dentro dos muros das igrejas, paróquias e conventos.
Isso não impediu, é claro, a criação de correntes na opinião pública, orientações, desejos, esperanças, expectativas do papa ideal, correspondendo para cada um às suas próprias expectativas cultivadas durante muito tempo em torno da melhor forma possível, desejável para o futuro da Igreja.
Nessas efervescências generalizadas, à medida que as pessoas das periferias se concentravam em ambientes mais próximos dos eleitores, as esperanças também se transformavam em sugestões, pressões, mesmo que nada mais do que o que acontece na troca de opiniões entre amigos.
Mas, à medida que nos aproximávamos da entrada da Capela Sistina, era óbvio que as conversas entre amigos se transformavam em operações exigentes de obtenção de consenso sobre este ou aquele nome. A obtenção de consenso também não se dava sobre nada ou sobre possíveis simpatias pessoais. Em vez disso, continham a elaboração de diferentes perspectivas e partiam da identificação dos problemas e soluções que o futuro papa teria que implementar, segundo alguns em uma determinada direção e, segundo outros, na direção oposta.
Diante desses pensamentos e das manobras destinadas a orientar as decisões do conclave, a grande comunidade cristã espalhada pelo mundo parou em oração, contemplando com fé ("Não olhes para os nossos pecados — rezamos na Missa — mas para a fé da tua Igreja") a influência do Espírito Santo, na qual se depositava a esperança de ver um bom papa emergir do conclave. Não sem a aguda sensação de que a ação de Deus jamais exclui a mão do homem do andamento das coisas e, portanto, não sem um certo receio de que a escolha dos cardeais pudesse nem mesmo ser a mais feliz.
Teóricos da conspiração, consultando seus manuais, forneceram ampla informação com as chamadas notícias. Era importante identificar seu próprio gênero literário para poder fazer um discernimento válido.
Apesar da obrigação de sigilo, histórias sobre este ou aquele episódio supostamente ocorrido no conclave vazaram de uma ou outra fonte. O melhor critério para adivinhar o que realmente aconteceu, parece-me, seria avaliar, post factum, as declarações, os planos e as atitudes do eleito, pensando que, no curso normal das coisas, o eleito, pelo menos nos estágios iniciais, não nega as razões e os propósitos para os quais a maioria dos eleitores o designou. Mesmo que seja verdade, como a revista online americana Commonweal escreveu com perspicácia: "Ninguém, incluindo o Papa Leão, sabe que tipo de papa ele será."
O fiel católico acredita que o papado não constitui uma intrusão indevida no corpo da Igreja, mas que o plano de Jesus para o ministério do apóstolo Pedro encontra seu cumprimento na sucessão do bispo de Roma.
Isso não significa que se acredite em algum automatismo milagroso, segundo o qual esse papa seria, sem sombra de dúvida, o melhor possível.
Em nosso mundo de informações insaciáveis, desde a curiosidade legítima até a fofoca mais indigna, tudo foi investigado, tudo se sabe sobre o cristão católico Robert Prevost, o frade agostiniano Padre Rob, o bispo de Chiclayo, o prefeito do Dicastério da Cúria Romana que preside a escolha dos bispos.
Tudo o demonstra como um bom cristão e um bom bispo: Deo Gratias! Mais do que todas as garantias mundanas, o fiel olha para o Papa com fé: agradece a Deus, que assegura à Igreja universal um guia que garante a autenticidade da fé e da unidade, e invoca o Espírito para que o ilumine e inspire nos passos a dar para levar adiante, com decisão, aquela reforma da Igreja desejada pelo Concílio Vaticano II, da qual o Caminho Sinodal 2021-2024 constituiu um passo decisivo e cuja realização o povo de Deus ainda aguarda.