27 Mai 2025
"Ir às periferias significava para o Papa abrir novos caminhos, encontrar a diversidade, ver de modo diferente e, portanto, modificar a visão de si mesmos, da Igreja e da humanidade. Para ele, era obediência aos sinais dos tempos e dos lugares esse não temer a novidade, a desordem às vezes necessária para construir uma comunhão plural e de diversos, justamente como quer o Espírito Santo, que nos textos de Basílio, frequentemente citados por Francisco, é apresentado como 'a harmonia da Igreja e das Igrejas'", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em Vita Pastorale, junho 2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 13-03-2013, depois da fumaça branca, o coração de muitos de nós estava em grande apreensão: as previsões da véspera sobre a escolha do Papa feitas pelos cardeais no conclave estavam orientadas para uma hipótese de uma Igreja certamente não inspirada no Concílio Vaticano II, uma inspiração que havia sido seguida, mesmo que em uma interpretação às vezes restritiva, por Bento XVI. Mas quando Francisco apareceu na loggia da Basílica de São Pedro, vestido apenas com a batina branca sem quaisquer ornamentos, com um sorriso mal contido, e depois de dizer que havia sido escolhido como bispo de Roma, pediu ao povo de Deus que o abençoasse, em vez de dar sua bênção imediatamente do alto de sua majestade, entendemos que o Senhor estava nos doando um pastor, um pai que ama suas ovelhas e seus cordeiros.
Ele vinha quase do fim do mundo, inesperado, e se apresentava de uma forma inusitada, desejando "boa noite" a todos. Eu sabia que o Cardeal Bergoglio tinha origem italiana, filho de uma família de Asti, de uma cidade perto da minha, em Monferrato, e senti uma empatia natural por ele, por seu jeito de se mover, de falar. E também o nome que havia escolhido, "Francisco", não deixava dúvidas: nenhum Papa antes dele havia assumido aquele nome que significava reforma da Igreja sob a hegemonia absoluta do Evangelho, amor à pobreza e aos pobres, escolha de um caminho que também continha humilhações.
Lembrei-me de como Hannah Arendt havia definido João XXIII: "Um cristão no trono de Pedro". Sim, também do Papa Bergoglio, desde seus primeiros gestos, podia-se dizer que um cristão tinha se tornado Papa, não no sentido de batizado, mas no sentido de discípulo que busca conformar-se ao seu Cristo e Senhor. E, certamente, ao longo do ministério petrino de Francisco, serão os gestos muito simples, mas realizados com criatividade pessoal, que manifestarão sua grandeza evangélica e espiritual. Não será fácil esquecê-los: recém-eleito, ele lança uma coroa de flores nas águas de Lampedusa em memória dos migrantes que morreram no Mediterrâneo; depois, junto com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, visita os migrantes na ilha de Lesbos e traz consigo um grupo para Roma; faz uma longa parada em silêncio diante do muro que divide Jerusalém em duas partes; e durante a pandemia, vai à Praça São Pedro, sozinho, para uma intercessão silenciosa diante do Crucifixo.
E, além desses, os gestos cotidianos, inúmeros, desde o lava-pés de pobres, mulheres, doentes, não cristãos, prisioneiros, pecadores... até os encontros com aqueles que são julgados indignos de pertencer à Igreja de Cristo pelos chamados "justos".
Mas Francisco também deixou à Igreja textos importantes, depois dos quais a Igreja não poderá mais caminhar como antes: Laudato si', que delineia a relação do cristão com o planeta e a humanidade, e a Fratelli tutti, que indica a fraternidade universal como horizonte, para além dos limites da Igreja. O Papa também nos presenteou com homilias que se nutrem da fonte da Palavra de Deus. E teve a coragem da admoestação profética até a acusação dos males presentes nas instituições eclesiásticas, alertando contra o clericalismo.
Às vezes, as afirmações de Francisco surpreendiam e cegavam pela luz que continham. Sobre os homossexuais, disse: "Quem sou eu para julgar?"; ou: "Mesmo no maior pecador a graça de Deus pode habitar e agir!". Não eram frases de efeito, mesmo que precisassem de maiores explicações: porém, eram um convite à misericórdia de Deus, que triunfa sobre a sua justiça, como os profetas já haviam revelado; misericórdia da qual a Igreja deve ser sempre ministra, sem impor condições. O Papa Francisco possuía uma profunda teologia da misericórdia e do perdão. E por isso não só quis o ano da misericórdia, como pediu diversas vezes uma misericórdia que fosse implementada na vida das diferentes Igrejas.
