14 Mai 2025
A curiosa história do Papa Leão XIV, o norte-americano anteriormente conhecido como Cardeal Robert Prevost, já está causando impacto, com alguns chamando o novo pontífice de primeiro papa negro e outros ainda procurando respostas.
A reportagem é de Nate Tinner-Williams, publicada por National Catholic Reporter, 13-05-2025.
O genealogista de Nova Orleans, Jari Honora, lançou a bomba em 8 de maio, após fumaça branca subir na Praça São Pedro, chamando a atenção para dados do censo que indicam que o novo Bispo de Roma descende, por parte de mãe, de crioulos afrodescendentes da Louisiana. O próprio papa foi criado em Chicago, para onde a família de sua mãe migrou no início do século XX.
Uma missa de inauguração entronizará oficialmente o primeiro papa americano em 18 de maio, levando milhares de pessoas ao Vaticano para festejar o novo rosto da Igreja Católica.
"Convido vocês a refletirem sobre as maravilhas que o Senhor fez, as bênçãos que o Senhor continua a derramar sobre todos nós por meio do Ministério de Pedro", disse Leão ao Colégio dos Cardeais em inglês durante uma homilia na manhã de sexta-feira em uma missa transmitida ao vivo na Capela Sistina.
"Vocês me chamaram para carregar essa cruz e cumprir essa missão, e sei que posso contar com cada um de vocês para caminhar comigo, enquanto continuamos como Igreja".
Em seu cargo mais recente, como prefeito do Dicastério para os Bispos do Vaticano, Prevost aconselhou o Papa Francisco sobre nomeações episcopais (e rebaixamentos) em todo o mundo, incluindo a remoção, em 2023, do bispo de extrema-direita do Texas, Joseph Strickland — uma conhecida voz anti-Francisco — da Diocese de Tyler. No início daquele ano, o bispo do Tennessee, Richard Stika, de Knoxville, renunciou sob coação após sucessivos escândalos, uma saída também influenciada por Prevost.
O futuro papa também se manifestou abertamente em diversas questões sociais, incluindo racismo, pena de morte, mudanças climáticas e pobreza. Ele escolheu seu nome papal, Leão XIV, em homenagem ao Papa Leão XIII, que reinou no fim do século XIX, foi pioneiro na doutrina social católica e condenou a escravidão em dois documentos papais.
As conexões com a justiça social (e étnicas inesperadas) já começaram a entusiasmar americanos de vários tipos, incluindo muitos crioulos da Louisiana que veem o Papa Leão XIV como um dos seus.
O padre Claude Williams, afro-americano de Nova Orleans, serve em Roma como reitor do Collegio San Norberto, uma casa da Ordem Norbertina — parte da mesma tradição dos agostinianos, da qual o papa é membro.
Os ancestrais de Williams também frequentavam a mesma igreja de Crescent City, do século XIX, que os de Leão, no histórico bairro Seventh Ward, há muito associado aos crioulos negros.
"Minha bisavó foi batizada em Nossa Senhora do Sagrado Coração em 1905, onde seus avós se casaram em 1887", disse Williams, acrescentando que é grato pelo carisma agostiniano estar presente no mais alto cargo da igreja.
"A essência da Regra Agostiniana é ser um só coração e uma só mente em Deus", disse ele. "Nosso carisma como Norbertinos é a communio, uma marca registrada de todas as comunidades agostinianas. O dom da conexão íntima com Deus e do serviço comprometido ao Seu povo santo".
As raízes de Leão na Louisiana — que estão sendo investigadas pela Arquidiocese de Nova Orleans — são apenas parte da intersecção católica negra que está rapidamente tomando forma na mídia e em outros lugares.
Williams observou ao Black Catholic Messenger que Leão parece ter nascido no mesmo hospital de Chicago onde o Venerável Padre Augustus Tolton, que saiu da escravidão para se tornar o primeiro padre abertamente católico negro do país, morreu em 1897.
O Padre Kareem Smith, da Arquidiocese de Nova York, profere a homilia na histórica Igreja de São Francisco Xavier, em Baltimore, em 22-07-2019, durante uma missa em homenagem aos jubilantes, em conferência conjunta de padres, religiosas, diáconos e seminaristas negros. (Foto: CNS | Catholic Review | Kevin J. Parks)
O padre Kareem Smith, da Arquidiocese de Nova York, que atua como presidente do National Black Catholic Clergy Caucus, abordou um tema semelhante e também chamou a atenção para outros candidatos afro-americanos à santidade.
"Rezamos para que este novo pontificado traga maior reconhecimento ao legado dos católicos negros na América e um impulso renovado em direção à canonização dos 'Sete Santos', incluindo Tolton", disse ele.
O fato de as raízes [do Papa Leão XIV] se estenderem até o solo fértil da Nova Orleans crioula é mais do que genealógico; é providencial. Afirma a presença frequentemente esquecida, mas inegável, dos católicos negros na própria trama da história da nossa Igreja — uma história que tem sido frequentemente questionada ou ignorada.
A Irmã Stephanie Henry, católica negra que atua como líder congregacional das Irmãs do Santíssimo Sacramento e lecionou em Nova Orleans por anos, também expressou alegria pela eleição de Leão XIV. A fundadora de sua ordem, Santa Catarina Drexel, a famosa herdeira que se tornou freira, foi inicialmente incentivada a ingressar na vida religiosa pelo Papa Leão XIII.
"Parece importante que esta eleição tenha ocorrido em 8 de maio, a antiga festa litúrgica de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento", disse ela em uma declaração compartilhada com o Black Catholic Messenger.
"Em tempos como estes, quando muitos nos Estados Unidos se perguntam: 'Para que direção estamos indo como nação? Estamos ouvindo a Deus?', Deus falou e está nos chamando ao seu coração na América por meio desta nova eleição", acrescentou ela, finalizando com uma oração pelo novo pontífice norte-americano.
"Que Deus abençoe o Papa Leão XIV com todas as graças de que ele precisa para liderar a Igreja e pastorear o mundo em nome de Jesus Cristo".