07 Março 2024
A reportagem é de Paola Calderón, publicada por Religión Digital, 05-03-2024.
“Cooperar de forma sinodal significa reduzir ao máximo a assimetria de poder que ocorre naturalmente na prática da cooperação entre doadores e destinatários”, recorda o Cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, em mensagem vídeo dirigida aos participantes do Encontro com instituições e organizações que ajudam a Igreja da América Latina, que acontece de 5 a 7 de março em Bogotá, por convocação do Celam.
Recordando o encontro que realizaram em junho de 2023, o prelado afirmou que é necessário descolonizar a cooperação, que antes de tudo deve ser samaritana, para evitar tanto a fragmentação como as chamadas relações clientelistas.
O cardeal Czerny insistiu na necessidade de compreender que a lógica da comunhão deve prevalecer sobre a lógica da filantropia, portanto os processos devem ser privilegiados sobre os projetos, o que acabará por ajudar a gerar maior transparência na tomada de decisões e nos processos relacionados com a responsabilização.
Da mesma forma, destacou como uma das prioridades do Dicastério o desejo de responder eficazmente às conferências episcopais, aos bispos e em geral às Igrejas locais, como é um pedido expresso, feito pelo Papa Francisco na constituição apostólica Praedicate Evangelium.
Referindo-se a uma das maiores mudanças na cooperação sinodal, falou da supressão da Fundação Populorum Progressio e da subsequente criação de um fundo com o mesmo nome que atualmente aplica estes princípios e demonstra uma nova forma de cooperação mais sinérgica.
“Juntamente com a presidência do CELAM, demos um passo importante ao confiar-lhes a responsabilidade de analisar os projetos propostos ao Fundo e destinar recursos àqueles que consideram de maior viabilidade e impacto social”, explicou, lembrando que o objetivo é ajudar financeiramente à promoção abrangente das comunidades indígenas e afro-americanas em situação de pobreza na América Latina e no Caribe.
Temas que para o Dicastério e para a Igreja universal são uma prioridade deste tempo. “Só cooperando solidariamente com as Igrejas locais, respeitando o princípio da subsidiariedade, podemos esperar o sucesso final”, esclareceu.
Para o cardeal Czerny, o início deste Encontro com Instituições e Organizações de Ajuda da Igreja da América Latina mostra o grande compromisso com uma Igreja cada vez mais sinodal e próxima, que também acontece num contexto caracterizado pelos efeitos sofridos por todo o mundo, depois da Covid-19 e os conflitos prolongados que, juntamente com novas guerras, geram profunda agonia em milhões de pessoas do ponto de vista material, como uma forte desesperança porque não conseguem encontrar uma solução individual, muito menos comunitária.
No caso da América Latina, o prelado explicou a importância de acompanhar o processo sinodal ouvindo o Povo de Deus; em particular a quantos representam os habitantes das periferias existenciais, que juntamente com a Igreja contribuem para a correta interpretação dos sinais dos tempos; respondendo assim a vários desafios entre os quais enumerou a globalização, as deslocações forçadas, o agravamento do racismo, a intensificação da violência social, a precariedade da habitação, o aumento da pobreza e a destruição da criação, entre outros.
A este respeito, o representante do Dicastério Vaticano sublinhou que a missão da Igreja não terminou e as novas ameaças contra o cumprimento do plano de Deus desafiam a criatividade e a proximidade com a realidade que devem caracterizar a ação pastoral da Igreja. Portanto, o chamado é a consciência de um compromisso caracterizado pela construção coletiva.
“Agora, mais do que nunca, devemos unir forças para nos comportarmos como uma única família humana que ouve o clamor dos pobres e está comprometida em cuidar da nossa casa comum”.
O prelado encerrou a sua intervenção pedindo ao Espírito Santo que ilumine as mentes e os corações dos presentes neste encontro, para que com as suas palavras “possam discernir e decidir pelo bem do Povo de Deus”.
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Michael Czerny: “É necessário descolonizar a cooperação” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU