18 Outubro 2019
Embargos econômicos a produtos que tenham origem em zonas com violações de direitos humanos tem sido recorrente nas falas de lideranças presentes nos eventos simultâneos ao Sínodo da Amazônia.
A reportagem é de Guilherme Cavalli, publicada por Cimi, 16-10-2019.
Foto: Guilherme Cavalli | CIMI
Como pedido que ressoa desde os eventos simultâneos ao Sínodo da Amazônia, o tema de embargos a produtos que tenham origem em zonas com violações de direitos humanos tem sido recorrente nas falas de lideranças presentes em Roma. Para Edna Sateré Mawé o consumo em países europeus deve ser responsável e levar em conta a origem dos produtos, para certificarem que esses “não estejam contaminados com sangue dos povos indígenas e amazônicos”.
“É preciso que vocês prestem atenção de que empresa compram, de onde vem o produto que está na mesa. Observem se para a produção dele não foi derramado sangue”, instigou a liderança aos presentes no encontro que ocorreu na última terça-feira (14) há 200 metros do Vaticano. “Essa é uma das formas que podem se fazer aliados dos povos indígenas. Não consumam produtos do agronegócio. Não compre o que vem da mineração. Assim conseguiremos colocar um ponto final nas violências que acontecem na Amazônia”, comentou na mesa de diálogo organizada pelo Centro Amazônico de Antropologia e Aplicação Prática (CAAAP).
Edna Sateré Mawé. Foto: Guilherme Cavalli | CIMI
A indígena Sateré Mawé também convocou aqueles que a ouviam na Igreja Transpontina, sede da Tenda Casa Comum, a uma “virada de mentalidade que parte do cuidado com a Casa Comum”. “Se o ser humano foi capaz de elaborar um plano de destruição, também poderá construir um modelo que cuide da natureza. Juntos, indígenas e não indígenas, somos capazes de promover mudanças. Necessitamos essa transformação e é urgente. Sem a Terra, ninguém sobreviverá”.
Adriano Karipuna, liderança de Rondônia, também chama atenção para a necessidade de criar barreiras humanitárias para commodities que sejam oriundos de desmatamento e violência aos direitos humanos. “A União Europeia precisa levar em conta em seu acordo com o Mercosul que grande parte dos produtos a serem importados sairão de áreas, de fábricas, de fazendas que perseguem e matam os protetores da floresta”, sustentou a liderança de umas das terras indígenas mais ameaçadas no Brasil.
“O Brasil diz ter interesse no acordo do Mercosul com a União Européia (UE), dizem que querem exportar mais grãos, soja, carne. Nossa pergunta é se isso não vai aumentar as invasões dos nossos territórios”, questiona Adriano. “Nos preocupamos porque nosso território já está sendo roubado. Somos ameaçados. Hoje existem comentários de que querem ocupar nossas terras para mineração”.
Para o indígena, países da UE precisam observar com cautela para a assinatura do acordo já que “governo tenta legitimar invasões em territórios indígenas”. “A carne que os europeus consomem, e também outros produtos que são exportados do Brasil, provocam o derramamento de sangue. Essas pessoas que dizem gerar economia, emprego e capital, são os perseguem os povos indígenas”.
Adriano Karipuna. Foto: Guilherme Cavalli | CIMI
O Relatório de Violência contra os Povos Indígenas – dados 2018, apresentado na última semana em Roma pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), traz um capítulo sobre a Terra Indígena Karipuna e “o novo modo de esbulho possessório; além de roubarem a madeira, os minérios e a biodiversidade, invasores querem se apropriar da posse da terra e chegam a lotear os territórios dos povos”.
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“Parem de importar produtos com sangue indígena”, clamam indígenas em Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU