Órgão havia recomendado negativa da licença, o que ocorreu em maio de 2023, e manteve a posição contrária no pedido de reconsideração feito pela Petrobras.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 01-08-2024.
Se de um lado a pressão política para liberar a qualquer custo a exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas continua, de outro o Ministério Público Federal (MPF) tenta garantir que a legislação ambiental seja cumprida. Assim, o MPF no Amapá deu prazo até hoje (1º/8) para que o Ibama se manifeste sobre sua recomendação para o órgão ambiental manter o indeferimento do pedido de licença feito pela Petrobras para perfurar um poço no bloco FZA-M-59.
Em ofício encaminhado ao Ibama na segunda (29/7), o procurador da República João Pedro Becker Santos reforçou que “não é admissível” que a complexidade do processo seja utilizado, por si só, como justificativa para a “absoluta ausência de resposta” em mais de um ano, informam epbr, Terra e Terra Brasil.
O órgão ambiental negou a licença em maio de 2023, e semanas depois a petroleira pediu reconsideração, mas ainda não teve resposta. Já na primeira tentativa de licenciamento o MPF havia recomendado ao Ibama negar a liberação, e em agosto de 2023 manteve a posição de negar a licença à Petrobras no pedido de reconsideração feito por ela.
Em abril, um ofício da diretoria do Ibama responsável pelo licenciamento listava duas principais questões que ainda precisam ser reavaliadas no processo: o impacto em Terras Indígenas e o plano de resposta da petroleira em caso de vazamento com contaminação da fauna. Na questão indígena, o Ibama acatou a recomendação da FUNAI de consulta a Povos Indígenas da região do Oiapoque, no Amapá, antes de qualquer decisão. Também solicitou à Petrobras uma série de estudos para apurar os impactos “sociais, culturais e ambientais” da perfuração sobre a população indígena.
No final de junho, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ávido por explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas, disse acreditar “piamente” na licença. Não por questões técnicas, claro, mas pelo rolo compressor que ele, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e até mesmo o presidente Lula formam contra a decisão do Ibama.
A pressão ignora até mesmo um atlas, elaborado em 2016 e entregue ao governo federal, que mostra o altíssimo risco socioambiental da atividade na foz do Amazonas.
Leia mais
- Foz do Amazonas é supersensível a óleo e exploração carece de dados científicos, dizem pesquisadores
- Corrida para proteger a Foz do Amazonas se acirra
- Nova presidente da Petrobras leiloou blocos de combustíveis fósseis na foz do Amazonas
- Jean Paul Prates diz que explorar foz do Amazonas é “decisão de Estado”, mas repete alarmismo com ameaça de importação de petróleo
- Marina Silva diz que exploração de petróleo é uma decisão “de governo”, não do MMA
- Demanda global por petróleo deve subir em 2025, prevê OPEP
- Marina Silva: precisamos abandonar os combustíveis fósseis, mas países ricos devem liderar esforço
- Marina Silva em rota de colisão com a Petrobras
- Pedido de licença de petróleo na Foz do Amazonas prevê impacto em 8 países
- A disputa para explorar petróleo na Foz do Amazonas
- O leilão do “Fim do Mundo” para exploração de gás e petróleo
- Blocos de petróleo e gás na Amazônia comprados no “Leilão do Fim do Mundo” afetam Terras Indígenas e Unidades de Conservação
- “Leilão do Fim do Mundo” tem áreas arrematadas na Amazônia e em outras regiões de sensibilidade socioambiental
- Sem proibir novos poços de petróleo, as temperaturas subirão 2,7 graus
- Por que os Estados Árabes não estão usando o petróleo como arma contra Israel
- Exploração de petróleo na Margem Equatorial anularia ganhos climáticos de zerar o desmatamento na Amazônia
- A Petrobras, enfim, vai se transformar em uma empresa de energia?
- Petrobras prevê somente 11% de investimento em transição energética e descarbonização
- Multas do Ibama à Petrobras crescem mais de 300% neste ano
- Processar óleo de soja nas refinarias da Petrobrás é uma péssima decisão disfarçada de verde. Artigo de Felipe Coutinho
- Prejuízo climático gerado por Petrobras e outras 24 petroleiras soma US$ 20 trilhões
- Novo regime climático e a insistência na exploração petrolífera em Roraima: um desastre anunciado. Artigo de Gabriel Vilardi
- Direção da Petrobrás segue míope, investe pouco e paga muito dividendo, revelam os resultados do 3T23. Artigo de Felipe Coutinho
- Projetos de energia verde causam racha na cúpula da Petrobras
- A Petrobras e as mudanças climáticas. Artigo de Heitor Scalambrini Costa
- Explorar petróleo na foz do Amazonas ainda é prioridade da Petrobras, diz Prates
- A Petrobrás do Lula é a que o Brasil precisa? Artigo de Pedro Augusto Pinho
- “O petróleo precisa sair de cena”, diz novo coordenador de fórum de mudança do clima
- Petrobras prevê recorde de petróleo e pode frear redução de emissão de gases estufa