24 Setembro 2024
Em reunião com representantes da Comissão Europeia em Nova York, Lula ecoa críticas do agronegócio brasileiro à taxação de carbono sobre commodities importadas na UE.
A informação é publicada por ClimaInfo, 24-09-2024.
Causa estranhamento que a agenda do presidente Lula desta segunda-feira (23/9) em Nova York tenha sido ocupada pelos dois setores que mais emitem os gases de efeito estufa que estão provocando catástrofes e prejuízos bilionários no Brasil este ano: combustíveis fósseis e o agro.
Ao se encontrar com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com o objetivo de discutir o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, Lula dedicou-se a aparar as arestas sobre a nova lei antidesmatamento do bloco europeu, reiterando as críticas do agronegócio à taxação de carbono sobre commodities importadas pelos europeus, que afeta diretamente os exportadores brasileiros.
De acordo com Jamil Chade no UOL, Lula quer pressionar os europeus a adiarem a aplicação da nova regra, programada para janeiro de 2025. A argumentação de Lula segue o mesmo raciocínio da carta encaminhada pelo governo brasileiro no começo do mês à UE, na qual criticou a medida como protecionista e sugeriu a possibilidade de uma denúncia formal contra os europeus no tribunal de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Na semana passada, o Observatório do Clima contestou os argumentos do governo Lula contra a lei antidesmate da UE, ressaltando que a medida é importante para incentivar os produtores brasileiros a parar de desmatar e que a posição oficial do governo “sabota a liderança climática do Brasil”. O Correio Braziliense também abordou essa questão.
Lula também aproveitou o dia para fazer outra conversa, essa mais discreta – e, considerando o discurso brasileiro nos últimos dias em NY, mais constrangedora. A BBC Brasil relatou que o presidente se encontrou com o CEO da petroleira Shell, Wael Sawan, e o chefe da Shell Brasil, Cristiano Pinto. O compromisso, que durou cerca de uma hora, não estava na agenda oficial de Lula. Vale lembrar que a Shell já anunciou seu interesse em explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas se a Petrobras conseguir “passar a boiada” e obter licença do IBAMA para perfurar um poço de petróleo na região.
Interlocutores do governo disseram terem sido instruídos a não divulgar a reunião, confirmada depois pelo Ministério da Fazenda. O teor da conversa de Lula com os executivos da Shell não foi informado. Um dos pontos potenciais é o interesse da empresa em explorar a Margem Equatorial, onde já possui blocos exploratórios nas bacias sedimentares de Potiguar e Barreirinhas.
O tête-à-tête com uma das maiores empresas de combustíveis fósseis do planeta não ajuda muito na projeção de liderança internacional climática que o Brasil tanto busca. O fato também evidencia a ambiguidade que o governo mantém em torno dessa agenda: ao mesmo tempo em que quer organizar a “COP amazônica” com a COP30 em 2025, o Palácio do Planalto parece não ter desistido da ideia de produzir combustíveis fósseis na região.
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