27 Mai 2025
Onze países da União Europeia pediram nesta segunda-feira (26) a revisão da lei contra o desmatamento ou um novo adiamento da sua entrada em vigor, prevista para o fim de 2025. O texto foi escrito por representantes do Luxemburgo e da Áustria e apoiado por nove outros países. Eles defendem que as condições impostas a agricultores e silvicultores são “elevadas ou até impossíveis de implementar”.
A informação é publicada por RFI, 26-05-2025.
Segundo o documento apresentado no Conselho de Ministros da Agricultura em Bruxelas, as exigências são “desproporcionais em relação ao objetivo do regulamento, que é impedir o desmatamento onde ele realmente ocorre”. Os países propõem a criação de uma categoria de “países de risco zero” de desmatamento, que ficariam isentos de obrigações e controles.
A legislação, já adiada uma vez sob pressão de países como Brasil, EUA e Alemanha, exige que empresas importadoras de produtos como cacau, café, soja, óleo de palma e madeira comprovem a rastreabilidade por meio de dados de geolocalização e imagens de satélite fornecidas pelos produtores.
A medida enfrenta forte resistência de setores do agronegócio e de países da África, Ásia e América do Sul, que alertam para os custos adicionais impostos a agricultores, pecuaristas e madeireiros.
O novo apelo dos europeus ocorre em um momento favorável ao agronegócio na UE, com a revisão de diversas políticas ambientais adotadas no mandato anterior da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A destruição de florestas tropicais primárias atingiu em 2024 o maior nível em mais de 20 anos, segundo um relatório apresentado na semana passada pelo Global Forest Watch, ligado ao World Resources Institute (WRI) e à Universidade de Maryland.
Foram perdidos 6,7 milhões de hectares — área equivalente ao Panamá —, um aumento de 80% em relação a 2023. Isso equivale à perda de 18 campos de futebol por minuto, segundo Elizabeth Goldman, codiretora do observatório.
Pela primeira vez, os incêndios superam a agricultura como principal causa da destruição, respondendo por quase metade das perdas. As emissões associadas somam 3,1 bilhões de toneladas de CO₂ — mais do que as emissões energéticas da Índia.
O relatório foca nas florestas tropicais, essenciais para a biodiversidade e o sequestro de carbono. As perdas incluem desmatamento intencional, destruição acidental e incêndios.
O Brasil lidera o ranking com 2,8 milhões de hectares destruídos, dois terços por incêndios — muitos iniciados para abrir espaço ao cultivo de soja e à pecuária.
Apesar dos avanços em 2023 com medidas do governo Lula, o progresso está ameaçado pela expansão agrícola, alerta Sarah Carter, do WRI. A Amazônia brasileira registra o maior nível de destruição desde 2016.
A proteção das florestas é uma das prioridades da presidência brasileira da COP30, marcada para novembro em Belém. A Bolívia aparece em segundo lugar, com triplo da área destruída em relação ao ano anterior, também por incêndios provocados para expansão de fazendas industriais.
O cenário é misto em outras regiões: melhora na Indonésia e Malásia, piora no Congo e na República Democrática do Congo.