07 Novembro 2014
Vinte e sete sacerdotes para 700 mil fiéis dividido em ao menos 800 comunidades espalhadas na Amazônia profunda. A missa, na melhor das hipóteses, é celebrada duas ou três vezes por ano. Nem se fala de confissão, não se pode. Esse é o quadro que o bispo Erwin Kräutler, responsável pela Prelazia do Xingu, a mais extensa do Brasil, apresentou ao papa durante uma audiência em Roma Roma, que ocorreu nos últimos meses.
A reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada no jornal Il Foglio, 06-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não há soluções ao alcance das mãos. Os seminários estão vazios, e a possibilidade de incrementar o número de padres no território está excluída a priori.
Eis, então, que se reapresenta a possibilidade de ordenar homens viúvos ou casados com filhos adultos, os chamados viri probati. O importante é que gozem de absoluto respeito dentro da comunidade e sejam de fé e virtude comprovadas. No caso de serem casados, não se poderia prescindir do consentimento da esposa.
O papa, de acordo com o site Terre d'America, estaria pensando nisso e estaria disposto a experimentar a inovação em um contexto bem conhecido de um dos seus conselheiros mais próximos, o cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, seu grande eleitor – ele estava ao lado de Francisco durante a primeira aparição na Loggia das Bênçãos –, ex-prefeito da Congregação para o Clero e atualmente comprometido em nível diocesano justamente na região amazônica, apesar de já ter superado há alguns meses os 80 anos de idade.
Justamente como responsável pelo dicastério que supervisiona o clero secular, há oito anos, Hummes tinha feito a proposta de estudar a viabilidade de ordenar viri probati, a fim de suprir a escassez de sacerdotes em territórios onde as comunicações são difíceis e onde vastas comunidades de fiéis estão privadas da orientação espiritual.
A questão já havia sido posta em pauta em 2005, durante o Sínodo sobre a Eucaristia, mas foi rejeitada: "Os padres sinodais afirmaram a importância do dom inestimável do celibato eclesiástico na práxis da Igreja latina. Com referência ao Magistério, particularmente ao Concílio Vaticano II e dos últimos pontífices, os padres pediram que se expliquem adequadamente aos fiéis as razões da relação entre o celibato e a ordenação sacerdotal, no pleno respeito da tradição das Igrejas orientais. Alguns fizeram referência aos viri probati, mas essa hipótese foi avaliada como um caminho a não se percorrer".
Decisão que foi criticada pelo cardeal Hummes, que, recém-nomeado prefeito do Clero, observou que, "partindo da consideração de que os célibes fazem parte da história e da cultura católica, pode-se refletir sobre esse tema, porque o celibato não é um dogma, mas uma forma disciplinar".
A Igreja moderna, acrescentou, "deve levar em conta esse aspecto, se quiser estar no mesmo passo da história".
Algo bem diferente, de todos os modos, da abolição do celibato sacerdotal, sobre o qual o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, já havia manifestado o seu próprio parecer contrário: "Há quem diga, com um certo pragmatismo, que estamos perdendo mão de obra. Se, por hipótese, o catolicismo ocidental tivesse que rever a questão do celibato, eu acredito que o faria por razões culturais, não tanto como opção universal. No momento, sou a favor da manutenção do celibato, com todos os prós e os contras que ele envolve, porque são dez séculos de experiências positivas, mais do que de erros".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Faltam padres? A solução está nos homens casados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU