RS: o impasse nas ações de prevenção às cheias um ano depois. Destaques da Semana no IHU Cast

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

Por: Cristina Guerini e Lucas Schardong | 03 Mai 2025

Há um ano o Rio Grande do Sul começava a vivenciar o que se tornaria a maior tragédia climática da história do Brasil. Um volume de chuvas sem precedentes caia torrencialmente na maior parte dos municípios. A água sem fim fez os rios transbordarem e as poucas estruturas de contenção e diques romperem. Não sei se é possível transmitir em palavras o que os gaúchos viveram: 184 pessoas mortas, 25 desaparecidas, 478 cidades afetadas, 96% do território atingido, mais de 2.400 casas destruídas, mais de 80 mil pessoas desabrigadas, mais de 870 mil famílias afetadas e mais de 350 pessoas ainda vivem em abrigos.

Na sexta-feira, 3 de maio de 2024, quando a capital começou a alagar, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU conversou à noite com Rodrigo Paiva, um dos pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH da UFRGS. E, durante a nossa conversa, enquanto monitorava a situação, o professor anunciava que na última medição, o Guaíba ultrapassara a marca da enchente histórica de 1941:

"Acaba de acontecer, pois na última medição feita há pouco [conversamos na noite do dia 03-05-2024, às 21h30min] a cota [do Guaíba] chegou a 4,77 metros e ultrapassou a marca de 1941. Portanto, vivenciamos uma cheia que já é a maior de todas”, afirmou à época. 

Hoje, 3 de maio de 2025, exatamente um ano depois, fazemos memória daquele trágico dia, que se alongou e virou meses. Para muitos, que ainda não retornaram para casa, completa o primeiro ano.

Ao fazer uma retrospectiva desse primeiro ano, reportagem da Agência Pública apurou que, do Plano Rio Grande, pouco foi realizado. “Realmente está sendo feito na base da recuperação de coisas bem estruturais, obras, desassoreamento. Não se fala realmente em prevenção, em mudança de comportamento, em mudança de paradigma”, assinalou o professor do IPH, Fernando Meirelles, na matéria.

No artigo “Balanço da tragédia no RS, um ano depois”, Paula Gi, Karine França e Marília Budó lembraram que Eduardo Leite “afirmou que havia sido advertido dos riscos da falta de investimento na área climática, mas ‘tinha outras pautas”, como o ajuste fiscal do Estado’. Ao longo de sua gestão, o governador trabalhou junto ao parlamento para alterar quase quinhentos itens do código ambiental do Estado, precarizando a proteção ambiental”.  “E foi da soma de decisões políticas pautadas em princípios neoliberais que a água finalmente invadiu completamente Porto Alegre, a capital do estado”, sinalizaram as autoras.

Com a crise climática literalmente entrando em nossas casas, a virulência do negacionismo trumpista desafia a comunidade internacional e agora libera mineração em alto-mar. Além disso, a estimativa é que o tarifaço de Trump coloque lenha na fogueira do desmatamento na Amazônia e Cerrado, como antecipou o jornal DW esta semana: “o que começou com as tarifas punitivas de Trump contra a China desencadeou uma sequência de acontecimentos três anos atrás que acabou dizimando o Cerrado e a Amazônia no Brasil. Essa cadeia causal agora começa a girar novamente”.

Por falar em Brasil e ataques ao meio ambiente, o Imazon registrou um aumento de 18% na taxa de desmatamento na Amazônia entre agosto e março. Para tentar frear a sanha do desenvolvimento a qualquer custo, parlamentares entregaram carta a Lula pedindo o fim da exploração de petróleo na foz do Amazonas.

Voltando ao Rio Grande do Sul, por aqui paira a sensação de que a vida das mulheres não importa. Com machismo e misoginia em alta, ocupando largo espaço nas redes e monetizando os canais, o estado alcançou a triste marca de seis feminicídios em um só dia e 10 assassinato de mulheres no feriado de Páscoa.

No episódio dessa semana ainda vamos falar de teologia. O colega Gabriel Vilardi traçou uma aproximação entre os textos de Alberto Melloni, Massimo RecalcatiFlávio Lazzarin e Cláudio Bombieri.

Em nosso giro ao Oriente Médio, Gaza mais uma vez é o centro da história. Desde 7 de outubro de 2023, quando houve o ataque do Hamas, Israel matou mais de 52 mil pessoas, em sua maioria mulheres e crianças, e aprisionou mais de 250 palestinos, “o mundo testemunha um genocídio ao vivo em suas telas”. A afirmação é da Anistia Internacional em relatório publicado essa semana. Foi também noticiado que Israel matou cem pessoas em Gaza em 48 horas. Para Wesam Amer, Reitor de Comunicação da Universidade de Gaza: “a mídia ocidental adotou a narrativa israelense”.

No dia 1º de maio celebramos o dia das trabalhadoras e dos trabalhadores. Mas com 32 milhões de brasileiros na informalidade e o supremo tribunal federal tornando a CLT opcional para empregadores, não é momento de festam, mas de luta. Enfrentando anos de retrocessos nas políticas públicas de proteção ao trabalhador, como a terceirização irrestrita e o trabalho intermitente, os trabalhadores brasileiros estão doentes, anunciou relatório da Fundacentro essa semana: em 2024, o Brasil registrou 470 mil afastamentos relacionados a transtornos como depressão e ansiedade. Pedro Tourinho, presidente da Fundação, considera esta uma “epidemia de adoecimento mental”.

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