29 Mai 2025
"Faltam padres! E, no entanto, mesmo entre aqueles que permaneceram nas fileiras, há muitos que não atuam como padres: administradores, burocratas eclesiásticos nas cúrias, bispos gestores, bispos embaixadores, estudiosos, professores de todos os tipos, teólogos, arquivistas, funcionários das conferências episcopais... e assim por diante."
O artigo é de Severino Dianich, teólogo italiano publicado por Vita Pastorale, 28-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Faltam padres na Itália hoje! Não é verdade. De acordo com uma das estimativas mais plausíveis, existiriam, na Itália, oito mil padres que não são mais padres. Aliás, a quem é proibido ser padres, mesmo reconhecendo neles a permanência do carisma sacramental da Ordem que receberam. Eles "deixaram de ser padres", ou em italiano são “spretati”, como forma definidos com desprezo por muito tempo. Além da graça incomensurável do sacramento, é um reservatório de enorme riqueza de competências e experiências, relações interpessoais e relações sociais, jogado fora.
Em 1954, foi lançado o filme Lo spretato, que deu origem a vastos debates em todos os lugares. Em um campo de prisioneiros, um ex-padre e um jovem que pretende se tornar padre se encontravam e se tornavam amigos. O filme conta a história de sua amizade, que é constantemente atravessada por um confronto duro e incessante sobre suas escolhas, tão contrastantes, que no final desembocará em tragédia: num momento de conflito, o jovem, agora padre, cairá da escada batendo a cabeça, mas terá as forças, antes de morrer, para dar a absolvição ao ex-padre que, naquele momento derradeiro, a implora. Além do final, outra sequência do filme havia suscitado discussões de teor teológico: quando o ex-padre, à mesa de um bar do hotel, desafia a fé do amigo ao proferir as palavras da consagração diante de uma garrafa de champanhe, que o jovem, por respeito ao sacramento, que considera sempre válido, sorverá até a última gota: a transcendência do sacramento, as alturas e baixezas da vida vivida.
Revendo-o hoje, o filme pareceria um tanto barroco, repleto de efeitos dramáticos que excedem à realidade. Mas na época os valores em jogo, tanto do sacramento quanto dos empenhos de vida assumidos com livre escolha, estavam diante do sujeito em sua imponente objetividade, de modo que, custe o que custar, ficava radicalmente condicionado por eles. Isso contribuía para dramatizar desmedidamente a decisão do padre que abandona o ministério. O filme, em seu contexto teológico, anterior à teologia do Vaticano II, tocava as feridas abertas dessa figura de cristão que deixou de exercer o ministério, mas que, uma vez consagrado "sacerdote", devia ser sempre considerado como tal, apesar de sua vida agora se passar fora da Igreja e de sua missão.
Faltam padres! E, no entanto, mesmo entre aqueles que permaneceram nas fileiras, há muitos que não atuam como padres: administradores, burocratas eclesiásticos nas cúrias, bispos gestores, bispos embaixadores, estudiosos, professores de todos os tipos, teólogos, arquivistas, funcionários das conferências episcopais... e assim por diante. Não que essas funções não sejam necessárias na Igreja, mas não está claro por que todas elas deveriam ser desempenhadas por padres ou bispos. Uma obra de racionalização das burocracias eclesiásticas devolveria milhares de padres ao ministério pastoral. No entanto, na Igreja, não deveria ser aceita, exceto como exceção, uma figura de padre que, após celebrar a missa pela manhã, desempenhe outras funções pelo resto do dia.
O Sínodo dos Bispos 2023-2024, também composto por não bispos, lembrou os ex-padres e, no Documento Final da Primeira Sessão, deixou escrito: "Considerar, avaliando caso a caso e dependendo do contexto, a oportunidade de inserir presbíteros que deixaram o ministério em um serviço pastoral que valorize sua formação e sua experiência".
Não raro, a saída do religioso ou da religiosa da ordem, assim como o abandono do padre de seu ministério, cria uma ruptura, difícil de reparar, entre ele ou ela e a comunidade. É compreensível, porque nos comprometemos juntos com uma tarefa importante, e aqueles que persistem se sentem abandonados por aqueles que saem. E que esse sentimento não pode ditar a lei para os comportamentos a serem mantidos e as relações a serem reorientadas. Acima de tudo, há o imenso valor, bem como o mandamento, da caridade, e o dever da Igreja, que por nenhuma razão pode deixar de cuidar da fé de todos os seus membros, sem excluir ninguém. O dever da reconciliação continua premente. Além disso, não deixa de existir o dever da Igreja de acolher e tornar operantes da melhor maneira possível todos os carismas que o Espírito concede aos fiéis, nem ninguém ousaria pensar que o Espírito Santo retiraria avaramente do sacerdote que deixa o ministério os numerosos dons que já lhe foram concedidos