Cardeal Czerny: “As estruturas hierárquicas da Igreja não têm nada a temer dos processos de escuta”

Cardeal Czerny. (Foto: Reprodução | Vatican News)

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20 Outubro 2023

Os migrantes foram os protagonistas da conferência de imprensa deste 19 de outubro, na qual a Assembleia Sinodal trabalhou em grupos menores. Estiveram presentes o Cardeal Michael Czerny, Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Monsenhor Daniel Ernest Flores, Bispo de Brownsville (Estados Unidos), um dos presidentes delegados do Sínodo, Monsenhor Anton Dabula Mpako, Arcebispo de Pretória e ordinário militar da África do Sul, e o Padre Khalil Alwan, da Igreja Maronita.

A reportagem é de Luis Miguel Modino.

Momento de Oração pelos Migrantes e Refugiados

O motivo da presença deles está relacionado com o Momento de Oração pelos Migrantes e Refugiados que terá lugar esta tarde junto ao monumento dos migrantes na Praça de São Pedro e que contará com a presença do Papa Francisco. Esta oração é "uma oportunidade maravilhosa para orar e colocar em prática o que estamos tentando compreender e valorizar no Sínodo", de acordo com o Cardeal Czerny, que destacou a simbologia de os participantes da Assembleia Sinodal caminharem juntos até o monumento e "orarem juntos diante dessa imagem que representa todas as pessoas vulneráveis de todas as épocas".

A Assembleia Sinodal, nas palavras do Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, "enfocou o contexto de uma Igreja que está tentando caminhar de forma coral", definindo o Sínodo como um caminho compartilhado que apoia as pessoas mais vulneráveis, como aqueles que são obrigados a se deslocar de seus lugares de origem.

Os migrantes nos Estados Unidos, Líbano e África do Sul

Os presentes compartilharam a realidade dos migrantes na fronteira entre os Estados Unidos e o México, na África do Sul e no Líbano. Uma experiência compartilhada por Monsenhor Flores, que começou destacando os dons e experiências presentes em cada diocese do mundo, algo que compartilhou em relação à sua própria diocese, por onde passam um grande número de migrantes e onde a situação é muito complexa. Em uma diocese com recursos materiais limitados, o prelado enfatizou a generosidade dos corações das pessoas. O Bispo de Brownsville enfatizou que agem para garantir a dignidade que cada um merece, buscando atender às necessidades, pois "todos merecem viver uma vida digna". Este trabalho é realizado em colaboração com outras dioceses, pois é importante trabalhar juntos dentro da Igreja.

Roda de imprensa com Cardeal Czerny. (Foto: Reprodução | Vatican News)

O representante da Igreja Maronita, que está participando de seu quarto sínodo, destacou a novidade no método e conteúdo, na participação de todas as categorias da Igreja. Em um país com 5 milhões de habitantes, 2 milhões de sírios vivem em campos de refugiados em condições desumanas no Líbano. Ele denunciou a política de imigração da União Europeia e as duras condições que a comunidade internacional impõe a um país pobre, mas que deve ajudar os sírios com seus próprios recursos, o que provoca fortes reações por parte dos cidadãos locais. Ele classificou essa situação como uma tragédia humana e pediu uma resposta da comunidade internacional.

Por sua vez, o Arcebispo de Pretória destacou, em relação à Assembleia Sinodal, o trabalho em grupos menores e o fato de que em diferentes lugares "já existe um terreno fértil para a sinodalidade, já temos comunidades onde as pessoas participam de processos de tomada de decisão". Quanto à situação dos migrantes na África do Sul, onde a maioria dos 3,9 milhões de migrantes, de acordo com dados oficiais (embora se acredite que sejam muitos mais), chega fugindo da pobreza, a Igreja Católica ouve o clamor deles, embora esteja ciente de que é difícil ajudar a todos. A maioria desses migrantes são católicos, e a Igreja procura oferecer assistência pastoral e integrá-los na comunidade, sendo acompanhados por padres que falam sua língua.

Autoridade e sinodalidade

Em resposta às perguntas dos jornalistas, Monsenhor Flores afirmou que "o exercício da autoridade na Igreja deve estar enraizado em uma conversão do coração", dizendo que o que mais o preocupa é "como podemos abrir as portas para um novo estilo, como podemos nos tornar um povo no serviço mútuo enraizado em Jesus", insistindo que "ninguém fica excluído, a conversão do coração é fundamental".

Em opinião de Monsenhor Anton Dabula Mpako, "a sinodalidade deve coexistir com a estrutura hierárquica da Igreja", duas faces da mesma moeda para as quais é necessário buscar como trabalhar de forma conjunta e coral, destacou o prelado sul-africano. Para ele, "a sinodalidade tem um caráter único, ela envolve a Igreja de Pedro, e todos devemos caminhar juntos, em sinodalidade".

Nessa Igreja sinodal, "as estruturas hierárquicas da Igreja não têm nada a temer dos processos de escuta, é impossível que isso vá prejudicar a natureza hierárquica da Igreja", afirmou o Cardeal Czerny. Para o cardeal jesuíta, "a fé ativa e a esperança que brotam de uma escuta radical do sopro do Espírito nos ajudarão a entender como as estruturas funcionam e como podemos melhorá-las", destacando que um dos elementos que mais alegra a Sala Sinodal é que "não estamos apenas falando de sinodalidade, estamos vivenciando isso".

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