Não é difícil admitir, no entanto, que Francisco tinha um caráter nada fácil e espinhoso, e que, mesmo como Papa, continuou sendo um homem passional e, portanto, sujeito a uma raiva que o levava a juízos muito duros, como quando disse que Donald Trump não era muito cristão ou chamou um ex-ministro italiano de "algoz" por seu comportamento em relação aos migrantes.
Sim, Francisco amava a verdade ao custo de ser rejeitado por suas posições; mesmo que, fiel à tradição inaciana, Francisco sempre tenha acreditado que todo comportamento deve ser avaliado em seu contexto, na singularidade das pessoas envolvidas, porque se os princípios são importantes, é preciso sempre se perguntar se a situação concreta não exige uma interpretação no espaço da oikonomía, para que a pessoa nunca seja esmagada pelo peso da lei. É preciso olhar para o bonum animorum e ajudar cada pessoa a não se sentir condenada, mas perdoada pelo Senhor, que antecipa a graça ao pecado.
E Francisco será lembrado justamente por esse êxodo, essa saída que ele queria como caminho da Igreja na história. Ir às periferias significava para o Papa abrir novos caminhos, encontrar a diversidade, ver de modo diferente e, portanto, modificar a visão de si mesmos, da Igreja e da humanidade. Para ele, era obediência aos sinais dos tempos e dos lugares esse não temer a novidade, a desordem às vezes necessária para construir uma comunhão plural e de diversos, justamente como quer o Espírito Santo, que nos textos de Basílio, frequentemente citados por Francisco, é apresentado como "a harmonia da Igreja e das Igrejas".
Mas o processo mais decisivo que Francisco iniciou, e não conseguiu concluir, é o da sinodalidade. Esse continua sendo, sem dúvida, a novidade e o legado mais importante de Bergoglio. Com a certeza de que o sensus fidei não é apenas prerrogativa do magistério papal, mas habita o povo de Deus, que é "infalível in credendo" (Evangelii gaudium 119), aos poucos ele compreendeu a sinodalidade de uma forma inédita para a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas. Se no início dizia que devemos aprender a sinodalidade com os Ortodoxos, que têm um Sínodo de Bispos em torno do Primaz-Patriarca, o Papa passou depois a formular a sinodalidade como um processo que deve envolver o povo de Deus: synodos, um caminhar junto de todos, porque "o que diz respeito a todos deve ser tratado e deliberado por todos!". Eis, portanto, o Sínodo que interroga os bispos e o povo de Deus sobre a sinodalidade, num percurso que se desdobra ao longo de três anos, com atenção à escuta e ao debate em cada comunidade, em cada Igreja local, em cada uma das Igreja e na Igreja universal.
Quanto ao último Sínodo em Roma, Francisco quis que ocorresse em duas etapas, duas sessões, para que houvesse mais tempo para aprofundamento e amadurecimento. E assim o Sínodo termina e a fase de implementação ou recepção começa nas Igrejas locais, mas isso poderia ter se transformado em um desejo e ser abandonado pelo Papa que vinha depois. E assim, em 14 de março de 2025, enquanto estava no hospital, Francisco legislou que o Sínodo teria uma fase de recepção e implementação que deveria se concluir no final de 2028, com uma assembleia mundial da Igreja Católica convocada para elaborar Proposições que depois se tornariam leis, isto é, direito canônico, e não apenas palavras de esperança! Um gesto extraordinário de um Papa à beira da morte!
A sinodalidade já está agora inscrita na vida da Igreja e o Papa Leão XIV também terá que a levar em conta e implementá-la. Mesmo que, na homilia fúnebre de Francisco, tenham sido lembrados todos os gestos eloquentes, proféticos e caridosos que o Papa fez, mas não foi lembrada nem a sinodalidade nem a atenção à situação das mulheres na Igreja. Mas a sinodalidade exigirá que essas realidades que emergiram dos trabalhos sinodais não sejam esquecidas, mas mantidas vivas no debate eclesial.
O Papa Francisco é contraditório? O Papa Francisco é profeta pela metade? O Papa Francisco é um papa incompleto? Sim, essas definições do Papa também capturam limites do pontificado que temos como graça.
Ainda teremos muitas ocasiões para voltar a agradecer a Deus pelo Papa que nos deu como "cristão no trono de Pedro".