02 Mai 2025
"Quem subir na galeria de São Pedro na próxima semana vestido de branco precisa ser alguém que entende o valor da sinodalidade em um nível profundo", escreve Michael Sean Winters, jornalista e escritor, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 30-04-2025.
A questão-chave que os cardeais enfrentam e que está sendo abordada nas congregações gerais que ocorrerão esta semana é uma pergunta perene: O que a Igreja precisa neste momento?
A questão é mal compreendida quando formulada como uma escolha entre um papa liberal e um líder mais conservador. Essas categorias perderam muito de sua relevância na descrição da política contemporânea e são ainda menos úteis quando se busca compreender a Igreja.
No Concílio Vaticano II de 1962-65, havia duas chaves hermenêuticas: aggiornamento, ou atualização, e ressourcement, ou retorno às fontes. Por fontes, os padres conciliares se referiam às Escrituras e às tradições da Igreja, especialmente aos escritos dos primeiros Padres da Igreja.
Todos os documentos emitidos pelo concílio refletem ambas as hermenêuticas, e em nenhum momento o concílio priorizou uma em detrimento da outra. Em vez disso, as duas hermenêuticas coexistem em tensão criativa: o caminho a seguir, a atualização, é alcançado de forma mais clara e sólida ao se envolver as fontes da tradição, o ressourcement. As duas estão inextricavelmente interligadas.
Essa dinâmica não é uma dialética hegeliana. O método de Georg Wilhelm Friedrich Hegel começava identificando as falhas em qualquer tese cultural. Para a Igreja, a tensão criativa é dialógica, no sentido mais estrito, um discernimento por meio da palavra, ou do Verbo, do Logos, de Jesus Cristo.
O discernimento cristão não começa com a identificação de falhas, mas com a busca por evidências da graça. Os "sinais dos tempos" aos quais os católicos são chamados a prestar atenção não são um amontoado de dados sociológicos, um conjunto de resultados de pesquisas ou qualquer tipo de comentário cultural. Quando olhamos para os "sinais dos tempos", buscamos evidências da graça, da ação de Deus no mundo. Este ponto foi brilhantemente defendido por um dos cardeais eleitores, o Cardeal Jesuíta Michael Czerny, em seu livro, escrito em coautoria com o Padre Christian Barone, "Irmãos, todos, sinal dos tempos: a doutrina social do Papa Francisco".
A distinção entre uma abordagem mais pastoral e uma mais dogmática também pode ser exagerada. A abordagem pastoral do Papa Francisco não era adogmática. "Dogmático" é um adjetivo negativo para os católicos apenas quando gera rigidez.
Francisco proclamou, sem medo, os dogmas mais essenciais da nossa fé: a bondade misericordiosa de Deus, a dignidade transcendente da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus, a solidariedade própria dos irmãos e irmãs no Senhor e a necessidade da compaixão como base da qual deve brotar uma vida eclesial e cívica saudável.
Todo papa ensina. Todo papa acredita que o Espírito Santo nos fala nas Sagradas Escrituras e na tradição da Igreja. Alguns se apoiam no próprio ensinamento como fonte de graça, enquanto outros se concentram na aplicação do ensinamento no mundo real, com pessoas reais. Aqueles que se apoiam no ensinamento de forma adequada veem Deus agindo nesse ensinamento, enquanto aqueles que seguem uma abordagem mais pastoral veem Deus encarnado na necessidade humana aqui e agora.
Mas a distinção não é absoluta, e as duas abordagens podem e devem se polinizar mutuamente. O que a Igreja tem a oferecer à humanidade sofredora hoje, além dos ensinamentos da Igreja? Que relevância esse ensinamento tem a menos que seja levado ao povo de Deus de uma forma que ele possa apreendê-lo e acolhê-lo?
A distinção pode se tornar uma diferença poderosa e corrosiva se essa tensão criativa for perdida. Isso ficou mais claro durante os debates nos dois sínodos sobre a família, em 2014 e 2015, quando a clareza moral foi confrontada com a aplicação pastoral misericordiosa do ensinamento moral.
Aqueles que desconfiavam de Francisco pareciam sugerir que a única coisa que a Igreja poderia fazer era reiterar seus ensinamentos, gravá-los e, então, seu trabalho estaria cumprido. Outros acreditavam que a Igreja deveria proclamar seus ensinamentos com grande clareza, mas aplicá-los com igual misericórdia.
A genialidade de Francisco foi salientar que a misericórdia era o cerne do ensinamento.
O meio que Francisco adotou para manter essa tensão criativa saudável é a sinodalidade. O objetivo da sinodalidade não é promover uma agenda específica. É um meio de navegar pelas tensões entre as duas hermenêuticas no cerne do Vaticano II.
De fato, a sinodalidade exige que nós, católicos, reconheçamos que pertencemos a uma tradição rica e variada e que o Espírito Santo já está ativo na vida e na alma de todos que encontramos. Ser pastor não é como ser bibliotecário ou arquivista. Nem é como ser inventor ou especulador.
O abade beneditino Donato Ogliari captou bem essa tensão em sua meditação espiritual no início da congregação geral de terça-feira. "A Igreja enraizada em Cristo é uma Igreja que evita a autorreferencialidade e que sabe ir além de seus próprios limites para alcançar também aqueles irmãos e irmãs na humanidade que não fazem parte dela e que experimentam a falta de sentido da vida ou são marcados pelo estigma da marginalização e da exclusão", disse ele.
É o enraizamento em Cristo que move a igreja para fora de si mesma e para dentro do mundo.
O grande filósofo católico francês Jacques Maritain disse certa vez que todos nascemos com um coração liberal ou conservador, e que a maior parte do sucesso intelectual advém da busca por compreender os insights e a sabedoria próprios do tipo de coração com o qual não nascemos, e de nos perguntarmos, repetidamente, como as pessoas diferentes de nós veem e entendem o mundo. É muito fácil pintar aqueles que são diferentes como uma caricatura, um boneco palito, desprovido de complexidade. A sinodalidade exige que encontremos aqueles cujo coração é diferente do tipo de coração que possuímos.
Do que a Igreja precisa? Mais do que tudo, precisa de um pastor como Francisco, comprometido com o processo sinodal como um meio, o meio, de manter o equilíbrio entre aggiornamento e ressourcement. Não há outra receita.
A renovação, para seguir em frente, deve estar enraizada em uma compreensão mais profunda de quem somos como igreja, permitindo que a tradição irrigue essas raízes. A manutenção institucional e doutrinária também não é suficiente: as raízes se espalham ou a árvore morre.
Quem subir na galeria de São Pedro na próxima semana vestido de branco precisa ser alguém que entende o valor da sinodalidade em um nível profundo.